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O que acontece quando milhões de fãs dispostos a gastar elevadas quantidades de dinheiro em bilhetes para concertos mas não conseguem ultrapassar uma plataforma de venda online? Um percalço sério, que está a ir muito além da indignação e a transbordar para a via política. Tudo começou com a venda de bilhetes para a digressão da cantora norte-americana Taylor Swift nos Estados Unidos, quando a plataforma Ticketmaster não aguentou a expressiva procura por bilhetes para os concertos.
Goste-se ou não do tipo de música, é impossível ignorar o facto de ser um dos nomes que, além de bater recordes no mundo do streaming, movimenta milhões de dólares, quase como se tivesse o toque de Midas. Vejamos os números: a Forbes atualiza com frequência o património da artista, estimando que, em junho deste ano, estivesse avaliado em 570 milhões de dólares, cerca de 550 milhões de euros. A estimativa já valia à norte-americana um lugar na lista das Self-made Women dos EUA, onde ocupava a 48.ª posição. Mas numa outra lista, a dos artistas mais bem pagos, Swift estava ainda mais à frente, com um cachê estimado em 52 milhões de dólares, garantindo a 25.ª posição. Neste campeonato, além das vendas de discos e bilhetes, ainda entram os acordos chorudos para emprestar a sua imagem a empresas como a Peloton ou a Starbucks.
Este ranking dos artistas mais bem pagos foi feito em fevereiro. Mas, em novembro, o cenário poderia ser outro. Aos 32 anos, lançou um novo disco, “Midnights”, que viu a luz do dia a 21 de outubro e rapidamente escalou na lista dos mais ouvidos nas plataformas de streaming. Esta semana, vários temas do álbum estão na lista “Billboard Hot 100”, que agrega as músicas mais populares, contando reproduções em streaming, vendas e alcance nas estações de rádio. “Anti-Hero”, o primeiro single saído do disco mais recente, está há quatro semanas consecutivas na primeira posição.
Conforme esperavam os fãs, foi anunciada uma digressão para apresentar ao vivo o décimo álbum de estúdio – e não só. “Estou encantada por anunciar a minha próxima digressão: Taylor Swift: ‘The Eras Tour’, uma viagem pelas eras musicais da minha carreira (passada e presente)”, era possível ler no anúncio feito pela artista. A ânsia de ver Swift ao vivo, que não tinha uma digressão desde 2018 (em 2020 era suposto passar por Portugal, mas a pandemia trocou as voltas), servia também de combustível. Eram anunciadas dezenas de datas nos Estados Unidos para concertos principalmente em estádios – com capacidade para receber números consideráveis de fãs. Ficava a promessa de datas internacionais e o arranque das pré-vendas a 15 de novembro e a 18 para as vendas gerais. Ainda antes de dia 15, eram anunciadas mais 17 datas nos Estados Unidos, que se juntavam à já extensa digressão. Feitas as contas, havia 52 concertos com bilhetes disponíveis, em 17 estados norte-americanos, com os concertos a arrancarem na primavera de 2023.
O problema é que, a 15 de novembro, quando arrancaram as vendas exclusivas – era necessário fazer um registo e ter um código para aceder – muitos Swifties, nome pelo qual são conhecidos os fãs de Taylor Swift, ficaram não só à beira de um ataque de nervos como de mãos a abanar. Os bilhetes podiam ser comprados online, na plataforma da Ticketmaster, que, em junho de 2021, representava 66% das vendas de bilhetes só nos Estados Unidos. A própria Ticketmaster admitiu em comunicado que foi confrontada com uma elevada procura, contabilizando em aproximadamente 14 milhões os utilizadores que estiveram no site no dia da pré-venda. No entanto, foram vendidos “só” 2,4 milhões de bilhetes nesse dia. “Tendo em conta o volume de tráfego no nosso site, a Taylor precisaria de dar mais de 900 espetáculos (quase 20 vezes o atual número de concertos que vai fazer)”, continua o comunicado. “Era um concerto de estádio todas as noites ao longo dos próximos dois anos e meio.”
