“O que era para velhos, agora é cool” foi uma das expressões mais usadas na última conversa que o Observador realizou a propósito da série “A Moda Desconstruída” em parceria com o Freeport Lisboa Fashion Outlet e o Vila do Conde Porto Fashion Outlet que, nos últimos meses, tem vindo a juntar alguns convidados para debater a forma como a moda tem impacto na nossa expressão social. No término deste projeto, enchemos o auditório do Observador para falar sobre esta geração de homens que está a mudar os cânones atuais, a repescar muitas tradições antigas, como a alfaiataria, e a quebrar preconceitos, como o da beleza masculina.
E os nossos convidados fecharam com graça e (muito) estilo esta série de talks. O alfaiate Paulo Battista, o ator Ricardo Carriço, a apresentadora e fashion expert Mariama Barbosa e o maquilhador Bruno Vicente, juntaram-se à consultora de moda do Freeport Lisboa Fashion Outlet e Vila do Conde Porto Fashion Outlet, Vera Deus, para falar sobre estilo masculino, evolução, moda e sustentabilidade.
Estilo: futilidade ou identidade?
Se pensarmos no que significa ter estilo ou nas pessoas que, no nosso crescimento, tiveram impacto em nós (um ator, um cantor, um amigo, o rapaz mais popular da escola), a sua influência não estava meramente centrada na forma como ele se vestia. Era toda a sua postura, a sua forma de ser e como se exprimia no mundo. “As pessoas focam-se muito no exterior e esquecem-se do interior. As pessoas que têm mais estilo são aquelas que saem da sua zona de conforto, que recebem cultura e informação, que são curiosas, que viajam. Isto constrói a sua identidade e isso vai refletir-se no seu estilo”, partilhou Ricardo Carriço, contrariando a ideia que muita gente tem de que o estilo é reflexo de futilidade. “Receber informação do mundo e trazê-la para dentro de nós ajuda a construir a nossa identidade. E isso vai refletir-se obrigatoriamente na forma como nos vestimos.”
E a roupa tem muito impacto na forma como nos exprimimos. Não serve apenas para nos aquecer e deixar confortáveis – responde, sim, a códigos sociais que vão mudando de geração em geração. Tudo na vida é cíclico e a moda é a melhor prova disso. A alfaiataria era para velhos, agora é cool. Paulo Battista partilhou um pouco da sua história e de quando foi aprender esta profissão em estado terminal: “Quando decidi aprender alfaiataria, todos os amigos gozaram comigo. Ninguém queria ser alfaiate e eu fui o último aluno de uma academia onde aquele professor não dava aulas há 20 anos. Houve muitas profissões que caíram em desuso e houve um desleixo geracional. Antigamente, os homens tinham mais cuidados, ia-se ao barbeiro todas as manhãs antes de se ir trabalhar, ao sábado ia-se ao alfaiate e cuidava-se dos sapatos. E entretanto apareceram os ténis…” Mas, entre brincadeiras, Paulo também reforçou que a necessidade da geração de hoje criou os novos alfaiates e voltou a procura por este trabalho manual e artesanal.
Mariama Barbosa não culpa o desleixo porque tudo isto é o reflexo da evolução. “Veio o prêt-à-porter (pronto a vestir) e a roupa em massa. Deixou de haver necessidade de fazer um fato ao domingo.” E o consenso geral é que parece que saltámos uma geração. As coisas dos tempos dos nossos avós voltaram a ganhar fulgor agora com netos. O homem de hoje quer marcar pela diferença e ter a sua identidade. A roupa em massa começa cada vez mais a perder força numa geração que hasteou a bandeira da sustentabilidade e que não se quer vestir como se usasse uma farda.
A matemática de vestir um homem
Vera Deus disse que é difícil para os homens não estarem bem porque há muito menos opção de escolha do que para as mulheres. Vai acabar por variar mais nas cores e estilos de peças. O maior problema dos homens, refere a especialista em consultoria de imagem, é o fit, ou seja, saber usar a roupa adequada ao seu corpo. E Paulo Battista explicou muito bem: “Adaptar um fato à medida de cada homem é muito mais do que moda. Tudo é cortado na proporção do corpo. É quase matemática e geometria. Quando os homens ganham barriga têm tendência a usar tamanhos maiores para a tentar esconder. Mas isso só dá a impressão de volume ainda maior.”
