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Roman (Kieran Culkin), Shiv (Sarah Snook) e Kendal (Jeremy Strong): os irmãos Roy na frente da corrida para a sucessão do monstruoso patriarca. Ou será que não é bem assim?
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Roman (Kieran Culkin), Shiv (Sarah Snook) e Kendal (Jeremy Strong): os irmãos Roy na frente da corrida para a sucessão do monstruoso patriarca. Ou será que não é bem assim?

Roman (Kieran Culkin), Shiv (Sarah Snook) e Kendal (Jeremy Strong): os irmãos Roy na frente da corrida para a sucessão do monstruoso patriarca. Ou será que não é bem assim?

Um elenco perfeito, uma novela requintada e o vernáculo afinado: o que esperar da última temporada de "Succession"

Já vimos os quatro primeiros episódios do encerrar desta história de sucessão, inveja e trauma familiar. Sem spoilers, dizemos-lhe que pode contar com tudo o que já esperava — e talvez um pouco mais.

Escrever este texto é mais ou menos como um jogo de mímica. Há palavras proibidas, sons cuja reprodução em palavras é proibida de forma oficiosa e momentos que não adianta explicar. Primeiro, porque ficariam muito aquém do que se passa na história; segundo, porque qualquer reprodução da narrativa nesta altura do campeonato equivale a um spoiler — e isso equivale, por sua vez, a uma quase-crime.

Mas há coisas que podemos dizer, até porque já o sabíamos. É o fim de uma era. Não da era dos Roy, que poderão viver no nosso imaginário para lá do último capítulo, mas sim o fim do reinado de uma das melhores séries da última década. Quem ainda torcia o nariz a “Succession” (provavelmente apenas as pessoas que não lhe deram uma oportunidade), deixa de ter argumentos nesta quarta e última temporada, que se estreia na HBO Max esta segunda-feira, 27 de março. Já vimos os quatro primeiros episódios (disponibilizados aos jornalistas) e explicamos-lhe porque é que vai valer a pena seguir o final deste enredo semana após semana (mas não revelamos segredos).

A última ceia servida com surpresas que ninguém vê chegar

Façamos bem a matemática. São dez episódios, apenas os quatro primeiros foram partilhados com os meios de comunicação social. Cada um destes quatro tem uma hora. Cada uma destas horas é um corropio de diálogos magistrais, atores levados ao limite do seu potencial e, como se isso não chegasse, ainda há surpresas que ninguém vê chegar — e que, garanto-vos, deixarão alguns de vós em negação (palavra de quem já viu) durante bastante tempo. E se os quatro capítulos que dão início à temporada têm um nível tão elevado, imaginem o que está reservado para os restantes seis — tão secretos que continuam fechados a sete chaves na HBO, não se tendo sequer corrido o risco de os disponibilizar para críticas.

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[o trailer da quarta temporada de “Succession”:]

Onde é que nós estávamos?

A 12 de dezembro de 2021 (sim, já lá vão 15 meses) deixámos os Roy em Itália, num casamento idílico e luxuoso. Os cenários eram lindos, mas há sempre, mas sempre, desgraça à espera de acontecer. Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin) tinham unido forças para afastar o pai, Logan (Brian Cox), do império por ele construído. Porém — surpresa — no final de contas foram eles afastados da empresa, ultrapassados pela traição de Tom (Matthew Macfadyen), o totó do marido de Shiv com tanta necessidade de aprovação que foi capaz de passar por cima da mulher para ficar bem visto pelo sogro.

De volta a Nova Iorque, estamos agora a poucos dias da venda da Waystar Royco a Lukas Matsson (Alexander Skarsgård), um geniozinho sueco da tecnologia. Logan Roy está pronto para fechar o negócio, os três filhos estão prontos para lhe estragarem os planos.

Um elenco no auge do seu potencial

Nem sempre Kendall, Shiv e Roy estiveram a remar no mesmo sentido — pelo contrário —, mas é assim que os encontramos no início da temporada. Primeiro, empenhados num projeto que faça frente ao império do pai; depois, obcecados com dinheiro e com a melhor forma de simplesmente travar e derrubar qualquer que seja o plano do progenitor.

