As luzes do Caramulo esmoreciam depressa no retrovisor à medida que a bruma envolvia a serra, ao cair da noite. No filme do dia, muitos instantes preciosos permaneciam como flashes de uma jornada repleta de emoções e muitas histórias de vida. Das gerações que fizeram as Termas do Luso, aos monges que fundaram a mística Mata do Buçaco, culminando no fascínio das coleções do Museu do Caramulo, onde ficámos rendidos às obras de arte e aos cromados da história automóvel.
Com os aromas da gasolina agarrados ao nariz, partimos com destino ao Porto onde o jantar nos aguardava. Na escuridão da serra, o trânsito na estrada nacional 333, por onde seguimos até à A25, permitiu-nos avaliar o conforto do Assistente de Máximos que deteta os veículos em sentido contrário e à nossa frente, alternando entre médios e máximos para evitar encandeamentos.
Rumo à Cidade Invicta, aproveitámos a viagem na autoestrada para avaliar a funcionalidade de mais alguns para avaliar a funcionalidade de mais alguns sistemas de segurança e assistência à condução. O primeiro a manifestar-se foi o Assistente de Faixa de Rodagem que nos alerta quando cruzamos os limites, corrigindo automaticamente a trajetória.
O Reconhecimento de Sinais de Trânsito é outra benesse para aquelas situações em que, mesmo na autoestrada, os limites de velocidade são reduzidos em alguns troços. A câmara frontal identifica estes valores e outros sinais de aviso exibindo-os no ecrã de 3,5” do computador de bordo, ao centro no painel de instrumentos.
Ao fim de muitas horas de trabalho, ou de condução, o cansaço pode provocar atrasos no tempo de reação dos condutores. É por isso que as recomendações apontam para a necessidade de fazer pausas a cada duas horas de viagem. Com o intuito de aumentar a segurança rodoviária, a industria tem vindo a desenvolver tecnologias como o Cruise Control Adaptativo, que neste caso controla mesmo a velocidade, não se limitando apenas a estabilizá-la.
O dispositivo atua sempre que a distância, para o carro da frente, diminui. Analisa o intervalo e aumenta, ou reduz, a velocidade à medida que o trânsito flui, mantendo a margem mínima de segurança. A velocidade pode ser definida até 201 km/h, valor que apenas deve ser aplicado na Alemanha, nos troços da Bundesautobahn (autoestrada alemã) onde ainda não exista o limite, cada vez mais frequente, de 130km/h.
A mesma plataforma tecnológica alberga ainda o Sistema de Proteção dos Peões, que aciona a travagem de emergência, imobilizando o Ateca quando o condutor não reage. Por enquanto este pacote de segurança ativa apenas está disponível nas versões do SEAT Ateca equipadas com caixa automática DSG.
“Em cada regresso a casa”
Tinha passado pouco mais de uma hora quando atravessámos o Douro, com vagar para ler a paisagem iluminada desde a Ribeira até à Foz. A caminho do hotel chegámos à Praça da Batalha, já engalanada para o Natal, tal como o resto da cidade histórica que iríamos explorar no dia seguinte.
Ainda não eram 10 horas quando o primeiro cimbalino do dia aterrou na nossa mesa para aquecer a manhã fria na marginal de Gaia, ali ao pé das caves do Vinho do Porto. O Laranja Samoa do nosso Ateca continuava a dar nas vistas e, desta vez, um grupo de holandeses resolveu tirar selfies com o SUV, estacionado junto ao teleférico.
Fomos até à margem, onde temos a melhor perspetiva da Ponte D. Luis e do puzzle de janelas coloridas em Miragaia, cenário de filmes e de milhões de fotografias. A valsa dos barcos rabelos que cruzam o rio, governados pela espadela que apenas consegue fintar a corrente com a ajuda do motor, enche-nos a alma de navegantes.