Nas redes sociais, eram visíveis as queixas dos fãs, com relatos de que mesmo quem conseguiu comprar bilhetes teve de enfrentar vários erros e esperar horas para conseguir gastar centenas e, em alguns casos, até milhares de dólares nos bilhetes. O processo de compra na Ticketmaster não é simples: só para conseguir aceder à área de venda de bilhetes é preciso passar por um caricato processo de se provar que não se é um robô. Depois chega a parte da espera: surge no ecrã uma barra, uma fila digital, onde é visível quantas pessoas se tem à frente – habitualmente alguns milhares, no caso dos bilhetes de Taylor Swift milhões, embora muitos fãs relatassem que não conseguiam perceber em que ponto da fila estavam. Quem aguentar esta parte acede depois a uma área onde pode introduzir o código e finalmente ver se ainda há bilhetes. Mas não são raras as situações em que já tem bilhetes no carrinho, está pronto a fazer o pagamento e aparece um infame erro de que a plataforma acha que é um bot, não deixando concluir a compra. Ou preços diferentes daqueles que se pensava gastar, tendo em conta comissões e taxas.
Era possível pensar-se que, dada a atual situação económica global, houvesse algum tipo de contenção nas despesas para este tipo de eventos, especialmente tendo em conta que os preços dos bilhetes estão a aumentar. Olhando apenas para os preços da “Eras Tour” de Taylor Swift, os bilhetes arrancavam nos 49 dólares, mas podiam chegar aos 899 dólares no caso do pacote VIP mais caro. Como já se percebeu, a falta de procura não era um problema.
A Bloomberg até deu um nome a este contexto específico ligado a Taylor Swift: “Swiftonomics”. É um contexto em que há uma elevada procura, um bem limitado, muita especulação e fãs capazes de gastar milhares de dólares em bilhetes. Os Swifties são bastante específicos: uma boa parte é composta por millennials e Gen-Z não só capazes de esperar horas como também de gastar muito dinheiro por um bilhete. Uma fã norte-americana contou à Business Insider que gastou 5.500 dólares em dois bilhetes comprados no mercado secundário – e não escondeu o arrependimento. “Não foi divertido, como era suposto ser. Senti-me culpada. Sinto que fiz algo impulsivo em modo de pânico.”
No mercado secundário, a Bloomberg até já encontrou bilhetes a 40 mil dólares. Na StubHub, uma plataforma de revenda de bilhetes, já eram visíveis bilhetes a 22 mil dólares. Além de serem cifras significativas, nem sempre estes bilhetes são seguros – mas é um risco que há muita gente disposta a correr, desde que haja dinheiro para gastar.
Ticketmaster cancelou a venda geral. Nem Taylor nem os fãs gostaram
Um dia antes de arrancar a venda de bilhetes para o público geral, a Ticketmaster cancelou oficialmente a venda. Além de explicar que teve uma elevada afluência ao site, os tais 14 milhões de utilizadores na plataforma, a Ticketmaster justificava o cancelamento com “um inventário insuficiente de bilhetes disponíveis para responder à procura”.
Due to extraordinarily high demands on ticketing systems and insufficient remaining ticket inventory to meet that demand, tomorrow's public on-sale for Taylor Swift | The Eras Tour has been cancelled.
— Ticketmaster (@Ticketmaster) November 17, 2022
A empresa não justificou, no entanto, como é que ficou com um inventário insuficiente se neste tipo de pré-vendas não é sequer possível vender todos os bilhetes disponíveis. A juntar a isto, havia ainda o facto de só 3,5 milhões de pessoas terem acesso aos códigos (ainda assim, “quatro vezes mais do que o anterior pico”). Ao contrário daquilo que tem acontecido em Portugal, em que as pré-vendas para bilhetes têm habitualmente um código bastante geral, a Ticketmaster usa um sistema chamado Verified Fan. Segundo explica a companhia, além da necessidade de registo na plataforma e da demonstração de interesse em comprar bilhetes para determinado espetáculo, cada fã recebe um código único e supostamente de uso único.
