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“Meu Deus! Acho que aqui tem mais gente que a população da minha cidade!”. Foi assim que Marina Sena traduziu o espanto de subir ao palco do Lollapalooza Brasil, a 28 de Março. E tinha razão. Em Taiobeiras, terriola do norte de Minas Gerais onde a nova sensação da pop brasileira nasceu, os censos dizem-nos que vivem hoje umas 34 mil pessoas. Naquela tarde, diz a organização do festival, houve perto de cem mil entradas no recinto.
Esta conversa acontece umas 48 horas antes disso. Marina não esconde uma certa ansiedade, mas também não revela insegurança. “É o meu primeiro grande palco. É tenso, é muita responsabilidade”, dirá ela com uma confiança que lhe atraiçoa as palavras. Mais adiante, há-de confessar: “não quero perder tempo sonhando com pouco”. Essa confiança será, de resto, umas das primeiras grandes impressões que nos deixará nesta que é a sua primeira entrevista para fora do Brasil (palavra de Marina). Outras serão o humor com que fala de si mesma e a honestidade desarmante com que assume as suas escolhas:
Esses são os primeiros concertos fora do Brasil…
Já fiz uma tournée com a minha antiga banda, o Rosa Néon, na Europa. Mas a solo vai ser a minha primeira vez.
E esta é a primeira entrevista para a Europa?
Primeiríssima entrevista para fora do Brasil. Olha só!
Então isto daqui por uns anos é capaz de valer alguma coisa.
Era bom que valesse já hoje…
“Tenho até que pesar bem as coisas: será que eu quero trabalhar tanto?”
Marina Sena tem 24 anos, mas há muito tempo que acredita que tudo isto ia acontecer — o salto para lá do sucesso regional, a conquista do Brasil, a loucura nas redes sociais, a aclamação da crítica na imprensa do eixo Rio-São Paulo, a entrada no circuito dos grandes festivais, a primeira digressão internacional, que começa dia 7 em Coimbra, passa por Porto e Lisboa, e segue depois por Madrid, Dublin e Berlim. Só não sabia que ia ser tudo tão rápido.
De Primeira, o álbum de estreia a solo, saiu em agosto de 2021. Antes do final do ano, Marina entrava para lista Viral Global 50 do Spotify, que identifica os artistas que mais rapidamente estão a ganhar audiência em todo o mundo, e fixava a média cinco milhões de ouvintes mensais naquela plataforma de streaming. Enquanto isso, o single “Por Supuesto” tornava-se viral entre o público adolescente brasileiro e já ultrapassava 150 milhões de visualizações no Tik Tok. E eis que, ainda em dezembro, a jovem vencia três de quatro categorias em que foi nomeada para a edição 2021 dos Prémios Multishow, os maiores da cena musical brasileira. Neles, Marina foi consagrada como artista revelação pelo júri e venceu a categoria Experimente, também destinada a novos artistas, mas decidida por voto do público.
[“Por Supuesto”:]
“De Primeira”: o nome do seu disco de estreia já diz ao que vem, chegar e vencer. É essa a ideia?
É essa a ideia mesmo, sim. De ser uma coisa que de primeira já vai acontecer, que não vai demorar. Na realidade, é um movimento que nem foi tão de primeira assim… eu tive duas bandas antes de me lançar sozinha.
Rosa Néon, a tal banda que foi um sucesso grande ali em 2019, e antes disso A Outra Banda da Lua.
Nossa! Você prestou atenção nisso aí?
Confesso que não, na altura passou-me ao lado. Mas tive de me preparar para a entrevista.
Mas então, este é o meu primeiro movimento a solo. E eu acreditava, queria muito acreditar, que no meu primeiro movimento solo isso ia bombar.
E bombou.
Se bombou!