“Succession” e os 10 Mandamentos da Lei de Roy

Kendall parece ter deixado os seus demónios (drogas, culpas e afins) para trás, embora comece a temporada com a cabeça cabisbaixa, constantemente de boné, como se ainda carregasse vergonha e precisasse constantemente de se desculpar. Numa situação de crise, parece (sublinho parece) ser o mais capaz de reagir e comandar. Roman é o mesmo inconveniente de sempre, mas deixou de ser um inútil e pensa realmente em soluções para as questões que tem em mãos. Porém, nunca se libertará da carência que vem da infância e basta o pai acenar-lhe com o mínimo de consideração que ele vai a correr como um menino à procura de abraços. É, ainda assim, dos três, aquele que demonstra alguma empatia pelo próximo e o único com problemas de consciência. Não deixa de fazer coisas erradas, mas pelo menos isso incomoda-o.

"Os termos técnicos, as acusações e os insultos misturam-se na mesma frase e parecem poesia. Os Roy são incapazes de ter conversas minimamente normais — e as tentativas de contacto físico demonstram a inaptidão social desta família profundamente disfuncional, onde cada um carrega um trauma com o qual nunca lidou."

Shiv está numa espiral frenética entre o casamento claramente acabado, o afastamento do pai e as jogadas que vai fazendo no mundo dos negócios — e mais um detalhe que condiciona tudo o que foi mencionado até aqui, mas que não posso revelar porque as regras do jogo assim o impedem. Estes três nomes são as estrelas dos quatro primeiros episódios, sobretudo Roman e Shiv, nos quais são mais acentuadas as transformações causadas pelos eventos da última temporada. O terceiro episódio é de uma intensidade monstruosa para estas duas personagens, atiradas para uma montanha-russa que inicia a marcha sem nenhum dos passageiros ter apertado o cinto de segurança. Se alguém puder mandar recado para Hollywood, é favor avisar que este capítulo e os respetivos atores merecem uma cerimónia de prémios só à conta desta hora fenomenal de televisão.

Até um “fuck off” é poesia

“Go on, fuck off” é uma das frases míticas de Logan Roy. Também não é novidade que o texto de Jesse Armstrong e da sua equipa de guionistas é das coisas mais bem escritas da televisão (ou do streaming, escolham), põe tudo o resto a um canto. Se tivéssemos de fazer comparações, podíamos dizer que estes diálogos estão ao nível de um Nobel da Literatura, enquanto todos os outros parecem composições do quarto ano. São bons, mas só até vermos “Succession”. É que não temos uma frase boa aqui e ali, há sequências nas quais as bocas das personagens parecem metralhadoras a disparar expressões que queremos decorar para sempre. Aqui os termos técnicos, as acusações e os insultos misturam-se na mesma frase e parecem poesia. Os Roy são incapazes de ter conversas minimamente normais — e as tentativas de contacto físico demonstram a inaptidão social desta família profundamente disfuncional, onde cada um carrega um trauma com o qual nunca lidou. É isso que torna cada um deles tão cativante. São horríveis, execráveis, rudes, gananciosos e elitistas, mas há uma explicação para isso — esses dados têm sido partilhados ao longo das temporadas e o puzzle está ainda mais composto agora, que nos aproximamos do fim.

Ver “Succession” é como assistir a uma corrida de cavalos. Os favoritos mudam a cada três segundos, os underdogs são matreiros e nunca, mas nunca devemos jurar fidelidade a um único participante

Aqui, as apostas nunca são seguras

Ver “Succession” é como assistir a uma corrida de cavalos, só que aqui temos de ser mais rápidos a fazer as apostas. Os favoritos mudam a cada três segundos, os underdogs são matreiros e nunca, mas nunca, devemos jurar fidelidade a um único participante — tal como as personagens, que têm de estar sempre a olhar por cima do ombro e a assumir que todos são adversários. É perigoso afeiçoarmo-nos a uma delas. O mais provável é acabarmos desiludidos, de coração partido ou chocados. Os episódios são uma roleta russa e a última temporada não é discreta. É empolgante, destrutiva e, espantem-se, até emotiva. A narrativa intensifica-se e a estrada está cada vez mais estreita, deixando cada vez menos caminhos possíveis em aberto. Jesse Armstrong, o criador de “Succession”, veio para a guerra da TV em 2023 para ganhar e não pretende dar hipótese a nenhum dos seus concorrentes.

