Olá

838kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

epa08107422 A handout photo made available by Iranian Supreme Leader's Office shows Hamas leader Ismail Haniyeh delivering a speech during funeral prayers for slain Iranian Revolutionary Guards Corps (IRGC) Lieutenant general and commander of the Quds Force Qasem Soleimani and other victims, in Tehran, Iran, 06 January 2020. Soleimani was killed in a targeted US airstrike on 03 January 2020 in Baghdad, Iraq.  EPA/IRAN'S SUPREME LEADER OFFICE HANDOUT  HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES
i

Ismail Haniyeh tinha 62 anos

IRAN'S SUPREME LEADER OFFICE HANDOUT/EPA

Ismail Haniyeh tinha 62 anos

IRAN'S SUPREME LEADER OFFICE HANDOUT/EPA

Protegido do fundador e diplomata pragmático. Quem era Ismail Haniyeh, o líder do Hamas que foi morto no Irão?

Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, era visto como figura moderada do movimento. Nascido num campo de refugiados, morreu esta quarta-feira em Teerão, num ataque atribuído a Israel.

Em setembro de 2003, Israel lançou um ataque cirúrgico na Cidade de Gaza, no centro da Faixa de Gaza, com um objetivo: assassinar o xeque Ahmed Yassin, fundador e líder espiritual do Hamas, para decapitar o grupo islamita. O ataque aconteceu num ano que podia ter sido decisivo para o conflito israelo-palestiniano: na sequência dos episódios de violência da Segunda Intifada, várias iniciativas de paz estavam em cima da mesa, incluindo a proposta do ano anterior apresentada pela Liga Árabe e o roteiro para a paz avançado por EUA, UE, Rússia e ONU.

Dias antes, em agosto, Israel tinha lançado um outro ataque na Cidade de Gaza, conseguindo eliminar Ismail Abu Shanab, o terceiro na hierarquia do Hamas. O assassinato — feito com recurso a cinco mísseis lançados contra o carro onde seguia aquele líder do Hamas — levou ao fim de um periclitante cessar-fogo de sete semanas e aprofundou a crise na implementação dos planos de paz. Para o Hamas, o assassinato significava que Israel não acreditava na paz.

Nessa altura, Ismail Haniyeh, de 41 anos, já era uma das figuras mais próximas do xeque Ahmed Yassin, consolidando-se como um dos principais líderes políticos do movimento fundado no final da década de 1980, na sequência da Primeira Intifada. Quando, em setembro de 2003, Israel tentou, sem sucesso, assassinar o líder espiritual do Hamas, Haniyeh, que olhava para Yassin como o seu mentor, também ficou ferido no ataque.

Poucas horas depois, o xeque Ahmed Yassin vinha a público reagir à tentativa falhada de Israel para o matar. “O tempo vai provar que a política de assassinatos não vai acabar com o Hamas. Os líderes do Hamas desejam ser mártires e não têm medo de morrer”, disse Yassin na altura. “A jihad vai continuar, a resistência vai continuar até termos a vitória, ou seremos mártires.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

GettyImages-1237661474

Haniyeh era o líder político do Hamas desde 2017

Anadolu Agency via Getty Images

Yassin acabaria por ser morto num ataque israelita poucos meses depois, em março de 2004, e o seu funeral atraiu dezenas de milhares de pessoas às ruas de Gaza. Nos anos seguintes, Ismail Haniyeh acabaria por consolidar a sua posição como principal líder do Hamas. Mas pelo menos desde que ficou ferido naquela tentativa de assassinato em setembro de 2003 que Haniyeh sabia que estava na mira de Israel — e que, muito provavelmente, aquele acabaria por ser o seu fim em algum momento.

Mais de duas décadas depois, aconteceu: Ismail Haniyeh, que era atualmente o líder político do Hamas, governando o grupo islamita a partir do exílio no Qatar, foi morto aos 62 anos em Teerão. O ataque foi atribuído a Israel e aconteceu na madrugada desta quarta-feira, quando Haniyeh se encontrava em Teerão para participar na tomada de posse do novo Presidente iraniano. Estava, diz o The New York Times, em Teerão com outros membros do chamado “eixo da resistência” ligado ao Irão: líderes do Hamas (Gaza), do Hezbollah (Líbano) e dos Houthis (Iémen).

Um míssil terá sido disparado a partir de fora do território do Irão, atingindo a residência para veteranos de guerra em que Haniyeh estava alojado durante a sua passagem pelo Irão. O guarda-costas do líder do Hamas também morreu no ataque, que terá, de acordo com o The New York Times, deixado as autoridades iranianas “em choque” com a falha de segurança que permitiu o assassinato — que põe em causa a “reputação de segurança do Irão numa altura em que pretende projetar força na região”.

