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© Hugo Amaral/Observador

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Manhãs da Comercial, numa sala em casa de amigos

Humor, canções, dicas de cozinha, moços de recados e dias especiais. Há textos preparados quase no momento, pouco café e conversas sobre o dia-a-dia. "O que cada um diz é freestyle", diz Vanda Miranda

“Ainda tenho a voz a dormir!”, diz Vanda Miranda depois de um primeiro bom dia arranhado aos ouvintes. Entrou no estúdio uns minutos depois das 7h. Pedro Ribeiro e Paulo Rico já lá estavam. O primeiro é o diretor da Rádio Comercial e é quem coordena toda a emissão da manhã. Lança as músicas, lança as rubricas e gere os tempos dos outros animadores. Paulo Rico é o jornalista responsável pelos blocos de notícias — uma marca das manhãs que ainda se mantém. As previsões do tempo ficam para os animadores.

A equipa ainda está a metade, mas nem por isso está a meio-gás. Pedro Ribeiro consulta os sites de informação no computador e vê as notícias do dia. Ao centro da mesa estão também os principais jornais de quarta-feira. Se é verdade que a atualidade é matéria fértil para o humor, Vasco Palmeirim tem aproveitado a máxima.

A polémica licenciatura de Miguel Relvas, a demissão e reviravolta de Paulo Portas, a detenção de José Sócrates e a mais recente Bola de Ouro de Ronaldo transformaram-se em melodias escritas por Vasco, cantadas por toda a equipa, transmitidas para os ouvintes, colocadas no site da rádio, no Youtube, e ainda chegaram ao palco do Meo Arena em dezembro de 2014 e de 2013, com o espetáculo Xmas in The Night a encher a sala nos dois anos.

A rádio em várias plataformas é sinal dos tempos. Pedro Ribeiro explica. “A rádio mudou tanto que já não se pode dar ao luxo de não ter imagem ou de estar fechada numa caixinha. O contacto direto com as pessoas é o feed-back mais importante, até para perceber o impacto que a rádio tem junto delas”.

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Vanda Miranda e Vasco Palmeirim © Hugo Amaral/Observador

O “impacto” da Comercial junto das pessoas pode ser medido através das audiências, e essas têm sido favoráveis à estação que pertence ao grupo Media Capital, o mesmo que detém a TVI. Em grande parte, o sucesso está nas manhãs.

Segundo o último estudo Bareme Rádio da Marktest, de dezembro de 2014, a Comercial era a estação com mais audiência. Obteve 22,7% de share de audiência, 16,3% de audiência acumulada de véspera e um reach semanal de 31,8%. A RFM, do Grupo r/com, conseguiu superar a Comercial no que respeita ao reach semanal, em comparação com a análise de setembro de 2014. Atingiu 22,3% de share de audiência, 15,5% de audiência acumulada de véspera e 32,4% de reach semanal. A Rádio Renascença estava em terceiro lugar com 8% de share de audiência, 6,3% de audiência acumulada de véspera e 15,4% de reach semanal.

"O facto de haver uma boa química faz toda a diferença. É como nos casamentos", diz Vanda Miranda.

Pedro Ribeiro diz que começou a traçar-se um caminho diferente nas manhãs da Comercial em 2009, ano em que a administração da Media Capital Rádios mudou. Foi também em 2009 que Nuno, Vanda, Vasco e Pedro se juntaram. O diretor fala da nova estratégia que se ergueu para o produto, fala do humor, mas fala também da “música certa, do tom certo, do marketing como deve ser” que foi introduzido a partir dessa data.

A liderança chegou no segundo trimestre de 2012 e foi subindo pequenos degraus. Foi precisamente nesse ano que Ricardo Araújo Pereira se estreou nas manhãs com a Mixórdia de Temáticas. Nuno Markl chama-lhe “enciclopédia sobre a vida”. Depois das séries Ribeiro e Miranda, a Mixórdia inaugurou a terceira série, Lobato, a 12 de janeiro.

"Nós estivemos tantos anos a perder que não nos damos ao luxo de nos acomodarmos ou de repetirmos velhas fórmulas só porque elas resultaram uma vez", explica Pedro Ribeiro.

Ricardo chega ao estúdio por volta das 8h, senta-se, abre o computador, ultima alguns pormenores do texto do dia e envia-o no último minuto antes de estar no ar para os mails dos animadores. Os colegas nunca veem o texto antes — até para salvaguardar a espontaneidade e as gargalhadas que fazem parte das interpretações. É a surpresa que provoca o riso, diz Ricardo.

7 fotos

“Hoje é dia de organizar a casa. Ligue para cá e conte-nos qual é a tarefa doméstica que mais gosta e aquela que não gosta nada de fazer”. Daí a poucos minutos, chegam telefonemas de vários ouvintes a partilhar as lides domésticas.