À procura de um postal naquele ângulo, um casal de turistas aproximou-se para registar o momento. Kim Hyun Woo é fotógrafo, Joung Su Hyun é assistente de bordo da Asiana Airlines. O casal sul-coreano, residente em Seoul, veio passar uma semana, repartida entre Lisboa e o Porto. “É uma cidade tranquila e pequena” disse Joung, com uma Leica ao pescoço, enquanto Kim assumiu que lhe interessam “sempre mais as pessoas reais e genuínas dos lugares, não tanto as atrações turísticas.”
Revelaram-se apaixonados por viagens e disseram-nos que têm “a facilidade de conhecer muitos países e Portugal surgiu como uma hipótese interessante para umas curtas férias.” Mais uma fotografia e, antes do adeus, a assistente de bordo acrescentou que aquele cenário “faz lembrar Veneza, talvez por causa dos barcos que parecem gôndolas”.
Com a GoPro instalada, atravessámos a ponte D. Luis e fomos até ao Cais da Ribeira, de onde partimos para fazer o percurso marginal ao Douro. A Alfândega, o emblemático troço do Cais das Pedras, sobre as águas, e mais à frente, o Museu do Carro Elétrico.
Um SUV de parar o trânsito, um Elétrico e Pokémones
A seguir à Alameda Basílio Teles, a marginal chama-se adequadamente Rua do Ouro, estendendo-se até ao Largo António Calém, já a caminho da Foz. No regresso, um elétrico vai serpenteando sobre carris à nossa esquerda. Do lado do rio, dezenas de canas de pesca instaladas no muro perfilam-se na paisagem, apontadas ao céu. Junto a elas, pouco depois dos pilares da Ponte da Arrábida, o grupo de pescadores está animado para mais uma patuscada.
Todos os anos, por esta altura, reúnem a equipa num almoço-convívio. Organizam um passeio de autocarro até à zona de Vila Verde. “Vamos comer o verdadeiro pica-no-chão, daquele que anda lá a esgravatar” explica o organizador e porta-voz do grupo, Jota Pimenta. Nas mãos traz um maço de cartões com os dados de inscrição dos “Pokémones da Pesca. Éramos 21 no ano passado, este ano já tenho aqui 24”, conta o pescador enquanto desfia a lista.
Com 72 anos de idade, natural “da serra mais bonita de Portugal”, Jota Pimenta foi encarregado de construção civil e trabalhou muitos anos na Alemanha. Agora dedica-se à pesca quase todos os dias, “robalos, solhas, linguados, douradas mais raramente, e enguias.”
Diz que “o Porto mudou muito, antigamente isto era escuro e sisudo, há 50 anos nem luzes havia”. O investimento na economia criativa e no turismo, em particular, tem produzido resultados na transformação da cidade que hoje é um dos destinos turísticos mais procurados na Europa. “Já estamos à frente da capital”, avisa o geresino, “sou anti-Lisboa” a tal ponto que nos recomendou uma francesinha devidamente acompanhada por “uma caneca de cerveja de Leça!”
Antes de arrancarmos, o líder dos Pokémones da Pesca contou-nos que já teve 37 carros e apenas perdeu um por acidente “há três anos, sem ser culpado.” Quando pedimos opinião sobre o novo SUV da SEAT, foi rápido a lançar: “escusa de fazer publicidade que eu fico já com ele.”
Ainda houve tempo para nos mostrar o oxigenador que concebeu para manter o camarão vivo, dentro de um balde, enquanto continuam a pescaria. O protótipo utiliza um pequeno motor elétrico, alimentado por um painel solar portátil, mas tem ligação USB para ser alimentado pelo computador ou por um battery pack.
O espírito inventivo do pescador remete-nos para outra comodidade excecional. Numa época em que ficar sem bateria não é opção, a marca desenvolveu uma base de carregamento por indução, em smartphones compatíveis, a que juntou duas portas USB e uma entrada jack 3,5 mm ao lado da tomada de 12V. Convenientemente acessíveis na consola central, formam um prático engodo para atrair condutores e famílias que podem esquecer os carregadores.