Dica dos especialistas: a roupa não é para fazer ginástica. Não temos que nos mexer dentro dela. “Na consultoria de imagem também ensinamos muitos destes truques”, partilha Vera Deus. “Casacos mais curtos vão dar a ideia de pernas maiores, por exemplo, trabalhamos uma vertente idêntica para adaptarmos a roupa a cada pessoa.” E saber vestir é mais do que usar marcas ou tendências. É saber adaptar as peças que um homem gosta ao seu corpo e personalidade.
Feios, porcos e maus?
Todos os nossos convidados concluíram que esta, sim, é uma afirmação que caiu em desuso. Mariama Barbosa explicou: “Talvez aqui em Portugal ainda não estejamos muito habituados a este novo homem que se arranja, que se depila, que se maquilha. A geração dos nossos pais apenas usava um aftershave.” Mas a evolução também nos faz ir buscar coisas ao passado. “Se pensarmos bem, a maquilhagem foi criada para homens e, noutros tempos, eram os homens que se maquilhavam. Ainda há o preconceito de que homem que é homem não se maquilha mas na geração mais nova começa a ser cada vez mais banal”, partilhou Bruno Vicente.
E quando falamos de cuidados de beleza, calma, não falamos de máscaras de pestanas ou unhas de gel para homens. Mas se o homem de antigamente ia ao barbeiro todos os dias, o homem de hoje tem uma preocupação cada vez maior em tratar do seu cabelo, da barba, das olheiras. “Há uma grande diferença no cliente masculino de hoje que está a ganhar uma quota grande no mercado da beleza. E eventualmente já se cuidam mais do que as mulheres. Uma mulher vai ao salão de três em três meses e um homem pode ir, sem dúvida, de mês a mês”, salientou o maquilhador.
E na moda? “Um homem pode não ligar à moda mas tudo aquilo que compra já foi pensado por alguém. Por mais que um homem diga que não se interessa por moda, saberá certamente do que gosta ou não. E isso já é importar-se com a forma como se veste”, partilhou Mariama Barbosa.
Sustentabilidade: o futuro da moda?
O público que estava a assistir a esta conversa tocou na ferida. Como usar a moda de forma consciente? A indústria têxtil é a que mais polui e com os outlets, como o Freeport Lisboa Fashion Outlet e o Vila do Conde Porto Fashion Outlet, tem-se conseguido escoar muita coisa mas a verdade é negra: mais de dois terços do que se produz vai para o lixo. E a geração de hoje procura mudanças. A maior sustentabilidade é comprar menos e não melhor, conceito que as marcas estão a deturpar com coleções conscientes e “green” que continuam a aumentar o problema: somos uma geração demasiado consumista.
Qual a solução? Comprar com qualidade. “A roupa vintage está na moda também para os homens mas só quando tem qualidade para sobreviver. Somos nós os culpados porque compramos fast-fashion e vivemos para o momento. Se comprarmos bem, a roupa dura e vamos ter muita roupa vintage para usar durante anos e anos”, esclareceu Mariama Barbosa. E Paulo Battista concordou:
“Antigamente os carros duravam dez anos, as mobílias de casa talvez quarenta anos. O consumo de hoje é assustador porque tudo é descartável. Comprarmos coisas sustentáveis é enganar um problema, temos é de comprar menos. Um fato por medida gera menos desperdício porque só faço o que o cliente quer. E um bom fato pode passar de geração em geração.”
O futuro da moda não é ter muita roupa. É ter peças com qualidade. Hoje temos os outlets onde podemos encontrar peças boas a um preço mais acessível e que vamos usar durante anos. E se não pode fazer um fato por medida, há outras soluções. “O melhor amigo de um homem é o alfaiate”, concluiu Mariama Barbosa. “E pode não ter dinheiro para um fato feito de raiz e à medida mas pode comprar um bom fato num outlet por um preço mais acessível e depois levá-lo a um alfaiate que o adapte à medida do seu corpo.”
O que nunca pode perder? A sua identidade. Tudo aquilo que veste acaba por estar relacionado com a sua personalidade. Não se esforce demasiado, não queira seguir todas as tendências porque nem todas as roupas se adaptam a todos os corpos e personalidades. E quando nos mantemos fiéis a nós próprios, as coisas assentam de outra forma.
“A Moda Desconstruída” é uma iniciativa do Observador e do Freeport Lisboa Fashion Outlet e o Vila do Conde Porto Fashion Outlet.
Saiba mais em https://observador.pt/seccao/a-moda-desconstruida/