Como é que tem vivido estes dias? Pelo menos visto à distância, o seu nome começou a ser falado nos últimos tempos como nunca. E agora vai participar no festival Lollapalooza 2022, depois vem depois em tour para a Europa…
Verdade! Assustador! Está bem corrido. No início disso, que foi no final do ano passado, acho que estava mais assusta. “Gente, então quer dizer que não vou ter nem mais um minuto de descanso?! Quer dizer que a partir de agora não vou mais conseguir nem sequer dormir?!” [riso]. Estava um pouco assustada com isso, embora fosse uma coisa que eu já queria, que eu estava disposta. Eu queria isto.
Mas achava que ia ser tão rápido? Insisto: este ano é uma das atrações do Festival de Lollapalooza…
Fico ansiosa só de pensar nisso. Dentro da minha cabeça não se fala de outra coisa, não tem outro assunto, só isso e a tour da Europa. É o meu primeiro grande palco. É tenso, é muita responsabilidade. Mas eu acredito que a gente vai estar à altura que aquele palco merece. Eu sempre quis ocupar esse lugar, que é o lugar que ocupo hoje, ser essa pessoa, ocupar esse lugar na media, entendeu? Mas eu reconheço que realmente não imaginava que ia ser tão rápido assim. Achava que ia demorar mais para construir um repertório que a galera gostasse, que ia lançar um disco, depois mais outro, e tal… até que isso tudo acontecesse. Mas sempre acreditei que ia acontecer.
O que é que mais mudou na sua vida?
Olha, a minha rotina mudou muito. Agora tudo é uma agenda. Não vou a lado nenhum sem estar marcado um horário na minha agenda. A rotina mudou. A privacidade também é menor, há sempre gente em redor, gente que trabalha comigo, é maquilhador, é produtor, é não sei quê e não sei que mais. A vaidade também caprichou, agora sou figura pública, vou ali na esquina e tenho que estar com a unha feita [riso]. E financeiramente, com certeza. Foi das coisas que mais mudou na minha vida. Quando olho para o dinheiro que tinha ou não tinha há um ano e o que tenho agora, realmente eu fico… mano, não bota o pé que mudou tudo! Realmente mudou bastante. E nem estou rica! Simplesmente estou tendo a experiência mínima do que é ter acesso, poder aquisitivo, sabe?
A sua vida até aqui foi difícil, desse ponto de vista?
Teve dificuldade, sim. Mas nem vou dizer que a vida era mais difícil. Cada situação tem a sua dificuldade e eu cresci com muita coisa boa na minha vida. Com certeza as coisas eram mais difíceis de conseguir, até pela geografia, por ter crescido numa cidadezinha… antes, não há muito tempo, a minha questão era conseguir trabalhar. A minha questão era como é que eu vou conseguir trabalhar naquilo que eu amo, na minha música. E em Taiobeiras não há espaço para isso, a não ser que você vá fazer música em casamentos ou assim [riso]. Não era minha ideia, o que queria era fazer música autoral, ganhar dinheiro fazendo a minha música. Então, por muito tempo, como a gente não tinha essa perspetiva lá, nem tinha quem nos ensinasse, não havia uma referência para mostrar como se fazia, a minha dificuldade era essa. Perceber como é que eu ia trabalhar. E agora tudo mudou, tem como trabalhar. O tempo inteiro tem como trabalhar. Tenho até que pesar bem as coisas: será que eu quero trabalhar tanto?
“Não tem jeito, banda é bom de mais. Eu amo banda. Mas dá muito trabalho”
Quando foi indicada aos Prémios Multishow 2021, a cidade Natal de Marina mobilizou-se. Por esses dias, um carro de som percorria as ruas de Taiobeiras apelando a todos que ligassem a dar o seu voto. Um valioso contributo para a jovem vencer o voto popular na categoria Experimente, destinada às novas revelações da música brasileira.
Marina saiu de Taiobeiras com 18 anos. Tinha decidido que “era por ali”, queria ser artista, e partiu em busca disso mesmo. Mudou-se para Montes Claros, a maior cidade do Norte do Estado de Minas Gerais, e é lá que, logo em 2015, integra A Outra Banda da Lua, um fenómeno de popularidade indie, ainda que limitado a um universo regional. Será ela a assinar “Cavalaria”, o maior sucesso do grupo. Em 2019, com outros elementos do mesmo grupo, formou os Rosa Néon, projeto semelhante no espírito indie, mas já com um instinto mais pop, feito de canções com refrões orelhudos e alguma influência mais eletrónica. “Ombrim”, o grande sucesso do grupo, teria o seu momento viral no verão brasileiro de 2019. Também foi escrito e composto por Marina. Como mais tarde seriam todas as canções que integram o seu álbum de estreia a solo.
