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Entrevista a Luís Montez, diretor da promotora Música no Coração. 26 de Junho de 2023, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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Luís Montez, dono e diretor da Música no Coração, trabalha na indústria da música há mais de 30 anos, onde se mantém como uma das principais figuras do panorama nacional

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Luís Montez, dono e diretor da Música no Coração, trabalha na indústria da música há mais de 30 anos, onde se mantém como uma das principais figuras do panorama nacional

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Luís Montez: "A Live Nation quer fazer em Portugal o início de todas as tours europeias"

O promotor português, dono da Música no Coração, antecipa esta época de festivais de verão e defende que a entrada da gigante corporação norte-americana no mercado nacional é uma "boa notícia".

A época de festivais de verão está prestes a intensificar-se ao longo das próximas semanas. A Música no Coração, uma das principais promotoras de eventos musicais em Portugal, tem a partir desta terça-feira, 27 de junho, o Jardins do Marquês — Oeiras Valley. Maria Bethânia, Joss Stone, Michael Bolton e Liniker são alguns dos principais nomes desta edição do festival.

Segue-se, a 30 de junho e 1 de julho, o Sumol Summer Fest, que este ano se muda para a Costa da Caparica com um recinto alargado. No cartaz figuram artistas diversos como Popcaan, ProfJam, Matuê, Aya Nakamura, Iann Dior, Children of Zeus ou o espetáculo especial “Guerrilla Girls”, dedicado às mulheres do rap português (o concerto de Wiz Khalifa, um dos cabeças de cartaz, foi entretanto cancelado). A promotora terá depois, em julho, o Super Bock Super Rock, que regressa ao Meco depois de no ano passado ter sido obrigado a mudar de recinto à última hora devido ao risco elevado de incêndio. Em agosto, como habitual, é a vez de o MEO Sudoeste voltar a acontecer na Zambujeira do Mar.

Luís Montez, dono e diretor da Música no Coração, trabalha na indústria da música há mais de 30 anos, onde se mantém como uma das principais figuras do panorama nacional. Mas há outro assunto importante na ordem do dia: em abril, chegou a notícia de que a Live Nation, empresa norte-americana líder mundial na área dos espetáculos, iria adquirir a promotora portuguesa Ritmos e Blues e uma participação significativa do Arena Atlântico, o consórcio que gere a Altice Arena, da qual Montez faz parte, assumindo assim o controlo da maior sala de espetáculos do país.

A Live Nation Entertainment, que já opera em Portugal há vários anos em parceria com promotoras locais — além de ser acionista maioritária do Rock in Rio desde 2019 — tinha mostrado interesse em adquirir o antigo Pavilhão Atlântico em 2012, quando a maior sala de espetáculos do país estava a ser vendida pelo estado português, em plena crise económica. A empresa norte-americana acabou por não avançar com uma proposta e o consórcio Arena Atlântico venceu o concurso. A Live Nation também é responsável por festivais como Leeds, Reading e o Download, ou as arenas O2, no Reino Unido; entre tantos outros espaços e eventos. Além disso, gere a carreira de artistas de renome mundial como os U2, Beyoncé, Madonna, Rihanna, Red Hot Chili Peppers, Post Malone ou Ed Sheeran.

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Em entrevista, Luís Montez faz a antevisão de mais uma época de festivais, expectativas e mudanças, mas explica também como é que este novo acordo aconteceu e como acredita que a entrada em cena de uma multinacional promete mudar o mundo dos espetáculos em Portugal.

Este ano o Super Bock Super Rock regressa à herdade do Cabeço da Flauta, perto da Aldeia do Meco, em Sesimbra

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Estamos no arraqnue de mais uma edição do Jardins do Marquês — Oeiras Valley e logo a seguir começa o Sumol Summer Fest. Em julho, o Super Bock Super Rock regressa ao Meco. E em agosto é a vez do MEO Sudoeste. Como é que perspetiva este ano de festivais para a Música no Coração?
Vai ser um ano como já não tínhamos há muito tempo, com muito trabalho. Só existem quatro fins de semana por mês e temos que aproveitá-los, e ao verão, para fazer espetáculos e festivais. O país tem condições climatéricas únicas para fazer espetáculos ao ar livre e, com isso, misturar com a experiência de estar com os amigos. Temos locais muito bonitos para isso.

