É em Refóios do Lima onde o portão de uma pequena propriedade se abre para nos dar a conhecer as plantações de Juliana Ferraz, Daniela Abreu e Vanessa Afonso. Amigas de longa data, é cimentado nessa amizade que nasce o projeto conjunto de agricultura biológica, Ingrediente Positivo.
Tudo começou com três sacholas, dois regadores e muito pouco conhecimento sobre aquilo que é, de facto, este tipo de agricultura. Motivadas pelo desemprego e pela cedência de terrenos de familiares, foi numa altura de dificuldade que decidiram dar este salto de fé, arriscando e desafiando-se a dar vida a um projeto que mal sonhariam vir a tornar-se na sua vida.
“Estes terrenos são dos meus avós. Os anteriores eram da minha mãe. E eu costumava dizer na brincadeira: um dia pego nas terras e faço qualquer coisa. Mas nunca dava em nada. Até que um dia, a Vanessa estava sem trabalho, a Daniela ficou desempregada e então pegámos no terreno e começámos a experimentar morango. Mas no início foi mesmo muito experimental”, começa por partilhar Juliana, acrescentando em seguida que o facto de serem um grupo de mulheres foi também um dos grandes fatores que impulsionaram o negócio.
As três de um meio pequeno, afirmam que o ser-se mulher ainda é um entrave: “Eu acho que também nos deu alguma pica o facto de sermos três raparigas. Toda a gente dizia que éramos malucas, que isto não ia ser fácil, que não íamos conseguir. Havia muita pena. E isso acabou por nos estimular. Foi o desafio e no início foi uma aventura todos os dias”, acrescenta.
O que é certo é que contra todos os desafios, descrença e provas de fogo, juntas deram início àquele que seria o projeto das suas vidas. Contudo, não hesitam em partilhar como é difícil montar um negócio de raiz e como foi difícil conseguir superar os obstáculos de um projeto a nascer. Ainda que os campos fossem de família, o que dizem ter facilitado o começo, rapidamente esclarecem que isso acaba por não fazer diferença ao longo do processo. Principalmente para uma engenheira civil, uma animadora sociocultural e uma licenciada em serviço social, que nada sabiam sobre agricultura.
“Quando começámos não tínhamos absolutamente noção de nada. Os meus avós eram agricultores de ambos os lados, tanto da parte do meu pai como da parte da minha mãe, mas eu era a menina que ficava em casa a ajudar a preparar o pequeno-almoço para levar para o campo, nunca ia para lá. O que aconteceu foi que eu pedi à minha mãe para ir à feira, dei-lhe 100 €, e disse-lhe para ela comprar três sacholas e dois regadores…dá para ver a falta de noção? Eu acho que se fechar os olhos ainda nos consigo ver naquela leira de cima a pensar nos morangos. Veio o trator, descarregou o estrume, e nós pensámos: e agora?”, são palavras de Juliana, rapidamente complementadas pelas de Daniela: “Nós demorámos um mês a fazer aquela plantação de morangos. Aquilo é o trabalho de uma manhã, agora. Foi tentativa-erro. Fazer muita pesquisa, muitas perguntas. Contratámos consultoria também. Era um engenheiro que vinha uma vez por mês tentar identificar pragas, possíveis problemas. Depois certificámos os terrenos…no início nem dava para vendermos em modo biológico, o que também dificultava imenso”.
Apaixonadas pela área que agora exercem, reconhecem que o caminho até ao presente foi atribulado, mas prazeroso. E que a ideia que tinham de agricultura biológica, antes de a começarem a praticar, nem sempre correspondeu à realidade.
“Percebemos que não era só ir para o campo e plantar. Há todo um processo – a logística da venda, a comercialização, a contabilidade, etc. No início não fazíamos contas a nada, plantávamos e logo víamos no que dava. Os primeiros 2 anos não recebemos dinheiro nenhum, não tínhamos ordenado porque não chegava. Tudo isso foi uma aprendizagem. Produzir, tentar cada vez produzir melhor, cada vez produzir mais, tentar arranjar mercado e organizar a empresa…foi todo um processo”.