“Me Toca”, o primeiro single a solo chegou em Janeiro de 2021 e já foi dando nas vistas. Com o segundo single, “Voltei Pra Mim”, lançado junto com o álbum completo em agosto, chamou a atenção da crítica, que vai celebrando aquela mistura promíscua de samba, axê, reggae, funk e o que mais se queira ouvir entre cavaquinhos e sintetizadores. Pura MPB, dir-nos-à Marina, que descreve a sua música como o resultado de tudo o que passou na rádio e se escutou em novelas brasileiras nos últimos vinte anos. “Assimilei tudo”, resume ela.
[“Me Toca”:]
Falava há pouco de querer fazer música autoral. Hoje compõe e escreve tudo o que canta. Foi sempre assim?
Tudo o que eu canto sou eu que escrevo. Foi sempre assim. Nas bandas eu compunha e havia mais pessoas a compor. Mas mesmo aí as principais músicas dos dois grupos foram composta por mim. “Cavalaria”, que é a música mais ouvida d’A Outra Banda da Lua, e a “Ombrim”, que é a música mais ouvida do Rosa Néon, também fui eu que compus.
Arranca para uma carreira a solo porque foi sempre esse o objetivo?
É… não tem jeito, banda é bom de mais. Eu amo banda. Mas dá muito trabalho.
Mais trabalho do que a solo?
Não é mais, é outro tipo de trabalho a que nem todo o mundo está disposto. Mas adorei trabalhar em banda. Foi a minha grande escola, foi a minha faculdade para chegar onde estou agora. Foi como fazer um curso de como ser uma artista. Foi muito bom. Vivi a arte muito plenamente, era tudo muito experimental e eu experimentei realmente muita coisa. Graças a deus já passei nessa fase, já passei no chefão, e agora é carreira a solo. Tudo feito por mim e do meu jeito.
Ao ler o que se tem escrito sobre si, nota-se um esforço recorrente para tentar catalogar a música que faz. Pop, samba, MPB, axê… como é que a Marina define?
Eu acho que isso acontece porque assimilei tudo, na realidade. Porque escutei rádio, vi televisão e assisti a novelas, entendeu? Então, tudo o que existe no Brasil, que passou na rádio, que passou na televisão nos últimos vinte anos, todo o tipo de música que passou perto de mim eu assimilei. Então, com certeza, tudo está em mim. Eu acho que referência é uma coisa que você não busca. Referência é um negócio que passa e de repente você assimilou aquilo sem perceber. Por isso que é bom até ter cuidado. Eu, pelo menos, procuro ter muito cuidado com o que vou ver, o que vou acessar, porque tenho certeza absoluta que se eu for ver eu vou assimilar. Acho que a minha música é MPB, porque MPB é isso, uma mistura de tudo o que é Brasil, uma grande mistura. Mas acho que isto é também pop, com toda a regionalidade da MPB. Quando penso, acho que é isso. Mas também posso mudar de ideias daqui a uma semana. Aí você me pergunta de novo…
Deixe-me fazer a pergunta de maneira diferente: quem é o seu público hoje?
Acho que muito jovem, muita criança até…
A Marina disparou no Tik Tok.
Pois, e isso me mostra o quanto estou falando para um público jovem. Mas a comunidade LGBT é a grande maioria. Mas desde sempre. Já quando eu cantava n’A Outra Banda da Lua eram os gays de Montes Claros que iam no meu show.
Acha que isso acontece porquê?