Falando de locais, o Sumol Summer Fest tem uma grande novidade este ano, porque vai acontecer pela primeira vez na Costa da Caparica.
Sim, na Praia de São João, uma boa praia de surfistas.

Porquê a mudança para este local? É também uma questão de alargar o festival e cativar novos públicos?
Não, fizemos sempre, durante 12 anos, na Ericeira. Entretanto o parque de campismo foi desmantelado e tivemos de arranjar outro lugar — e este, de facto, é maravilhoso porque está em cima da praia e não incomoda ninguém. O som do palco vai para o oceano e fica a 15 minutos da ponte. Tem o aeroporto perto, hotéis… É uma boa localização e acho que vamos fazer história ali.

Sente que tem as condições para revitalizar de alguma forma o festival, no sentido de o tornar maior e fazê-lo crescer? Ou não existe propriamente esse objetivo?
Para o nosso portefólio de festivais, o Sumol Summer Fest é o primeiro — da época e para muitos dos nossos clientes. Aquilo é quase a recruta: quem se aguentar duas noites a acampar e se der bem já tem a recruta feita e pode ir ao Super Bock Super Rock ou ao MEO Sudoeste, que têm mais dias de campismo. Aquilo é uma iniciação aos festivais de verão. São apenas duas noites, se a coisa não correr bem também não é complicado [risos].

Portanto, a ideia passa por manter o conceito?
Começámos com o reggae como estilo principal, agora é o hip hop, não sei se não vamos passar para a música latina daqui a uns tempos, não sei… Sei que é um festival que mistura a música com a praia, o surf, skate, arte urbana e dança. São pilares deste festival que vão continuar.

Já o Super Bock Super Rock vai finalmente regressar ao Meco, depois de no ano passado ter sido obrigado a mudar-se repentinamente para Lisboa graças aos perigos de incêndio. Mas também vai acontecer numa localização diferente.
Sim, é a mesma herdade, mas com mais cuidados e bocas de incêndio, com todos os cuidados que são necessários.

"Como as coisas estão, acho que [aumentar os preços] não era justo. Apesar de os fornecedores estarem cada vez mais caros e termos também a concorrência da Jornada Mundial da Juventude... Tudo o que é casas de banho, contentores e estruturas de palco está a ser absorvido, portanto não é fácil."

Mas com algum reposicionamento de palcos e estruturas, certo?
Sim, fizemos algumas alterações, para dar mais conforto, para não haver interferências de som entre palcos, para que o público circule bem… É um festival feito com muito carinho e cuidado. Temos um apoio incrível da Câmara Municipal de Sesimbra, que nos ajuda muito e tem muito orgulho em receber o festival. E a Praia do Meco é única.

Tem um sabor especial poder voltar ao Meco, depois do ano passado?
Sim, aquilo foi uma epopeia que não quero voltar a experienciar. Foi muito duro, mas felizmente tenho uma grande equipa e parceiros que nos ajudaram. Agora temos tudo feito, temos vindo a fazer com tempo e a seguir todas as indicações da Proteção Civil, para ficar à prova de bala. E, sou suspeito, mas caprichámos muito no cartaz, que está incrível. No outro dia estava a ver o festival de jazz de Montreux, o concerto do Nile Rodgers, dos Chic, e os bilhetes mais baratos ficavam por 135€. Aqui, por 60€, tens o Nile Rodgers com os Chic, mas também The 1975, Wu-Tang Clan, Charlotte de Witte a fechar, o Sam The Kid com orquestra e Orelha Negra, o Benny Sings… Isto por 60€ é dado, não existe. São coisas que não valorizamos muito, mas de facto é uma oportunidade de, num sítio lindíssimo, ao pé da praia, com um bom clima e em segurança, desfrutar com preços tão baixos desta música toda de qualidade.

Continua a ser esse um dos grandes atrativos dos festivais? Porque, como sabemos, muitos concertos em nome próprio por parte dos artistas têm vindo a encarecer e os festivais conseguem juntar muitos músicos com preços ainda bastante competitivos.
Sim, conseguimos isto por causa dos patrocinadores, que permitem que o preço seja mais acessível.

