Daqui a pouco, numa manhã solarenga da primeira quinta-feira de novembro, 20 alunos do terceiro ano, dez meninas e dez meninos, vão arrumar as carteiras e as cadeiras, encostá-las à parede do fundo, para terem mais espaço para as atividades e desafios do programa “Quanto Mais Cedo, Melhor”, que promove competências socioemocionais e investe na literacia em saúde mental em contexto escolar. Está tudo preparado na sala de aula que fica do lado esquerdo de quem entra na Escola Básica da Torre, em Esmoriz, concelho de Ovar. A sessão começa com um momento de relaxamento. O professor da turma, Eusébio Oliveira, recorda: olhos fechados, inspirar como cheirar uma flor, expirar como soprar para um dente-de-leão, respirar com calma. Todos sabem o que fazer para descomprimir nesses minutos de pausa. E abrem-se os olhos.
De seguida, há música e todos têm de dançar como bonecos moles, como se fossem feitos de gelatina, e como bonecos duros, ou seja, como robôs sem dobrar os braços e as pernas. Numa mesa no meio da sala, estão vinte rebuçados e o desafio é comer a guloseima como se fossem bonecos duros, de braços esticados. Não é fácil pegar no rebuçado desta forma, tirar o papel para levá-lo à boca. São feitas várias tentativas, algumas com matreirices à mistura, que não resultam para cumprir o objetivo. O professor dá umas dicas. “Os meninos não estão sozinhos, é importante trabalharem em conjunto.” E eles percebem que podem pedir ajuda a um colega para desembrulhar o rebuçado que tem na mão e colocá-lo na boca do outro sem dobrar os braços. É nesta entreajuda que o desafio chega a bom porto.
“Que outras situações do dia a dia podem resolver se partilharem, se tentarem resolver em conjunto?”, pergunta o professor. Simão Costa, de oito anos, levanta o dedo. “Para arrastar uma mesa, podemos chamar um colega para ajudar. No basquetebol, se jogarmos em equipa, marcamos mais rápido”, diz. Leonor Ferreira, de oito anos, também tem resposta. “Para levarmos as compras num saco, um pega numa asa, outro pega noutra, e assim é mais fácil.”
Há mais uma atividade. Duas duplas de alunos têm apenas uma laranja e um quebra-cabeças para resolver: uma tem de fazer um bolo, a outra um sumo. O que fazer? O debate começa para concluir que é preciso comunicar, negociar e ajudar para que uma dupla retire a raspa para o bolo e a outra fique com o resto da laranja para o sumo. Daqui retiram-se lições, palavras e frases, que os alunos vão dizendo e o professor vai escrevendo no quadro. Ajudar os outros, serem amigos, partilhar, trabalhar em equipa, comunicar, colaborar, ouvir as ideias e opiniões dos outros, respeitar.
Simão gosta destes momentos. “Aprendo que as emoções são importantes”, refere. Que emoções? Leonor sabe quais são e enumera-as: a alegria, a raiva, a tristeza, a ansiedade, a vergonha, a inveja. “A alegria é estarmos felizes, as surpresas que temos. A ansiedade é tentarmos imaginar o que vai acontecer no outro dia, é o futuro”, explica. Estas sessões são bem-vindas. “É fixe, aprendo coisas sobre as emoções e que temos de nos ajudar uns aos outros”, acrescenta Leonor. E a sessão desta quinta-feira termina com mais um momento de relaxamento. Todos sentados no chão, a respirar lentamente, enquanto um dedo de uma mão percorre a outra mão devagarinho, contornando-a dedo a dedo, de uma ponta a outra.
E assim termina mais uma sessão do “Quanto Mais Cedo, Melhor”, programa de promoção e desenvolvimento de competências socioemocionais e de literacia em saúde mental no pré-escolar e 1.º ciclo, promovido pela Encontrar+se – Associação para a Promoção da Saúde Mental, Instituição Particular de Solidariedade Social, de utilidade pública, sem fins lucrativos, instalada no Porto há 18 anos. É um programa gratuito, desenvolvido em parceria com a Associação Unificar, do Porto, dirigido a escolas públicas de todo o país. As inscrições estão permanentemente abertas. Desde o ano letivo 2019-2020, já chegou a mais de 2100 crianças e envolveu mais de 500 agentes educativos.