É ao olhar para trás que afirmam que tudo teria sido mais fácil se, logo desde a estaca zero, tivessem recorrido a ajudas financeiras: “Se tivéssemos pedido um crédito logo no início tinha sido mais fácil. Teríamos mais tempo e anos de vida. Foram ali 5 anos muito intensos. De muito investimento, quer a nível financeiro, quer a nível pessoal. Se não for um crédito, como é que um jovem de 25, 26 ou 30 anos consegue fazer um investimento deste? O investimento que está aqui é de 70 mil euros. E ninguém tem esse dinheiro para investir. Se não forem estes apoios, não há novos projetos a acontecer, é impossível”, reforça Juliana.
Sentadas em volta de uma mesma mesa, recordam com alguma nostalgia estes cinco anos que passaram, olhando para trás com um sentimento de orgulho e afirmando que em momento algum se arrependeram da decisão tomada. Hoje, são uma pequena produtora de agricultura biológica de sucesso, contrariando todas aqueles que duvidaram do seu potencial. “Eu acho que nós primamos pela qualidade. Temos produtos de qualidade e tudo aquilo que colhemos é colhido e entregue no dia. É quase o nosso lema e as pessoas apreciam isso. Chegámos a um ponto em que agora já ninguém nos questiona”, confessa Juliana, falando pelas três.
Provas dadas, clientes fidelizados e negócio a crescer a pouco e pouco, o futuro apresenta-se risonho, mas nunca conformado. Com muita vontade de evoluir, o grupo de empresárias afirma que o caminho ainda agora começou a ser traçado.
“Se percebermos de onde começámos e onde estamos, foi um grande caminho. Mas até onde podemos ir, é um caminho ainda maior. Temos pouca área ainda, em termos de clientes não explorámos tudo o que podíamos explorar…é preciso otimizar aquilo que temos de forma a conseguir investir e crescer mais”.
Certo é que na receita para o futuro não faz faltam os ingredientes principais: vontade, persistência e paixão. “Um engenheiro que nos ajudou no início disse-nos que para fazer agricultura biológica eram preciso 3 coisas: persistência, persistência, persistência. Na altura não percebi e achei aquilo um pouco irrealista, mas entretanto fez sentido”. Palavras de Juliana que, quando confrontada com a pergunta “O que diriam a alguém que tem o mesmo sonho?”, não hesita em responder: “Eu daria o conselho que nos deram a nós: faz uma horta, vê o que custa e depois logo decides. E foi o que fizemos. Custou muito, mas nós avançámos na mesma. Experimentar. Adquirir conhecimento. É preciso gostar mesmo muito. Trabalhar sem paixão, em qualquer profissão, é terrível”.
Paixão e afeto é coisa que não falta neste grupo de amigas, sócias e mulheres empreendedoras. Num negócio que começou familiar, é precisamente em família que se mantém e é no meio de amor que são plantados e colhidos todos os frutos.
Num processo que tinha tudo para colocar em prova esta amizade, o resultado é precisamente o oposto: “Nós já passámos por muitas coisas juntas. Isto é o nosso dia-a-dia. Nós nunca nos chateámos e estamos juntas desde 2015. Não temos as mesmas opiniões, não temos os mesmos pontos de vista, mas acima de tudo acho que é a comunicação. Isto tem sido uma aventura mesmo muito grande e eu acho que ela só tem sido possível graças ao companheirismo”.
É de braço dado que enfrentam todos os dias no campo, prontas para enfrentar o futuro com um sorriso nos lábios. Afinal de contas, o adubo que mais faz crescer a semente, este grupo de amigas já o tinha: a amizade.
Com ou sem grupo de amigas, se também tem este sonho, saiba que é possível. Ter uma ajuda financeira pode ser o empurrão que faltava. O Credibom ajuda-o dar crédito à liberdade. Saiba mais, aqui!
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