O cancelamento da venda geral foi recebido com surpresa e desapontamento pelos fãs, agora mais limitados ao mercado secundário. Também Taylor Swift não gostou de assistir ao que aconteceu e criticou a Ticketmaster.
A 18 de novembro, um dia após o anúncio da Ticketmaster, Swift fez os primeiros comentários públicos sobre a caótica venda de bilhetes, frisando que questionou a empresa “em múltiplas ocasiões sobre se conseguia aguentar este tipo de procura”, recebendo respostas afirmativas.
“Não é preciso dizer que sou extremamente protetora dos meus fãs. Fazemos isto juntos há décadas e, ao longo dos anos, já trouxe vários elementos da minha carreira in house”, disse a cantora, numa alusão ao facto de controlar cada vez mais fatores do seu percurso. E fi-lo especificamente para melhorar a qualidade da experiência dos meus fãs ao fazer eu com a minha equipa, que se preocupa com os meus fãs tanto quanto eu”, escreveu a cantora nas redes sociais. “É realmente difícil para mim confiar numa entidade externa com estas relações e lealdades e é excruciante para mim ver erros a acontecerem sem recurso.”
Na mesma nota, a cantora explicava que “há várias razões para que as pessoas tenham sentido tanta dificuldade a obter bilhetes”, explicando que estava a “tentar perceber como é que a situação podia ser melhorada dali para a frente”. “Não estou a tentar inventar desculpas para ninguém porque perguntámos [à Ticketmaster], várias vezes, se podiam gerir este tipo de procura e garantiram-nos que sim. É realmente incrível que 2,4 milhões de pessoas tenham conseguido bilhetes, mas chateia-me verdadeiramente que muitas delas tenham sentido que passaram por vários ataques de urso para os conseguirem.”
No fim, Taylor Swift deixava uma nota aos fãs pela paciência: “Para aqueles que não conseguiram bilhetes, tudo o que posso dizer é que tenho a esperança de vos disponibilizar mais oportunidades para nos juntarmos e cantarmos estas canções. Obrigada a todos por quererem lá estar. Não têm ideia de quanto isso significa.”
As vozes que pedem a separação do monopólio da Ticketmaster
Se o comunicado de Taylor Swift já borrou a pintura para o lado da Ticketmaster, a situação não melhorou nos dias que se seguiram. No próprio dia das declarações de Swift, o New York Times avançou que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos tinha aberto uma investigação anticoncorrência à dona da Ticketmaster, a Live Nation Entertainment. O jornal citava duas fontes com conhecimento do tema, explicando que a investigação estaria ligada ao abuso de poder da companhia na indústria dos espetáculos ao vivo.
Era sublinhado que a investigação não estava relacionada especificamente com a venda de bilhetes da digressão de Taylor Swift – aliás, as movimentações já duravam há meses – mas que o caso da estrela pop tinha sido mais uma gota num copo a ficar cada vez mais cheio. Os membros do Departamento de Justiça já estavam a fazer alguns contactos junto de entidades responsáveis por recintos de concertos e players do mercado de venda de bilhetes para perceber se estava efetivamente a existir ou não abuso.
As dúvidas sobre se a Ticketmaster é ou não um monopólio não são novas. A Live Nation Entertainment, a empresa que controla a plataforma, foi formada em 2010, quando houve luz verde à fusão entre a promotora líder de mercado, a Live Nation, e a plataforma líder de venda de bilhetes, a Ticketmaster. Em 2009, quando foi anunciado, falava-se no nascimento de uma nova empresa avaliada em 2,5 mil milhões de dólares.