Carolina Manta, psicóloga clínica da associação Encontrar+se e coordenadora do projeto, recorda como a constatação de necessidades, e com intervenção já feita no secundário e no 3.º ciclo, conduziu ao desenho deste programa. “Percebemos que tínhamos de vir à base, ao pré-escolar e ao 1.º ciclo, quanto mais cedo trabalharmos competências socioemocionais e quanto mais cedo falarmos sobre saúde mental, melhor vai ser o desenvolvimento e mais prevenimos problemas a longo prazo.”
A escola é um contexto específico, as crianças passam um período significativo do seu tempo numa sala de aula, cerca de sete horas por dia, 260 dias por ano. O programa dá formação a quem ensina. “Na base, na formação, a nossa intenção é auxiliar os professores a aprenderem mais sobre saúde mental, a saberem identificar sinais, a terem mais conhecimento sobre o que é saúde e o que é doença, o que os coloca em risco, quais as suas fronteiras, a observarem e a terem estratégias específicas para atuar e pedir ajuda. E, depois, além deles, nos alunos, como olhar, como sinalizar, o que podem ser sinais de alerta, o que podem fazer”, adianta Carolina Manta.
Nas 20 sessões para o pré-escolar e nas 15 para o 1.º ciclo, há um animal que é o fio condutor deste percurso. O Dropi é um canguru que se alimenta de sentimentos e que ajuda crianças a falar de emoções. É um canguru azul, que existe em peluche, que é apresentado no início do programa. É uma criação da Associação Unificar, associação sem fins lucrativos, do Porto, que se dedica à criação de respostas para a promoção de saúde mental, prevenção de comportamentos de risco, parceira da Encontrar+se neste programa.
O Dropi é a personagem principal da história infantil “Dá o Salto com o Dropi!”, escrita por Daniela Costa em 2014. Tem orelhas e olhos grandes, vive envergonhado na bolsa da mãe, até que uma tempestade o deixa sozinho e ele tem de expressar o que sente e ouvir os outros. Percebe que as orelhas compridas lhe permitem escutar sons ao longe e que os olhos grandes lhe possibilitam estar atento a si, aos outros, à comunidade. Sabe que depende dos outros para sobreviver. Representa a responsabilidade, a autonomia, a liberdade, o respeito, a atenção e escuta. E valores como o amor, o cuidado, a liberdade, a união e a partilha.
Corações amarelos para falar da alegria e partilhar momentos felizes
Na Escola Básica de Campo Grande, em Esmoriz, também é dia de sessão na sala da professora Ana Oliveira, no primeiro piso do edifício de arquitetura típica das antigas primárias, janelas todas de um lado, soalho de madeira. Os 20 alunos do 2.º ano já sabem quem é o Dropi e vão falar de alegria. Tudo preparado. Sentam-se em roda no chão, pernas cruzadas, colocam as orelhas de papel do Dropi na cabeça, há corações amarelos para distribuir. Amarelo é a cor da alegria, aprenderam na sessão anterior. Cada aluno recebe um coração para decorar com lápis de cor. “Vamos fazer um exercício de partilha e tornar este dia mais feliz”, anuncia a professora.
Corações decorados a gosto, é hora de escolher um colega para o coração que leva um fio cor de laranja para colocar ao pescoço como um colar para andar ao peito. Beatriz Barbosa, de seis anos, oferece o seu coração à amiga Lorenna Louise que lhe dá o seu decorado com caras alegres e a frase “eu gosto muito da Bea”. O objetivo é sentirem-se felizes, a dar e a receber, e a distribuição continua. Depois é tempo de cada um contar um momento alegre e feliz. Bruna Sofia confessa que está a chorar de alegria, não se veem lágrimas, vê-se um sorriso na cara. E partilha o seu momento. “Eu vou contar uma coisa que me fez muito feliz, foi voltar a ver e abraçar a minha irmã que não via há muito tempo. Ela traz presentes de Inglaterra para cá.”
Beatriz também fala dos seus momentos felizes. “Tenho dois, primeiro quando a minha madrinha me deu o carro com a boneca que eu mais queria, e a boneca nova que me vai dar no Natal.” Está quase. A partilha prossegue até ao fim da sessão, antes de almoço, todos sentados no chão. Há filmes vistos recentemente que foram momentos felizes, presentes recebidos que causaram uma alegria sem fim. Ana Oliveira, professora de voz doce, vai dando a palavra um a um na roda feita no meio da sala, com as carteiras a toda a volta.