Nas horas que se seguiram às notícias da morte de Haniyeh, as reações internacionais multiplicaram-se. Países como Turquia, Rússia ou Qatar avisaram para o risco de este assassinato conduzir a uma escalada das tensões na região, podendo fazer evoluir o conflito na Faixa de Gaza para uma guerra de dimensões regionais.

O mais certo é que este assassinato coloque em causa a evolução das negociações entre Israel e o Hamas para um cessar-fogo na Faixa de Gaza: as conversações arrastam-se há meses com pouco sucesso e o Qatar, um dos países mediadores (a par do Egipto e dos EUA), já veio dizer que o ataque “mina as hipóteses de paz” na região.

No Hamas desde a fundação

Haniyeh era visto como uma figura relativamente moderada dentro do Hamas, um movimento político e militar palestiniano fundado na sequência da Segunda Intifada que é classificado como grupo terrorista pela generalidade do Ocidente, mas reconhecido como aliado por países como a Rússia, o Irão ou a Turquia. Como escreve o The Guardian, a generalidade dos diplomatas árabes olhava para Haniyeh como um líder pragmático, capaz de levar a cabo esforços diplomáticos eficazes no mundo árabe — ao contrário de outros elementos do Hamas mais radicais.

Nascido em 1963 no campo de refugiados de Shati, na Faixa de Gaza, Haniyeh politizou-se ainda muito jovem e, quando era um estudante universitário em Gaza, tornou-se ativista e juntou-se a um grupo político que haveria de dar origem ao Hamas.

Em 1987, durante a Primeira Intifada — movimento de revolta violenta dos palestinianos contra Israel, que conduziria aos Acordos de Oslo e à criação da Autoridade Palestiniana —, Haniyeh fez parte do grupo de ativistas palestinianos que se juntaram em torno do xeque Ahmed Yassin para a fundação do Hamas. A Reuters recorda que, nessa altura, o jovem Haniyeh chegou a ser detido e deportado por Israel.

Desde os primeiros tempos do Hamas, Ismail Haniyeh tornou-se um protegido do fundador do movimento. De acordo com a Reuters, Haniyeh e Yassin tinham em comum o facto de virem de famílias refugiadas de Al Jura — e desenvolveram uma relação de proximidade entre mentor e aprendiz. Numa entrevista de 1994 à Reuters, Haniyeh falava de Yassin como um modelo para os palestinianos mais jovens: “Aprendemos dele o amor ao Islão e o sacrifício por este Islão, e a não nos ajoelharmos perante os tiranos e os déspotas.”

A mesma agência recorda como a relação entre Haniyeh e Yassin ficaria imortalizada numa fotografia de 2003 que mostrava Haniyeh a segurar um telemóvel ao ouvido de Yassin — para que o líder espiritual do Hamas, tetraplégico numa cadeira de rodas, pudesse falar ao telefone. O The New York Times lembra que Haniyeh, que passou várias vezes por prisões israelitas nas décadas de 1980 e 1990, chegou a ser o secretário pessoal do fundador do Hamas.

epa11038162 A handout photo made available by the Iranian foreign ministry office shows Hamas leader Ismail Haniyeh speaking to media in Doha, Qatar, 20 December 2023. Haniyeh met earlier with Iranian Foreign Minister Hossein Amir-Abdoulahian, who is visiting Qatar for the fourth time since the beginning of the Hamas-Israel conflict.  EPA/IRANIAN FOREIGN MINISTRY HANDOUT  HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES

Haniyeh morreu esta quarta-feira em Teerão, a capital do Irão

IRANIAN FOREIGN MINISTRY HANDOUT/EPA

Ismail Haniyeh foi um dos principais impulsionadores da evolução do Hamas de movimento contestatário para partido político. Entrar na política, disse Haniyeh em 1994, “permitirá ao Hamas lidar com os desenvolvimentos que estão a surgir”.

Como explica a CNN, em 2004 Haniyeh foi escolhido para integrar a “liderança coletiva” secreta do Hamas — depois de Ahmed Yassin e Abdel Aziz Rantisi, os dois líderes anteriores do grupo, terem sido assassinados por Israel. Em 2006, o Hamas venceu as eleições legislativas palestinianas e Haniyeh, como líder do gabinete político do movimento, tornou-se primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana.