A fusão foi, imediatamente, recebida com críticas por parte da indústria musical. O negócio chegou à Justiça norte-americana e a operação só foi aprovada com remédios (compromissos assumidos pela empresa para fazer avançar a operação). Na altura, a Ticketmaster comprometeu-se a não discriminar recintos de espetáculos que decidissem usar plataformas de bilhetes de outras empresas. Ficou ainda a promessa de que a Ticketmaster iria licenciar o seu software a um concorrente, a AEG, e vender a subsidiária Paciolan, que detinha 7% do mercado de venda de bilhetes, à Comcast. Em 2010, era considerado que, caso fossem cumpridas estas condições, a fusão podia “promover uma concorrência robusta” para “beneficiar os consumidores”.
Mas o acordo foi feito há mais de uma década e, já em 2020, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos ganhou um recurso para fortalecer alguns dos termos, depois de considerar que a empresa californiana teria violado repetidamente algumas das condições.
Passados dois anos, até surgiu um movimento, chamado “Breakup Ticketmaster”, que descreve a Live Nation Entertainment com um monopólio que pesa na indústria. Composto por várias organizações, o manifesto considera que “os consumidores e os profissionais da indústria estão a enfrentar aumentos dos preços dos bilhetes”, “comissões que podem ser o equivalente a 75% do valor de um bilhete” ou a um “comportamento que intimida espaços de concerto e artistas independentes” ou preços “que podem mudar assim que são adicionados ao carrinho de um cliente”.
A American Economics Liberties Project partilhou uma extensa carta a 19 de outubro, onde acusava os responsáveis pela luz verde à fusão de 2010 de “ajudarem a criar um monstro dos eventos ao vivo”. “Os bilhetes são caros e as taxas de serviço que são acrescentadas podem duplicar o preço final. As vendas diretas de bilhetes para concertos populares ficam com frequência esgotadas em minutos, mas de alguma forma os bilhetes em segunda mão ficam disponíveis por mais de 50% do preço original. Pondo a questão de forma simples, a Ticketmaster presta um mau serviço a preços ultrajantes.” Este manifesto explica que, antes da fusão, a Ticketmaster “já dominava os serviços de bilhetes, controlando 80% do mercado”. No caso da Live Nation, antes da fusão, já “era a maior promotora de concertos, controlando mais de 75% dos espaços de concertos nos Estados Unidos, incluindo muitos dos maiores anfiteatros (…)”.
Há ainda outro facto relevante a ter em conta: não só a Ticketmaster tem um domínio significativo na venda de bilhetes “primários”, como também tem um pé no mercado de revenda. Em fevereiro de 2008, dois anos antes da fusão, a Ticketmaster comprou a TicketsNow, uma plataforma onde é possível que fãs revendam bilhetes para eventos desportivos e festivais de música. Na altura, a TicketsNow foi comprada por 265 milhões de dólares.
Voltando a 2022, a conturbada compra de bilhetes para a digressão de Taylor Swift chegou também à cena política. A congressista democrata norte-americana Alexandria Ocasio-Cortez recorreu ao Twitter para pedir a divisão da Ticketmaster, considerando-a um monopólio. “Lembrete diário de que a Ticketmaster é um monopólio e que a fusão com a Live Nation nunca deveria ter sido aprovada e que precisam de ser intervencionados. Dividam-nos”, escreveu a 15 de novembro.
Daily reminder that Ticketmaster is a monopoly, it’s merger with LiveNation should never have been approved, and they need to be reigned in.
Break them up.
— Alexandria Ocasio-Cortez (@AOC) November 15, 2022
Alguns senadores do mesmo partido também partilham desta visão de Ocasio-Cortez. Numa carta enviada ao procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, os senadores Richard Blumenthal (Connecticut), Amy Klobuchar (Minnesota) e Edward J. Markey (Massachusetts) pediram intervenção. “Só uma investigação não faz nada aos intervenientes que já foram penalizados pelo domínio de mercado da Live Nation e pelo seu alegado comportamento anticoncorrência que está em curso”, cita a Reuters. Os senadores realçam que a companhia “tem continuado a abusar da sua posição dominante no mercado”, apesar de duas ações anteriores do Departamento de Justiça. Por isso, foi feito o pedido à justiça para “considerar o recuo na fusão da Ticketmaster-Live Nation e a divisão da companhia”. “Esta pode ser a única forma de verdadeiramente proteger os consumidores, artistas e operadores de localizações de concertos e restaurar a concorrência no mercado de bilhetes”. E os senadores lembraram outro ponto: “em todos os géneros e recintos, os preços da Ticketmaster mais do que triplicaram nos últimos 20 anos”.