A primeira rubrica da manhã é de Vanda Miranda. Cerca de 15 minutos antes das 8h, Vanda tem a missão de definir o mote de cada dia. Inspira-se nos dias que se vão celebrando pelo mundo, “os dias internacionais e os dias oficiais”. Muitos são fruto da sua imaginação, como o dia de medir o pé ou o dia das pessoas com apelido de árvore. “Aí ligam os Macieiras, os Pereiras, os Carvalhos”, conta.

O “dia de” existe desde 2011. Com tantos dias que já passaram, Vanda já fez uma “vasta agenda” com tudo registado. A voz da experiência diz que “os dias mais simples são aqueles que têm maior participação do público” porque, no fundo, “as pessoas gostam de falar de coisas do dia-a-dia”, conclui.

Às 7h55, Vasco e Vanda saem do estúdio e seguem pelo corredor do edifício da Média Capital Rádios, onde também estão a M80 e a Cidade FM. Num passo apressado, porque em rádio os segundos são de ouro, seguem até ao ponto de chegada — a máquina de café. Bebem só um nas quatro horas de emissão. E chega. Porque a energia do programa não deixa ninguém dormir.

Nuno Markl é o último a chegar ao estúdio e é dono da rubrica mais antiga. O Homem Que Mordeu o Cão nasceu num ano de mudanças na Comercial — 1997, ano em que a rádio deixou de pertencer ao grupo do Correio da Manhã e passou para a Media Capital. Já são 14 anos da rubrica radiofónica, dois livros (um em 2002, outro em 2003) com o mesmo nome e uma digressão pelo país em 2003, na altura, com Pedro Ribeiro e Maria de Vasconcelos.

“Faço a recolha das histórias na véspera e fico a maturar nelas pela noite fora. Acho que durmo a pensar nas notícias que recolho”, conta Nuno. O pequeno-almoço na Croissanteria Martins, vizinha da rádio, dá o toque final à imaginação nos textos. São 9h34 e Nuno está a terminar de escrever a segunda edição d’O Homem que Mordeu o Cão de quarta-feira, que será às 9h50. Sem pressão. A experiência do ofício está lá. E todos os dias há matéria. Há sempre um estudo, um caso insólito, uma invenção bizarra.

Num dos períodos de pausa para música, porque as manhãs da Comercial não são apenas feitas de rubricas de humor, dias especiais e telefonemas dos ouvintes, testámos os conhecimentos do elenco sobre a história da emissão. Eis o resultado.

Parte I

Parte II

chef de cozinha José Avillez é o ingrediente mais recente nesta equipa. Chegou em novembro de 2014 para dar dicas de cozinha e responder a dúvidas. “Já me pediram uma receita de um space cake. Eu não pude dar, até porque não sei”, conta. Gargalhadas na sala.

Mas há mais. A rubrica mais recente chama-se “moços de recados”. Muito simples: os ouvintes enviam e-mails para deixar recados. Desde “listas de compras, a coisas muito íntimas das pessoas que nós não percebemos”. Só não gostam do típico “queria só dizer à minha namorada que a amo”. Preferem um “Maria, não te esqueças de comprar papel higiénico logo à noite”, exemplifica Markl. “Como um post-it que podiam ter deixado em casa”.

É quase em “casa” que a equipa está reunida. A notícia da terceira Bola de Ouro de Cristiano Ronaldo alimenta as quatro horas. Começa em Pedro Ribeiro, que aproveita os momentos em que o microfone está desligado para espreitar o documentário da Sport TV. Vanda chega e aproxima-se do computador de Pedro. Vasco chega e faz o mesmo. Ricardo Araújo Pereira, idem.

Todos elogiam a capacidade de trabalho do jogador português. O estúdio das manhãs parece transformar-se, por momentos, numa sala de amigos. Fazem comentários descontraídos, partilham opiniões, conversam sobre pormenores das suas vidas, coisas que aconteceram, vídeos que viram. Riem em conjunto. De um segundo em conversa geral em off, passam para o on air com os microfones ligados. Dão seguimento à emissão quase sem se notar. O sentimento de proximidade não fica só naquela sala mas chega às casas, aos carros e aos locais de trabalho de todo o país.

No fim de cada dia, que termina às 11h da manhã, há uma reunião para preparar o dia seguinte. Em cerca de 10 minutos preparam os temas, preparam as histórias, prepara-se um programa. Mas “pode acontecer que o programa de amanhã não seja nada do que se pensou”, explica Vasco Palmeirim. E isso não é preocupante. Confiam na espontaneidade. “O que cada um diz é freestyle”, completa Vanda. E é nesta corrida que querem continuar a ganhar.

Nota: este texto foi atualizado com os dados do último estudo da Marktest correspondente a dezembro de 2014.

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