Mas até houve um esforço da vossa parte para não aumentarem este ano os preços, certo?
Sim, porque, como as coisas estão, acho que não era justo. Apesar de os fornecedores estarem cada vez mais caros e termos também a concorrência da Jornada Mundial da Juventude… Tudo o que é casas de banho, contentores e estruturas de palco está a ser absorvido, portanto não é fácil. Mas, no caso do Super Bock Super Rock, somos clientes há 27 anos, temos alguns créditos nessa matéria, por isso conseguimos montar o festival. E a paz, o sossego, o espírito, o convívio… É único. Acredito muito nos festivais de verão em Portugal porque acho que os europeus trabalham no norte e vêm divertir-se ao sul. Temos que os receber bem, com qualidade, e temos bom som, bom vídeo, boa segurança. Temos uma boa oferta e por isso é que há cada vez mais estrangeiros.

E estava a referir que fizeram tudo ao vosso alcance para que o evento estivesse à prova de bala, até para prevenir qualquer situação como a do ano passado, é isso?
Sim, é certamente o sítio mais seguro de Portugal. Com tantos bombeiros, tantas viaturas, tanta GNR, tanta segurança privada, médicos, enfermeiros… Aquilo está muito seguro. Se não estiver lá o festival, vão para lá fazer piqueniques e isso, sim, é capaz de ser perigoso. Para os festivais pode haver problemas noutros sítios, mas ali estamos em cima.

"Não há equipas contra as outras, é tudo pela música e acho que é altamente positivo. Estamos ansiosos para que isto se concretize", diz Luís Montez

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Falando também do festival Jardins do Marquês, há alguém que gostasse de destacar no cartaz?
Bem, começamos logo esta terça-feira com o Michael Bolton, numa noite romântica que arranca com os The Lucky Duckies, que cantam Elvis Presley, Frank Sinatra ou Nat King Cole. Logo a seguir temos uma noite ibérica, que mistura o fado da Sara Correia com o show flamenco do Passion Show, os Ciganos D’Ouro e Acácia Maior. É muito forte. Depois, temos o espetáculo em que vou querer estar a ver na fila da frente, que foi montado para os 200 anos do Brasil e que reúne os nossos três tenores — o António Zambujo, o Camané e o Ricardo Ribeiro, que cantam muito —, acompanhados por uma grande orquestra, a cantar os grandes clássicos da música brasileira, do Tom Jobim, do Chico Buarque ou Caetano Veloso. Depois, na sexta-feira, temos uma noite completamente dedicada ao Brasil, com o Bala Baile Show, dos Bala Desejo. Trazem como convidados Dino D’Santiago, Mahmundi e o Tomás Wallenstein. E depois temos Liniker, Jovem Dionísio do “Acorda Pedrinho”, a Roberta Sá… No sábado, esgotadíssimo já há vários meses, teremos a Maria Bethânia. Com o Pierre Aderne, que tem um disco novo muito bom, Diana Castro e A Cor do Som, uma banda mítica do Brasil que fiz questão de convidar. No domingo temos uma noite mais familiar com Pink Martini, que tem uma orquestra com vários hits. Temos também a Picas, e o Olavo Bilac a cantar os grandes sucessos do José Cid.

E também são estes espetáculos personalizados e especiais que valorizam um festival como este?
Claro, e antes dos Pink Martini temos o stand-up comedy das Três da Manhã — a Joana Marques, a Ana Galvão e a Inês Lopes Gonçalves. E o Jardins do Marquês termina no dia 5 com Joss Stone. Aquilo vai estar cheio. Também com o Tiago Nacarato, Milhanas e The Black Mamba. Vamos ter ali blues, soul, bossa nova e jazz com a Joss Stone a encerrar.