Porque eu tenho esta postura de diva. Esta coisa de me posicionar como uma diva, visualmente, artisticamente, acho que o público LGBT gosta da diva e gosta de arte. É um público crítico, inteligente, que presta atenção no conceito do que você está fazendo, quer entender porque é que você fez assim, porque é que pôs cada coisa em cada lugar, na música, no palco. É um público que realmente quer entender a artista acima do hit, para além do hit.
“A minha música tem ali um grauzinho de sujeira”
O terceiro prémio arrecadado nos Multishow 2021 foi para melhor capa do ano. Nela vemos Marina vestindo pouco mais que uma faixa de condecoração onde se lê o título, De Primeira. E é mais ou menos essa a imagem que veremos dela em cada fotografia, vídeo ou aparição em palco. Sempre com tecidos mínimos e uma sensualidade descarada. Marina explica que há um lado de encenação nisso, sim, mas que apenas sublinha a forma natural como ela sente e apresenta a sua música.
Com Marina, tudo é também corpo, presença, sedução, pose de diva. E ela garante que se assume por inteiro no que compõe, que se expõe nas canções de forma mais ou menos autobiográfica, mesmo quando fala da vida dos outros para falar de si mesma. Com ela não parece haver grande fronteira entre a artista e a mulher, entre o que quer ser no palco e fora dele.
[“Voltei Pra Mim”:]
As suas canções são todas de estrutura muito simples, pop clássica, sempre com um refrão orelhudo ao meio.
Então, isso é justamente por eu ter escutado tanta rádio. Posso dizer que sou uma brasileira criada pela rádio do Brasil. O que tocou lá na rádio em Taiobeiras foi o que eu assimilei. E o que tocava na novela também, eu fui criada por isso. Acho que é justamente por isso, eu aprendi a fazer música no formato do rádio: início, pré-refrão, refrão, depois uma coisinha para finalizar, e ela é cíclica, se repete e tal. Então acho que é basicamente por isso. Assimilei que era assim que a música tinha de ser e hoje é realmente muito difícil para mim não fazer isso. Tenho dificuldade em fazer música com harmonia mais estranha. Tento sempre levar para um negócio mais radiofónico. Embora eu ache que a minha música tem ali um grauzinho de sujeira, principalmente pelo timbre da minha voz, que não é muito radiofónico. Mas eu também sou da imagem…
Precisamente. E há uma sensualidade explícita na forma como se apresenta. Isso é natural para si ou faz parte de uma persona artística que procura criar?
É engraçado, tem horas que me falam que eu estava sensual e eu digo “nossa, jura?!” Naquele dia eu estava me sentido um lixo, estava horrorosa, cansada, sabe? Mas é muito natural sim. Nessas vezes as pessoas dizem que eu estava sensualizando e eu nem percebi. Claro que às vezes exagero para criar uma personalidade artística, faço quase uma caricatura…
Mas é uma caricatura de si mesma, digamos?
Sim, é isso. Faço uma caricatura do que eu já sou naturalmente. Quando é pela arte vai no exagero e no que for preciso. Mas é natural, reconheço. Quando alguém me diz que na capa do disco eu estou quase nua, eu pergunto “como assim?! Estava com tanto tecido tapando tudo, gente!”
Lendo os seus textos, é recorrente o tema da luta contra relações tóxicas, da necessidade de ser livre dessas relações. É um tema importante para si?
Com certeza. Isso vem do que eu vivi e do que observei também. Do que eu sinto que significa ser uma mulher numa relação hetero tradicional, homem mulher, como a sociedade projeta esse tipo de relação para uma mulher e como por vezes é libertador para uma mulher não estar numa relação. Porque pode ser devastador. Então, isso é resultado do que eu pude observar e viver também em relações na minha vida.
Há sempre um lado autobiográfico nas suas canções?
Um pouco, sim. Quando você fala do outro, acho que também está sempre falando de si mesma. Nesse meu disco, De Primeira, o amor e as relações amorosas estão muito presentes e servem para eu, enquanto criadora, fale de coisas pessoais, mas também das perceções sobre o processo que cada um vive. Mas tem sempre a minha própria parcela de coisas pessoais dentro daquilo.