Já há notícias sobre uma audição no Senado para apurar mais informações sobre as práticas da Ticketmaster, mas ainda sem data marcada.
A venda de bilhetes para a digressão de Taylor Swift não é a única a estar envolvida em polémica. Também o processo de compra de bilhetes para a tour de Bruce Springsteen, marcada para 2023, se revelou complexo devido aos preços dinâmicos da Ticketmaster. Os fãs do “Boss” foram confrontados com preços elevados, que em alguns caso chegaram aos cinco mil dólares. À Rolling Stone, Springsteen admitiu que a situação “foi pouco popular entre alguns fãs”, mas defendeu que “alguns dos bilhetes continuam a ser acessíveis”. “Nos últimos 49 anos, ou seja lá há quantos anos tocamos, temos praticamente estado sempre abaixo do valor de mercado. E sempre gostei disso, era incrível para os fãs”, recordou o artista. “Mas desta vez disse-lhes ‘olhem, temos 73 anos. As pessoas estão lá. Quero fazer aquilo que toda a gente está a fazer, meus caros’”.
Embora tenha assumido que quis seguir a prática habitual da indústria, Springsteen reconhece que “a compra de bilhetes tornou-se muito confusa, não só para os fãs, mas também para os artistas.” “Não quero ser o rosto dos altos preços dos bilhetes. É a última coisa que queria ser. Mas foi o que aconteceu”, mas assumiu “as próprias decisões”. No entanto, vai acrescentando reconsiderar no futuro se voltará a usar este tipo de fórmula. “Acho que no futuro vamos falar sobre isto, claro.”
Swifties querem justiça e unem-se na “Vigilante Legal” contra a Ticketmaster
Os fãs de Taylor Swift sem recursos económicos ou vontade de alinhar na especulação em curso no mercado de revenda de bilhetes continuam de mãos vazias. Mas não baixaram os braços e estão cada vez mais envolvidos no pedido de intervenção na Ticketmaster.
O comunicado da Ticketmaster a falar sobre a elevada procura não apaziguou a discórdia. Mesmo quem conseguiu bilhetes queixou-se das exorbitantes taxas da Ticketmaster – 500 dólares no caso de uma fã que partilhou a saga de compra de bilhetes com o Mashable. Começou a surgir uma espécie de movimento nas redes sociais para perceber se era possível fazer mais alguma coisa. “A chamar todos os advogados Swiftie: digam-me se querem ser adicionados a um grupo para pensar se podemos fazer alguma coisa contra a Ticketmaster”, partilhou Barnett, uma advogada de 30 anos, com o Mashable.
Do you have Bad Blood with @Ticketmaster? We've just dropped instructions, information, and a template for YOU to report Ticketmaster to your state attorney general! Join us, and use the hashtag #VigilantesStartShit
Head on over to our Outreach Hub at https://t.co/iNElzwysK1
— Vigilante Legal (@Vigilante_Legal) November 22, 2022
Surgia a “Vigilante Legal”, um grupo que em menos de 24 horas já tinha 35 fãs de Taylor Swift, a maioria advogados. Até o nome é inspirado numa canção do novo álbum, a “Vigilante Shit”. “Look what you made me do”, vê o que me fizeste fazer em português, é possível ver na capa da conta de Twitter, numa referência a uma das músicas de “vingança” mais conhecidas da cantora pop. De grupo de mensagens, passou a ser uma empresa sem fins lucrativos.