Ficaria pouco tempo no cargo: foi afastado no ano seguinte, no contexto das tensões políticas internas da Palestina, entre o Hamas e a Fatah de Mahmoud Abbas. As duas fações viviam um clima de tensão já desde a morte de Arafat e a separação definitiva deu-se em 2007. Na sequência da retirada de Israel da Faixa de Gaza, o Hamas assumiu o controlo daquele território — que se prolongou até aos dias de hoje — ao passo que a Autoridade Palestiniana liderada pela Fatah controla a Cisjordânia.

Ainda assim, como lembra a CNN, Haniyeh continua a ser, até hoje, o único primeiro-ministro palestiniano a assumir funções depois de ter ganho umas eleições legislativas.

Durante cerca de uma década, Haniyeh foi o líder do Hamas na Faixa de Gaza. Em 2017, foi eleito líder político do movimento, tornando-se na figura máxima global do Hamas, sucedendo a Khaled Meshaal. O The Guardian recorda que, durante aquela década, Israel acusou a liderança de Haniyeh de sistematicamente desviar a ajuda humanitária enviada para Gaza para a ala militar do Hamas. Nesse período, Haniyeh foi também uma figura central no desenvolvimento das capacidades militares do Hamas em Gaza, nomeadamente através do reforço das relações com o Irão — que em 2022 já teria enviado para o Hamas cerca de 70 milhões de euros em ajuda militar.

Depois de ser eleito líder máximo do Hamas, Haniyeh deixaria a Faixa de Gaza para se fixar no Qatar, onde viveu nos últimos anos. Em Gaza, sucedeu-lhe o líder militar Yahya Sinwar, que terá sido um dos principais responsáveis pelo ataque de 7 de outubro contra Israel, na sequência do qual as forças israelitas desencadearam a atual guerra na Faixa de Gaza.

A partir do exílio no Qatar, Haniyeh intensificou a atividade diplomática, viajando com frequência para países como a Turquia e o Irão com o objetivo de estabelecer laços entre o movimento e a maioria dos países do Médio Oriente. Nos últimos meses, a delegação política do Hamas no Qatar tem estado a negociar os termos de um cessar-fogo com Israel através da mediação de Qatar, Egipto e Estados Unidos.

Os Estados Unidos consideram formalmente Haniyeh um terrorista desde 2018. Em maio deste ano, quando emitiu um mandado de detenção contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, o Tribunal Penal Internacional também ordenou a detenção dos líderes do Hamas, incluindo Haniyeh, por suspeitas de crimes de guerra.

Família assassinada

Em 2004, depois de o xeque Ahmed Yassin ter sido assassinado por um ataque israelita, Haniyeh pediu às centenas de palestinianos que se concentraram em frente ao hospital que não chorassem. “Têm de ser firmes e têm de estar prontos para a vingança”, disse na altura o líder em ascensão.

Duas décadas depois, Haniyeh viria a repetir o discurso — mas, desta vez, em relação aos próprios filhos.

Em abril deste ano, um ataque israelita no sul da Faixa de Gaza destruiu o carro onde estavam vários familiares do líder do Hamas, matando três dos treze filhos de Ismail Haniyeh. As forças israelitas justificaram o ataque com o facto de Amir, Hazem e Mohammad serem militantes do Hamas envolvidos nas operações militares. Israel argumentou que estavam a levar a cabo atividades terroristas, Haniyeh disse que os filhos iam visitar familiares. No ataque morreram também quatro netos de Haniyeh — três raparigas e um rapaz que viajavam nos carro.

“Morreram como mártires”. Três filhos e quatro netos do líder do Hamas mortos em ataque de Israel em Gaza

“Agradeço a Alá pela honra que me deu. Os meus filhos morreram como mártires no caminho da libertação de Jerusalém e Al Aqsa. O sangue deles aumentará nossa determinação e a nossa adesão à terra”, reagiu Haniyeh. Na mesma ocasião, o líder do Hamas revelou que, até ao momento, já tinham sido mortos 60 membros da sua família durante a guerra com Israel. No ano passado, em outubro, o seu filho mais velho e uma neta já tinham morrido num ataque na faixa de Gaza. Nesta quarta-feira, um dos seus filhos, Abdul Salam, depois de referir que a “resistência não termina com o assassinato dos líderes”, disse sem mais explicações, que o “desejo” do seu pai “foi realizado”.

 
FLASH SALE
Assine a partir de 3€/ mês

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Já é assinante?
Apoio a cliente

Para continuar a ler assine o Observador
FLASH SALE
Assine a partir de 3€/ mês
Ver planos

Oferta limitada

Já é assinante?
Apoio a cliente

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Flash Sale Assine a partir de 3€/ mês
Apoie o jornalismo. Leia sem limites.
Assine a partir de 3€/ mês
Ver ofertas Oferta limitada