A Marina compõe tudo o que canta, mas agora tem um produtor a trabalhar de perto consigo…
Posso até produzir em algum momento, mas eu não sabia produzir. Gosto de saber deixar as fazer as pessoas que sabem fazer. Tipo, assim, cada um fica com o que sabe fazer. Eu já tenho muita coisa para fazer, basicamente é isso. E então eu estava procurando um produtor e acabei achando algo mais [riso]. Pensei “preciso de alguém que saiba fazer o que eu quero, sem eu precisar falar o que eu quero, porque na verdade às vezes nem eu sei o que eu quero [riso]. A pessoa tem de ler a minha personalidade, entender-me, perceber o que eu estou querendo colocar naquela música ali, como eu quero que ela seja. E aí quando eu conheci o Iuri Rio Branco, que foi o produtor do meu disco, foi exatamente isso: bateu o olho e ele entendeu a minha personalidade, sem eu precisar falar nada do que eu queria. Falei algumas coisas, mas nada de mais. Ele realmente entendeu o que tinha para entender e fez. E agora com ele.. a gente namora, está vivendo junto, então é o dia inteiro fazendo música, fazendo alguma coisa junto.
Foi de primeira.
[Riso] Isso mesmo.
Ouvindo a música das suas bandas e a solo, sente-se um aproximar a sonoridades mais eletrónicas.
Então, agora os meus processos de fazer música, desde que a gente terminou o disco, tudo o que a gente fez depois, muita coisa mudou na nossa produção musical. Antes eu fazia as músicas muito no violão, tudo nascia no violão.
Essa relação com o violão começou quando?
Toco desde os 15 anos. Foi ali que comecei minha música. E agora que a gente vive junto, o Iuri e eu, e trabalhamos todo o dia, estou começando a compor músicas em cima de um beat, de uma onda já, coisas que ele me vai servindo de base. Então a música vem de outro jeito. Quando é feito no violão é diferente, tem outra energia, o espírito do violão. Assim é outra coisa, vai ter outra vibe, outra energia bem mais eletrónica, mas sem perder a minha origem, sem perder isso que é a MPB. A MPB não sai de mim, não tem como, não tem reza que se faça para isso. Mesmo com eletrónica. Meu instinto me leva sempre por aí. E eu sempre segui meu instinto.
Teve sempre essa liberdade com a sua família, para poder seguir o seu instinto?
Sempre fui muito livre, sim. Quando decidi ser cantora não foi uma coisa difícil, que doeu, foi simples. Minha mãe sempre entendeu isso como uma coisa séria, ela nunca acho que isso era brincadeira, sabe? Mesmo quando parecia que era. Ela sempre respeitou muito. O momento em que eu disse “é isso, eu vou lutar por isso, você acredita?” Ela falou “acredito, vai lá.” E sempre acreditou mesmo. Acho, inclusive, que a primeira pessoa que soube que eu era artista foi a minha mãe. A pessoa que mais me viu na vida. Acho que a pessoa quando é criança já é artista, o pai, a mãe, todo o mundo já sabe que ela é artista, ela já demonstra e está ali num momento de pureza em que coloca para fora toda a arte, sem vergonha. Então eu acho que a pessoa que me viu assim mais no meu estado de pureza artística foi minha mãe e meu pai. Eles sempre souberam que eu era artista.
E a Marina quando é que soube?
Oh, eu sempre soube também. Mas decidi mesmo quando tinha 17 anos… [começa a cantarolar “Tem 17 anos e fugiu de casa / às sete horas da manhã num dia errado”. É “Natasha”, canção dos Capital Inicial]… Eu sou a Natasha, com certeza [riso]. Foi nesse momento que eu pensei “vou começar logo, que eu já sei que é por aqui.”