Enquanto isso, ao longo desta quinta-feira de novembro, Sara Oliveira e Juliana Costa, assistentes operacionais nessa escola, olham pelos mais pequenos. No intervalo, a meio da manhã, as crianças brincam no recreio, está bom tempo, umas aproveitam para ir à casa de banho, algumas pedem ajuda, outras vão sozinhas. A pequena Aurora não larga Juliana, pede-lhe colo, mostra-nos com os dedos da mão os anos que tem, três dedos ao alto. As duas funcionárias participaram na formação do programa destinada a não docentes, 14 horas que foram dadas em dois dias. “Foi muito enriquecedor, aprendemos mais um bocadinho como lidar com as crianças no dia a dia no pré-escolar e no 1.º ciclo”, recorda Sara Oliveira.
Não foi teoria apenas, foi prática também, partilharam-se episódios de quem está nas escolas e cuida dos mais pequenos no recreio, na cantina, nos corredores, nos espaços escolares. “Aprendemos métodos e estratégias, como falar com as crianças, como chamá-las a atenção, saber chamá-las à parte quando há uma confusão, quando há uma quezília, para as acalmar”, adianta Sara Oliveira que garante que falar de saúde mental foi importante para si, assistente operacional naquela escola há quase três anos. “As crianças devem ser capazes de expressar o que estão a sentir, o que estão a passar, para que possamos ajudá-las a compreender melhor tudo isso.”
Juliana Costa concorda, é assistente operacional há quatro anos, tranquila por natureza, olhos bem abertos para ver o que se passa quando os pequeninos da pré e os alunos do 1.º ciclo não estão nas salas de aula. “A formação que tivemos deu-nos novas estratégias para lidar com as crianças. Cada vez mais se aborda o assunto da saúde mental e de como lidar com os mais pequeninos e isso é importante”, comenta. Sara e Juliana estão atentas ao que se passa ao redor na hora da brincadeira, do lanche da manhã. Entraram às 8h45, sairão por volta das 16h45. Juliana destaca essas relações recíprocas, de dar e receber. “As crianças é que são a nossa terapia, nós damos e elas também nos dão muito amor. Exigem muito de nós e também nos dão muito.”
Os funcionários não docentes recebem formação no programa. Segundo Carolina Manta, essa parte feita presencialmente é “transformadora”. Por várias razões. “Os não docentes não são ouvidos, sentem-se, muitas vezes, de parte e são fundamentais na escola. São eles que gerem a maior parte dos conflitos, é nos intervalos que eles mais acontecem, onde há comportamentos mais desajustados, o que é difícil gerir”, repara. Essa formação dá-lhes ferramentas. “São ouvidos, validam o que sentem, encontram estratégias diferentes, sobre a saúde emocional, gestão de conflitos. Tentam estratégias novas que depois levam para casa, fazem muitas perguntas para filhos, aumentam o vocabulário emocional dos alunos com quem trabalham”, acrescenta a psicóloga clínica.
O “Quanto Mais Cedo, Melhor” desdobra-se em quatro áreas. Formação de professores de 30 horas, seis presenciais, 14 online, 10 assíncronas, para aplicação do programa em sala de aula. Formação em primeiros socorros em saúde mental para docentes de 25 horas, oito online, seis presenciais, 11 assíncronas. Formação para pessoal não docente de 14 horas presenciais. E capacitação de técnicos, como psicólogos e assistentes sociais, dos agrupamentos onde o projeto está a ser implementado, num programa de parentalidade a cargo da Associação Unificar, de 10 horas online dadas pelas psicólogas Cláudia Adão e Sofia Urtigão, de forma a chegar aos encarregados de educação em oito sessões presenciais de 90 minutos.
Carla Conceição é psicóloga no Agrupamento de Escolas de Esmoriz – Ovar Norte, segue a implementação do programa com as crianças do 1.º ciclo, presta apoio técnico às educadoras no pré-escolar, acompanha as dinâmicas. O retorno que tem recebido, dos vários agentes educativos, revela as repercussões do que está a ser feito. “O feedback tem sido altamente positivo, falam muito bem do projeto e da abordagem com os miúdos a nível da gestão emocional, da cooperação, de saber trabalhar em equipa.” Garante que há vantagens para alunos e professores, maior motivação, mais envolvimento nas tarefas do dia a dia, resolução de conflitos mais facilitada. “Há um bem-estar geral, um maior envolvimento, e sabemos que aquilo que estamos a fazer também tem um impacto direto ao nível do sucesso escolar”, realça.