Olhando para os festivais todos, este ano houve algumas exigências mais extravagantes por parte dos artistas?
Não… Já estamos habituados, não houve assim nada de extraordinário. Porque eles preocupam-se é em ter público e com o som e a luz e os ecrãs de vídeo, essa é a preocupação de muitos deles. Tentámos, na área do catering, não colocar sempre as mesmas coisas. Não podem beber o mesmo vinho todos os dias e tentámos variar um bocado. Todos vão ter cerejas, por exemplo…

Estava a comentar o facto de não terem aumentado o preço dos festivais, até por causa da situação económica do país. E no ano passado tinha dito numa declaração à Renascença que a inflação acabava por ser a nova pandemia, no sentido de ser um entrave em relação ao público ter acesso aos espetáculos de música. É esse o grande desafio este ano?
Sim, é um desafio, mas penso que as coisas estão a melhorar um bocadinho. O pessoal já está a acreditar que as coisas vão melhorar e que não vai ser assim tão mau como estávamos a recear. Agora, o desafio é ter fornecedores que cheguem para todos, que também se consiga que as condições climatéricas… que não haja para aí nenhuma trovoada. Mas faz parte dos espetáculos ao ar livre. E chover em julho e agosto será difícil.

"Custa-me muito haver plataformas na Internet que vendem bilhetes falsos e uma pessoa compra até mais caro e depois chega ao espaço e bate na trave, não entram porque é fraude. Mas fiquem descansados, os que estão preocupados, que a Ticketmaster não vem para cá."

Tem tudo para este ser o ano da retoma definitiva dos espetáculos ao vivo em Portugal?
Eu penso que sim. Isto faz parte da nossa vida, temos de desfrutar e celebrar a vida, com música e os amigos, são momentos únicos. Trabalhamos o ano inteiro e merecemos chegar ao verão, às férias… Sobretudo aqueles que estudam e têm exames, agora está a ficar tudo para trás e, logo que acabem, vai tudo festejar para os festivais.

Tem havido muitos artistas, populares e de grande dimensão, a escapar ao circuito dos festivais e a apostar em digressões grandes em nome próprio, de estádio, por exemplo. Como é que encara isso? É uma consequência natural da evolução da indústria da música e da vontade dos artistas?
Sim, hoje em dia os artistas vivem dos espetáculos ao vivo. E nestes grandes concertos de estádio, 90% do lucro vai para o artista. Portanto, eles não têm de partilhar com mais ninguém. Num festival não: é um cachet fixo.

Com limitações de tempo, e de produção, nalguns casos.
Sim, e para mim que gosto de festivais, eles concentram tudo naquela hora que têm para tocar os hits. Não se põem para ali a inventar e põem mesmo aquelas canções que o público, que comprou bilhete, quer ouvir. Para eles também é mais económico porque não têm de andar com a casa às costas — o som, a luz, com os camiões todos — e quando chegam ao local já têm tudo montado e não têm o custo dessa estrutura. Obviamente, para um artista chegar ao estádio tem de começar, se calhar, num palco secundário de um festival. Depois vai ao principal e só depois é que tem a audácia de se atirar para uma sala como a Altice Arena. Depois, se tudo correr bem, vai para o estádio. E lá podem demorar mais tempo no seu espetáculo, o cenário pode ser só para eles, é assim. Uma coisa é um concerto de uma só banda, para aqueles fãs que conhecem tudo, e depois há pessoas, como eu, que gostam de experimentar e ouvir um bocadinho de tudo, andar pelos vários palcos, ser surpreendido com bandas que não conhecia… É esse o encanto dos festivais.

Em geral, os preços dos eventos de música ao vivo têm vindo a aumentar nos últimos anos e, obviamente, a inflação e a pandemia também contribuíram para isso, até porque, como disse há pouco, os fornecedores também aumentaram os seus preços. Isso dificulta o acesso do português comum aos espetáculos ao vivo? É algo que o preocupa?
Não, acho que há público para tudo. Temos 10 milhões de habitantes. Os Rammstein encheram Estádio da Luz cheio. Há público para tudo e depende… Eu pagava o que fosse preciso para ouvir a Sade e não consegui ainda. Um festival é muito mais do que um concerto, é uma experiência. Adoro ser surpreendido com boa música.

A indústria tem mudado de uma forma que o tem surpreendido ao longo dos anos, tendo em conta a sua experiência nesta área? Ou nem por isso, têm sido alterações mais graduais e residuais?
Tem havido mudanças, não é? Já não se compram discos.