Da Torre do Relógio ao Castelo dos Livros
A tarde começou com as passagens pelas zonas de São Bento e Santa Catarina, Aliados e Jardim da Cordoaria com paragem na Torre dos Clérigos. Um dos ícones da cidade, exemplar de arquitetura barroca do século XVIII, com assinatura de Nicolau Nasoni, autor de várias obras no norte do país e, em particular, no Porto.
Concluída entre 1757 e 1763, a torre de 75 metros de altura era o edifício mais alto do país naquela época, com seis pisos até ao topo, onde chegamos depois de subir 240 degraus. O projeto inicial do arquiteto italiano para a sede da Irmandade dos Clérigos previa a construção de uma igreja com duas torres gémeas, mas apenas uma viria a ser edificada no topo da nave principal.
As obras começaram em 1732 e prolongaram-se ao longo de cerca de 30 anos, uma dimensão temporal difícil de conceber nestes dias frenéticos. O mesmo acontece com a importância das funções públicas da torre, onde era colocada uma bandeira para avisar os comerciantes quando os paquetes se aproximavam, sendo também um ponto conspícuo para a navegação e, durante anos, o relógio da cidade.
Ali perto, no semáforo da Rua das Carmelitas, em frente à porta de outro ex-libris, vemos crescer a fila para visitar a Livraria Lello. Em média entram ali, diariamente, três mil pessoas que agora compram mais livros do que antes. Desde que implementaram o sistema de vouchers, chegam a vender 5000 livros numa semana. Antes vendiam 1500.
É o efeito replicador do voucher uma vez que o visitante “paga 3 euros pela entrada e, se quiser comprar um livro, esse valor é descontado” explica Matilde Lindberg, coordenadora do Departamento de Turismo, que realça o sucesso da medida.
Além da compra no local, é possível adquirir o voucher online, que permite agendar a hora da visita, evitando filas de espera. Antes da implementação deste sistema chegavam a receber quatro mil pessoas por dia. Mas esta livraria histórica, justamente percecionada como museu, precisava de recuperar a sua função original numa altura em que “apesar do grande movimento de pessoas, a maior parte não comprava livros, só queriam tirar fotografias.”
Em julho deste ano foi concluído o restauro da fachada e da cobertura onde impera o magnífico vitral, pela primeira vez intervencionado, para recuperar detalhes e fazer uma limpeza profunda que hoje nos devolve a luminosidade original. Formado por 55 painéis de vidro, onde podemos apreciar a divisa Decus in Labore (Dignidade No Trabalho) gravada no logótipo da Lello, esta é uma criação do professor e arquiteto neerlandês Gerardus van Krieken, que chegou a Portugal por volta de 1889. Foi autor de vários projetos, destacando-se a ampliação da Faculdade de Medicina do Porto e o grandioso projeto da Basílica do Santuário de Fátima.
Ao longo do tempo, a livraria teve várias intervenções, mas “não havia grande preocupação com a conservação da fachada e ela foi sendo pintada com diferentes tons de ocre, retirando ou disfarçando algumas figuras, afastando-se das cores originais” constata a responsável pelas visitas guiadas.
Durante três meses, sempre com a porta aberta, foram retiradas 12 camadas de tinta. Pesquisas em arquivos históricos e análises da composição química das tintas, tudo foi feito para encontrar os tons corretos. “Muito pouca gente na cidade, a não ser que sejam muito mais velhos, terá conhecido a fachada original nestes tons” presume a especialista.
Brevemente irão começar as obras de restauro do interior, onde os armários envidraçados e os bustos de escritores portugueses perdem protagonismo perante a majestosa escadaria carmim. Matilde esclarece que “os tetos trabalhados e a decoração à volta da escadaria são feitos em gesso pintado, usando a técnica trompe-l’oeil, muito utilizada naquele tempo para recriar outros materiais, neste caso a madeira.”