A prevenção é fundamental, é um objetivo de sempre, sublinha Carla Conceição. “Trabalhando na na prevenção, e mais precocemente, sabemos que os resultados serão muito melhores. E é nossa ambição trabalharmos na base, envolver tudo e todos, todos os agentes, porque todos são importantíssimos, não só pela identificação de sinais ou de dificuldades das crianças, como para saber como atuar.” Em seu entender, a capacitação tem de acontecer em larga escala. Quanto mais abrangente, melhor.
A abordagem é transversal e articulada com toda a comunidade educativa de forma a promover um ambiente aberto à temática da saúde mental, reconhecer sinais e pedir apoio quando necessário. “A literacia em saúde mental é fundamental porque se não sabemos aquilo que estamos a sentir, se não percebemos como gerir, se não sabemos quais são os nossos mecanismos e estratégias, não vamos conseguir fazer frente às adversidades que vão surgindo”, afirma a psicóloga e coordenadora do projeto, Carolina Manta.
O professor Eusébio Oliveira reconhece que assim é. “Quanto mais cedo trabalharmos as emoções, mais impacto terá na vida dos alunos”, constata, acrescentando que o programa tem sido uma mais-valia em toda a linha, para os docentes, para os alunos, para a comunidade escolar. “Quanto mais conhecimento tivermos sobre as competências socioemocionais, mais fácil é para nós o autoconhecimento e para prepararmos os miúdos.” Nas sessões, os alunos têm oportunidade de partilhar o que sentem e isso, em seu entender, faz toda a diferença. “Cada um diz porque está triste, porque está contente, porque está com raiva. Exteriorizam o que sentem e ao ouvirem-se há um momento de diálogo em que se sentem mais confiantes e que não estão sozinhos.”
O projeto também chega às famílias. Sandra Grave é mãe de Tiago Filipe de cinco anos e de Gonçalo de oito, da turma do professor Eusébio. Ambos têm sessões do programa, um no pré-escolar, outro no 1.º ciclo, e Sandra participou na formação de parentalidade Dropi há dois anos, conhece bem a história do canguru azul. Todos os dias, ao deitar, por vezes, ao jantar também, ela e o marido querem saber como correu o dia dos filhos, quais as melhores e piores partes, falam da sensação dos momentos felizes, da importância de saber dizer não quando sentem que alguma coisa não está bem, a colocarem-se no lugar do outro, a gerir emoções. “É importante perceber a reação dos nossos filhos no dia a dia, olhos nos olhos, que nos expliquem os seus medos.”
Quanto mais cedo se falar de emoções nas escolas, melhor, defende Sandra Grave. “Mais importante do que tirar boas notas, é saber lidar com as emoções, depois disso vem a Matemática e o Português. Se estiverem frustrados, ansiosos, nervosos, para um teste, não vão conseguir dar o seu melhor.” E isso tem consequências. Lá em casa, em família, falam das aventuras do Dropi e Sandra pensa no canguru que uma tempestade tirou da bolsa da mãe. “Protegemos muito os nossos filhos e é preciso deixá-los saltar, sair, fazer, deixar acontecer. Temos de os deixar crescer para ganhar confiança, responsabilizá-los conforme a idade. E eles percebem isso na história.”
Autoconhecimento e autoestima, empatia e pensamento crítico, literacia emocional
O programa permite um tempo para respirar com calma, parar e refletir. “Ajuda a expor situações, a perceber que os outros têm os mesmos problemas e ficam muito admirados com isso”, revela a professora Ana Oliveira. Na sala, há um painel de registos para escreverem o que lhes apetecer, leem-se várias frases de “eu estou feliz” e “eu estou alegre” escritas a marcadores de várias cores. Há os introvertidos, os extrovertidos, o que falam mais, os que estão mais calados, mais agitados, mais calmos.