[ouça o álbum “De Primeira” na íntegra através do Spotify:]
“Tem público para mim em cada lugar e eu quero ir atrás dele”
Mas é com “Por Supuesto” que o fenómeno estoira. É uma das composições mais antigas, estava mais ou menos na gaveta, e Marina chegou a sugerir a Iuri Branco que, se quisesse, podia descartar a música. Felizmente para ambos, o produtor, não foi nessa. A canção viralizou no Tik Tok primeiro, depois no Spotify e no Youtube, e tornou-se no seu grande cartão de visita. E foi essa que a multidão de Lollapalloza exigiu como bis, obrigando a estreante a regressar ao palco e consagrando-a em uníssono.
Hoje, será essa a melhor candidata a primeiro hit internacional, “Por Supuesto”. Marina acredita que vai acontecer, como talvez acreditou antes de toda a gente que aconteceria no Brasil. É como ela canta em “Voltei Pra Mim”: “Eu tenho o dom de ir além / Vou é correr / O que tiver pra ver / Eu quero ter.” Aos 24 anos, não vê razão para se contentar com menos que o mundo inteiro.
Já disse que quer conquistar o mundo, não quer ficar pelo Brasil. Como é que se imagina daqui por um ano se tudo correr como prevê?
Eu não sei dizer exatamente como é que eu vou estar daqui por um ano, não consigo imaginar. Mas eu quero ir atrás do público que há para mim no mundo inteiro, e esse é um trabalho que, a cada dia que passa, a gente vai fazer mais. O meu sonho seria dentro de um ano ter uma música “hitada” no mundo inteiro. Eu não quero sair do Brasil, deixar de morar aqui. Eu amo o Brasil, sou fã. Mas quero realmente buscar o que há para mim no mundo inteiro. Não há razão para eu me contentar com menos do que o mundo inteiro, não quero perder tempo sonhando com pouco. Enfim, não é o mundo inteiro, mas eu acho que tem público para mim no mundo inteiro, em cada lugar, e eu quero ir atrás dele.
E que público é esse? É o mesmo tipo do que já tem no Brasil?
O mesmo que tem aqui tem lá, sim. É desse público que eu vou atrás. Acho que tem mercado para mim no mundo, ele existe e eu vou ocupar esse lugar.
A cantar em Português?
Se for possível vou me manter a cantar em Português até ao último momento da minha vida. Sobretudo porque tenho preguiça de aprender outra língua [riso] Pura preguiça. Mas se precisar, se eu perceber que o único jeito vai ser cantando outra língua, vou cantar também, não tem problema com isso não.
Sei que já tem um disco novo. É para quando?
Estou a tentar entender ainda. Não gosto de planejar muito, muito. Para mim, o melhor é seguir a minha vontade. É como eu disse há pouco, o meu instinto foi o que me deu as melhores coisas até hoje. Foi sempre quando eu fiz as coisas à minha vontade. Então eu entendi que deu certo assim e assim vou continuar. E aí eu pensei que gostava de lançar o novo disco no final desse ano, mas eu preciso entender como vou finalizar ainda a ideia do De Primeira, como é que eu vou finalizar o ciclo. Lançarei outro quando sentir o De Primeira enfraquecer. E agora eu ainda sinto ele muito forte, não consigo achar que já posso começar outra coisa. Ainda está muito vivo e eu vou entender quando ele já não estiver tão vivo assim, para eu lançar o outro. Deixa ver como ele é recebido aí primeiro [riso].
O que é que espera encontrar cá? Que expectativa trás?
Quando a gente estava fazendo o disco, a gente sempre falava assim: “velho, imagina quando a gente tocar isso aqui na gringa”!
Gringa, terra dos gringos, o que fica fora do Brasil…
[riso] Isso! A gente sempre imaginava que ia dar muito certo tocar estas músicas fora do Brasil, que a galera ia gostar mesmo. A gente sempre pensava em tocar na gringa e eu acho que tem tudo a ver, principalmente com a Europa. Acho que tem muito a ver.
Mas porquê?
Pelo som que toca na Europa, o que eu oiço que toca com mais força. Eu olho e penso “ mas o meu som é isso!”. Na tour da Europa eu não vou com banda, eu vou só com o DJ, com o Iuri só. Logo aí vai ficar um show mais eletrónico, mais dançante. Espero que seja uma festa. Acredito que vai ser.