A história desta livraria começa em 1869, quando Ernest Chardron, caixeiro na Livraria Moré, ganhou a lotaria que lhe haveria de mudar o destino. Aos 29 anos estabeleceu-se por conta própria com a Livraria Internacional, à Rua dos Clérigos, e tornou-se um influente editor, tendo publicado as primeiras edições de Camilo Castelo Branco.
Em 1885, a morte prematura aos 45 anos conduz o espólio de Chardron para outro editor gaulês que abriu a livraria Lugan & Genelioux. Nove anos depois, Mathieu Lugan viria a vendê-la a José Pinto de Sousa Lello que já se dedicava ao comércio e edição de livros, no estabelecimento da Rua do Almada, desde 1881. Apoiado pelo irmão, António Lello, enriqueceu ainda mais o catálogo da editora e comprou vários fundos bibliográficos.
Com o negócio a florescer e uma grande paixão pela cultura, os irmãos decidiram fazer “um santuário, um templo das letras, por isso recorreram aos melhores técnicos e artesãos, exigindo também os melhores materiais” prossegue a guia. Quem projetou o novo edifício, construído em apenas dois anos, foi o Eng.º Xavier Esteves, um dos primeiros a usar cimento armado em Portugal, à época um material extremamente inovador. Na fachada de inspiração neogótica figuram as representações da “Arte” e da “Ciência”, obra do professor José Bielman, ladeando as janelas que encimam a grafia “Lello & Irmão”. Também lá continua o nome de Chardron, por cima da porta.
Mais de 110 anos depois da inauguração, ao fundo da livraria e longe da vista, encontrámos o mais recente mistério da Lello. São vários bilhetes de lotaria dos anos 1930/40 escondidos por baixo de uma prateleira. “Muito poucos sabem da sua existência, foram descobertos por acaso. Durante umas limpezas sentimos papéis colados na madeira e quando espreitámos tínhamos mais um enigma” conta Matilde com enlevo. Terá sido um empregado supersticioso, inspirado pela sorte grande de Ernest Chardron? Ou, quem sabe, um cliente assíduo?
À prova de superstições, a inauguração da Livraria Lello teve lugar a 13 de janeiro de 1906. Guerra Junqueiro foi o primeiro a assinar o “Livro D’Ouro”, em couro trabalhado e com inscrições a folha dourada, onde constam as assinaturas dos ilustres convidados.
A tradição manteve-se no tempo, registando a presença de presidentes, monarcas, personalidades da vida política, da ciência e da cultura. “O ator John Noble esteve aqui há cerca de um ano. O Harrison Ford e a Calista Flockhart foram os últimos a assinar o livro. A Sara Sampaio esteve cá há pouco tempo” recorda Matilde Lindberg.
Considerada um ícone da cidade e da nação, a Livraria Lello tem somado as melhores referências em publicações como a Time, o The Guardian ou os guias da Lonely Planet. Em 2014, a CNN apresentou-a como a livraria mais bonita do mundo. Não admira portanto que os turistas estrangeiros continuem a representar a maior fatia do público. E procuram, cada vez mais, os autores portugueses traduzidos nas suas línguas. “Os espanhóis pedem muito as obras de António Lobo Antunes”, afirmou a responsável.
Quando aqui chegou, Matilde Lindberg encontrou uma cidade “escura e com prédios a cair, que hoje está reabilitada e muito mais bonita, com cada vez mais turistas.” Nós também começámos a sentir os efeitos do turismo, há mais pessoas nas ruas e filas por mesas nos restaurantes. Sobretudo nos mais pitorescos como o rústico “Golfinho”, onde o molho da francesinha tem receita secreta.
Nos momentos de lazer, Matilde confessa que adora um bom tinto na “Taberna do Largo” e recomenda “uma das melhores vistas do Porto, o melhor sunset, é no miradouro do Passeio das Virtudes.” Literalmente miradouro, acrescentamos nós.
No aconchego das páginas, nem demos conta da chuva forte que caía na rua. Despedimo-nos da Livraria Lello e rumámos ao hotel. Era tempo de desligar e guardar a vontade para os dias seguintes com o SEAT Ateca 4Drive.