Os professores conhecem os seus alunos, a relação de proximidade é visível. “Não há nada mais poderoso do que ser o próprio professor da turma, que lida com os alunos todos os dias, a trabalhar estas competências com eles em sala de aula –‘ foi o meu professor que me ensinou isto, foi a minha professora que me ensinou isto’ – e isto faz toda a diferença, tem um impacto gigante, além de que promove um conhecimento maior do aluno, sob o ponto de vista do professor, sobre questões que, às vezes, acabam por não surgir durante os quatro anos porque não são tão aprofundadas e porque não fazem parte do currículo escolar”, sublinha Carolina Manta.
Um dos objetivos do programa é precisamente colocar a comunidade escolar a falar a mesma linguagem no que se quer promover no desenvolvimento infantil, começando pelos mais novos. “É a altura ideal para pensarem o que é isto de saúde mental, quais os sinais de alerta, como juntar estas competências socioemocionais à saúde mental, porque percebem, nessas competências, como distinguir a alegria da raiva, da tristeza, do medo, aumentando o vocabulário emocional, mas também o que podem fazer, quais os indicadores de quando não estão bem e quando devem pedir ajuda”, repara a coordenadora do programa.
Decorar um coração amarelo para oferecer a um colega de turma mexe nas emoções. A professora Ana Oliveira vê isso a acontecer e o aumento do vocabulário emocional é bem-vindo. “Cada vez mais é importante falarmos em saúde mental, porque faz parte da nossa saúde, enquanto não percebemos o que se passa, não podemos estar bem.” “Temos de encontrar mecanismos, respirar fundo, contar até 10, sair da beira do colega quando se está incomodado e agitado, saber pedir desculpas.” Tudo isso são passos para gerir emoções, para resolver conflitos na sala de aula.
“Tudo isso reflete-se nas aprendizagens, se estão bem emocionalmente, tudo corre melhor”, refere o professor Eusébio. Para si, também tem sido uma aprendizagem como docente, como pai, como homem. “Por mais anos que tenhamos, ajuda-nos sempre, percebemos o que devemos fazer com os nossos filhos, a pensar em certas situações, nas nossas rotinas, que não paramos para pensar. Ajuda-nos a saber como reagir, a ter autocontrolo, a ter mais calma, a pensar um bocadinho. Ao termos essa capacidade de autoconhecimento, é sempre mais fácil resolver as situações.”
O programa arrancou no ano letivo de 2019-2020 em 24 turmas com 524 crianças de cinco agrupamentos do município do Porto, com o apoio da câmara municipal e financiado pelo Programa Norte2020. A segunda edição aconteceu em 2022-2023, depois do interregno da pandemia, em mais de 10 agrupamentos de todo o país, num total de 863 crianças, 268 professores, oito psicólogos e 71 assistentes operacionais. A terceira, no ano letivo passado, 2023-2024, chegou a cinco agrupamentos, em Oliveira do Douro, Moura, Prado, Esmoriz e Manoel de Oliveira no Porto, num total de 806 crianças e 205 agentes educativos, com o apoio do Prémio Infância financiado pelo BPI La Caixa. Este ano, continua em Esmoriz e há contactos de escolas interessadas em Aveiro e nos Açores.
Com a formação, os professores ficam capacitados e certificados para desenvolver o programa na escola onde estão, ou noutra para onde eventualmente irão. Depois da aplicação, há a supervisão feita por Carolina Manta. Mais do que dificuldades, a psicóloga nota surpresa com o alcance do projeto. “A partir do momento em que começam a implementar é transformador porque começam a perceber o impacto que pode ter, as respostas que não estavam à espera de ouvir, as histórias que ouvem e como isso muda a relação com os alunos.”
Os professores partilham histórias do que acontece. Há o caso de um aluno mais brusco e distanciado que a partir de uma dinâmica de uma sessão, com um abraço a todos os colegas, se tornou mais próximo. Ou a partilha de uma aluna sobre um momento delicado que pôs toda turma a chorar e depois a rir num abraço coletivo. Ou o aniversário do Dropi com direito a bolo. A ideia é que o programa seja aplicado de uma forma sistemática com sessões regulares, semanais, se possível. “Quanto mais seguido for, mais impacto tem. Passar por todas as competências, de uma forma gradual, tem impacto nas relações entre eles, nas aprendizagens, na gestão emocional, acabam por mostrar outras competências interessantes que não se conseguiam ver”, conclui Carolina Manta.
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