Amor e ódio são uma única palavra

Logan Roy. É ele o responsável pela criação de um império dos media, uma herança multimilionária que poderia deixar aos filhos. É igualmente responsável por ter três filhos disfuncionais. Tão depressa os insulta como os manipula para que sejam os seus seguidores mais leais. Aqui toda a gente se odeia e se ama — “seja lá o que isso for”, como diria o príncipe Carlos — nas mesmas proporções. Graças à interpretação de Brian Cox, Logan é a personagem mais intragável e difícil de digerir. Porém, há mudanças subtis nas suas expressões faciais e nas suas atitudes que revelam vulnerabilidade (ainda que por breves segundos apenas). A série recomeça com uma festa de aniversário, a de Logan Roy. O apartamento está cheio de gente, amigos e sanguessugas que têm de estar o mais perto possível do líder. Dos filhos nem sinal. O incómodo causado por essa ausência é palpável e nunca precisa de ser referido uma única vez por palavras. No final do dia, temos só um homem envelhecido e profundamente sozinho — mesmo que tenha sempre ruído à volta.

Na quarta e última temporada, “Succession” dá continuidade aos detalhes que fizeram da série um sucesso (sobretudo o guião) mas vai mais longe — a julgar pela amostra dos quatro primeiros episódios, muito mais longe.

Os renegados são os mais divertidos

O primo Greg (Nicholas Braun) continua a ser o bobo da corte de serviço. Nem é preciso chamar por ele, está sempre atrás da porta, pronto para ser o saco de pancada de alguém. A inocência (ou só falta de noção) ao achar que é minimamente relevante na hierarquia da família continua a jogar a favor da personagem.

Tom é mais inteligente do que isso. Quando escolhe trair a confiança da mulher e ir fazer queixinhas ao sogro, sabe perfeitamente o que está a fazer. Escolheu o lado mais poderoso, entra no círculo restrito de Logan, mas nem por isso tem a admiração do patriarca. Ainda assim, continua a ser uma peça chave em alguns dos momentos mais importantes da história.

Connor (Alan Ruck) é o filho de quem ninguém quer saber — e ele próprio vive relativamente bem com isso. Desde que esteja entretido com os milhões do papá, está tudo bem. No entanto, percebe-se que é um mecanismo de defesa para, mais uma vez, não lidar com absolutamente nada da sua vida. Brinca aos políticos, com a ideia patética de concorrer à presidência dos EUA; brinca aos casamentos, com uma mulher que o despreza sem grande esforço para o disfarçar; brinca ao fazer de conta que nada o afeta. De tão nonsense, as suas intervenções tornam-se divertidas.

Logan Roy. É ele o responsável pela criação de um império dos media, uma herança multimilionária que poderia deixar aos filhos. É igualmente responsável por ter três filhos disfuncionais

Restam os abutres que parecem mais esfomeados que as criaturas sinistras de “The Last of Us”: Frank (Peter Friedman), Gerri (J. Smith-Cameron), Karl (David Rasche). Todos eles trabalharam com Logan Roy nas últimas décadas, todos eles são capazes de atirar os restantes para a frente de um autocarro só para terem um pedaço do império. Descritos assim parecem pessoas horríveis mas, depois de aguentarem as fúrias e as bipolaridades de Logan, não será compreensível?

Na quarta e última temporada, “Succession” dá continuidade aos detalhes que fizeram da série um sucesso (sobretudo o guião) mas vai mais longe — a julgar pela amostra dos quatro primeiros episódios, muito mais longe.

Agora, fuck off, chega de conversa. Deixemos os Roy esventrarem-se no ringue uma última vez.

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