“Pelo amor de Taylor”, diz o site The Swiftiest, onde os visitantes são recebidos com a mensagem “farto da Ticketmaster? Também nós”. Por lá andam até manuais de instruções sobre como entrar em contacto com o representante dos cidadãos em cada estado e exigir ação contra a Ticketmaster.
O famoso conflito com outro player relevante: o Spotify
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Não é a primeira vez que Taylor Swift trava uma batalha: em julho de 2014, foi notícia a disputa que teve com o serviço de streaming Spotify, devido à fraca remuneração dada aos artistas em troca de milhões de reproduções em streaming. “As coisas valiosas devem ser pagas” foi uma das frases de Swift que se tornou conhecida na altura.
A artista retirou todo o catálogo da plataforma e o assunto teve projeção internacional. Swift não foi, no entanto, a primeira nem a última a exigir remunerações mais altas ao Spotify. Em junho de 2017, a batalha chegou ao fim, com o catálogo a regressar ao serviço.
A organização do grupo de fãs está a ter eco na imprensa internacional, da Associated Press (AP) à Business Insider. “Já não é só uma questão de vingança para os Swifties. Já não é sobre conseguir mais um milhão de bilhetes extra para os fãs da Taylor Swift ou termos uma sessão secreta”, contou o australiano Jordan Burger, de 28 anos, à AP. “É uma questão de igualdade fundamental. E quando se tem um monopólio como este é muito representativo da estrutura de classe de uma sociedade que já não é igualitária e onde não há justiça”.
Alguns dos fãs dizem que já foram confrontados com o poderem estar a ir além do caso Taylor Swift e de ser melhor deixarem o tema da Ticketmaster para o governo. A resposta transmitida por Jordan Burger à AP é clara: “Já viram o governo dos Estados Unidos? O governo só funciona quando há pessoas a pressionar e quando as pessoas exigem que funcionem e que as pessoas se envolvam”.
Não são só os fãs de Taylor Swift dispostos a pagar mais para ouvir música ao vivo
Seja nos Estados Unidos ou em Portugal, os bilhetes para concertos estão com preços mais elevados. Apesar disso, não são só os fãs de Taylor Swift que estão dispostos a gastar mais para ir a concertos, apesar do contexto económico mais desafiante. Um relatório do Golman Sachs, publicado em junho deste ano e dedicado à indústria musical, revê em alta o valor de receitas gerado pela indústria.
“A música continua a soar bem numa inversão macro”, contextualiza o relatório “Music in the Air”. “Esperamos que os gastos do consumidor em música continuem resilientes num ambiente de inflação mais alta e mais fraco a nível macro. A nossa análise mostra que a música continua a ser uma das formas de entretenimento abaixo de monetização, com os gastos ainda 40% abaixo do pico histórico, enquanto o consumo continua a crescer ano após ano.”
Por isso, o banco norte-americano eleva as previsões para 2022 em 7%, até 87,6 mil milhões de dólares, e 5% para 2023, até 94,9 mil milhões, estimando um crescimento de 10% para 2030, para 153 mil milhões de dólares. Especificamente na música ao vivo, é esperado um crescimento de 5% este ano, que poderá render receitas de 29,1 mil milhões de dólares.
“A música ao vivo tem sido uma das áreas mais resilientes da indústria musical nas últimas duas décadas e de longe a mais afetada durante a pandemia de Covid-19, devido ao cancelamento de praticamente todos os eventos ao vivo na maioria das geografias”, completa o relatório. “A indústria recuperou rapidamente” no ano passado e o Goldman Sachs espera que “a forte recuperação continue”, com crescimento homólogo de 85%. “Acreditamos que os consumidores vão estar ansiosos por voltar aos concertos e festivais e acreditamos que as receitas vão ficar a 94% dos níveis de 2019” – no anterior relatório era expectável ficar a 90% dos valores pré-pandemia. Conforme explicou à Bloomberg Lisa Yang, analista envolvida neste relatório, “os concertos são vistos como um luxo acessível em tempos de crise”.