Há poucas semanas, a Live Nation, gigante dos espectáculos ao vivo e do management de artistas, comprou uma participação maioritária na Arena Atlântico, que gere a Altice Arena e a Blueticket

Paulo Spranger /Global Imagens

Claro, referia-me ao caso dos espetáculos.
Sim, hoje em dia com as redes digitais consegue ter-se noção do que é que um artista vale em Portugal — quantos portugueses ouvem esse artista, temos muita informação sobre ele. Por outro lado, temos formas de promoção que são mais económicas. Consigo impactar Londres mais facilmente do que antes. E como acredito muito que os estrangeiros venham a Portugal para os eventos, sobretudo aqui os nossos vizinhos espanhóis que estão mais próximos, temos boas autoestradas e boas praias e para muita gente pode ficar mais perto de Lisboa do que de Madrid ou Barcelona. Acredito que o caminho é por aqui.

O fenómeno já acontece, com muitos estrangeiros que vêm ver concertos a Portugal, mas sente que ainda existe um enorme potencial por explorar? Ainda há um grande público para conquistar lá fora?
Sim, e mesmo nós quando fazemos programação de um festival temos que piscar o olho. Para já, temos uma grande comunidade de brasileiros em Portugal e eu faço questão de incluir sempre brasileiros nos meus cartazes. Franceses também, porque já existe uma comunidade francesa muito grande. E, claro, a música latina: este ano tenho o Farruko e o Bizarrap no MEO Sudoeste, o que não é inocente. É para trazer malta ali de Sevilha, que já é fã do festival e temos também de colocar um bocadinho [destes nomes] para os atrair.

Mudando de assunto, em abril foi noticiado que a Live Nation adquiriu a promotora portuguesa Ritmos e Blues e uma participação na Arena Atlântico, consórcio que gere a Altice Arena e a MEO Blueticket, e do qual faz parte. O que é que isto vai significar para os espetáculos em Portugal e para o público português?
Vai ser muito bom. Eles querem que Lisboa seja o início de todas as tours europeias. E ficaram encantados com a Ponte Vasco da Gama porque logo a seguir os camiões vão para Madrid. Portanto, vai haver muito mais espetáculos. E não é só na Altice Arena — vai ser também no Campo Pequeno, no Coliseu, no Capitólio, na Super Bock Arena — Pavilhão Rosa Mota… Porque eles não trabalham só com artistas que enchem estádios e arenas. Portanto, vão criar cá uma estrutura para que Lisboa e o Porto funcionem como o ensaio geral de uma digressão europeia. Os artistas vão ficar em hotéis que, comparado com o resto da Europa, são mais económicos. E conhecem aqui as empresas de som, luz, vídeo, os técnicos, o catering, que vai daqui até à Dinamarca, passando por Espanha, França, Alemanha e por aí fora. Tudo começa aqui. Vai dar trabalho a muitas empresas portuguesas desta área. É este o plano: fazer em Portugal o início de todas as tours. Imaginemos um artista americano que vem para aqui. Escusa de trazer técnicos e equipamento da América, porque aqui também há. Depois é seguir por aí fora até ao resto da Europa. Isto é uma questão geográfica. Vai dar trabalho a muitas salas, muita gente, muitos hotéis e trazer muitos turistas — sobretudo os espanhóis. Acho que é uma grande oportunidade. Ainda por cima a gestão continua a ser portuguesa, tudo igual. Vamos é ter mais artistas nas várias salas.

"Gosto muito do MEO Sudoeste e queria que ele fosse maior, uma referência na Europa — tal como o Coachella é nos Estados Unidos. Acho que temos condições para fazer um evento maior e melhor."

E o benefício para o público será sobretudo esse?
É ter mais escolha. Não é preciso ir ao estrangeiro para ver artistas, porque eles vêm cá.

Nos Estados Unidos tem havido um debate sobre o facto de a Live Nation ter quase um monopólio da indústria da música ao vivo, até por ser dona da Ticketmaster, que é uma das maiores empresas de vendas de bilhetes no mundo. Para si, é uma questão preocupante, nesse sentido?
Eles não têm interesse em ter cá a Ticketmaster, porque a Arena já tem a MEO Blueticket. Não faz sentido arranjar uma empresa para concorrer com a empresa que também é deles, não é? Aqui há várias empresas de ticketing e os promotores escolhem aquelas que lhes oferecem melhores condições. E a Ticketmaster não tem planos de vir para Portugal.

E o modelo de venda de bilhetes vai manter-se? No caso da Ticketmaster, nos EUA, existe uma venda dinâmica de ingressos: quando existe maior procura, os preços sobem. Por cá, não está pensado…
Para já, não há essa ideia. Obviamente eles têm de vender bilhetes, ter o merchandise e a restauração dos espaços, isso é que… Eles estão em mercados muito mais competitivos do que o nosso, aqui não é por aí, não vêm para cá por causa disso. Porque existem empresas de bilhetes cá que já fazem bem o seu trabalho.

Mas agrada-lhe este modelo de venda de bilhetes ou preferia mantê-lo como ele existe, em Portugal?
Não sou especialista na matéria, quero é que haja possibilidade de adquirir bilhetes. Custa-me muito haver plataformas na Internet que vendem bilhetes falsos e uma pessoa compra até mais caro e depois chega ao espaço e bate na trave, não entram porque é fraude. Isso preocupa-me mais. Mas fiquem descansados, os que estão preocupados, que a Ticketmaster não vem para cá.

Qual foi o valor da compra da participação da Arena Atlântico, por parte da Live Nation?
Isso não posso dizer porque é confidencial, segundo o contrato, mas eles valorizaram muito.

Já existia um interesse sabido da Live Nation na Altice Arena há mais de 10 anos.
Sim, eles só não concorreram à privatização [do outrora Pavilhão Atlântico, em 2012] porque os estatutos da Live Nation proíbem-na de investir em países com o rating de lixo, que na altura tínhamos. Felizmente, neste caso [risos]. Porque, se não, eles tinham entrado e tinham conseguido, porque foi um concurso internacional. Acreditámos muito na nossa equipa e conseguimos. Vamos todos manter-nos, eu vou manter os mesmos 30% que tinha de quando foi a privatização, mas vamos ter muito mais espetáculos e isso é bom para o público e para o setor que trabalha à volta disto, para a Sociedade Portuguesa de Autores, vai andar tudo envolvido e é uma oportunidade. Somos um país que vive muito do turismo e trazer eventos de música… Não há equipas contra as outras, é tudo pela música e acho que é altamente positivo. Estamos ansiosos para que isto se concretize.

Sobre o MEO Sudoeste: "É uma questão de comunicação e melhorar os acessos. É a evolução do país, mas acho que vamos lá chegar, tenho esse sonho"

TIAGO CANHOTO/LUSA

Que objetivos é que ainda tem por concretizar na indústria da música, que ainda não conseguiu por alguma razão?
Gosto muito do MEO Sudoeste e queria que ele fosse maior, uma referência na Europa — tal como o Coachella é nos Estados Unidos. Acho que temos condições para fazer um evento maior e melhor. Temos praias lindíssimas na Costa Vicentina, uma comida maravilhosa, e preços muito em conta. Portanto, é uma questão de comunicação e melhorar os acessos. É a evolução do país, mas acho que vamos lá chegar, tenho esse sonho.

Existe alguma área de negócio na indústria da música que ainda não tenha explorado mas que também gostaria? Ou sente-se realizado com as áreas em que opera, como os festivais, os espetáculos, a Altice Arena, a venda de bilhetes e as rádios?
A rádio é uma paixão. Que também me ajuda não só a promover os festivais e os espetáculos, como, ainda mais importante, me dá informação. Todos os animadores da rádio vêm sugerir-me artistas. Porque é impossível eu ouvir tudo o que sai todas as semanas no planeta. Portanto, ter consultores credíveis que sabem muito de música e me ajudam a construir os melhores cartazes que conseguimos… De resto, estou satisfeito e também quero descansar, porque isto não pode ser só trabalhar, não é? Quero desfrutar e adoro viajar, conhecer outros festivais e ter ideias. Por exemplo, faço o Santa Casa Alfama, um festival de fado, cuja ideia fui buscar ao South by Southwest em Austin; ou o Super Bock em Stock, onde uma pessoa percorre várias salas. É muito importante viajar para aprender e tentar adaptar à nossa realidade.

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