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Decorria o ano de 1966 quando Ronald Reagan, nessa altura um ator com carreira feita que concorria ao cargo de governador da Califórnia, jurou aquilo que ficou conhecido como o 11º mandamento do Partido Republicano: “Não insultarás o teu irmão republicano”.
Ora, Reagan, que é uma espécie de ícone sagrado entre os conservadores norte-americanos, deve ter perdido a conta às voltas que deu na campa durante o último debate para as eleições primárias do Partido Republicano. A 25 de fevereiro, os cinco candidatos (Donald Trump, Marco Rubio, Ted Cruz, John Kasich e Ben Carson) subiram ao mesmo palco para discutir qual deles será o melhor homem para os republicanos fazerem frente aos democratas nas eleições de 8 de novembro. Porém, a discussão andou à volta de insultos — o tom geral da campanha, na verdade, mas ainda mais forte. A política ficou para trás.
“Em 2013, quando eu estava a liderar a luta contra a lei da aministia [para imigrantes ilegais], onde estava o Donald? Ele estava a despedir Dennis Rodman do ‘Celebrity Apprentice'”, atirou Ted Cruz ao magnata nova-iorquino, fazendo referência ao seu reality-show. Trump não perdeu pela demora e passou a insultar Cruz, pegando numa frase do próprio: “Quando dizes ‘fanático louco’ estás a falar de ti, fanático louco?”. Pelo meio, Rubio não quis perder terreno e lançou-se a Trump. “Se ele não tivesse herdado 200 milhões de dólares sabem onde é que Donald Trump estaria agora? A vender relógios em Manhattan!”, disse. Trump esperou pelo momento ideal para chamar “choker” a Rubio, usando um termo na gíria desportiva para designar um jogador que compromete tudo nos momentos mais importantes.
Ben Carson e John Kasich — os dois candidatos que já só estão a cumprir calendário e cujas previsões pouco favoráveis nas sondagens fazem adivinhar uma saída de cena para breve — mal entraram no debate. Às tantas, Carson pediu atenção. “Dá para alguém me atacar, por favor?”
O bom senso diria que, no dia seguinte, tudo isto acalmaria. Mas não. Trump começou o dia a repetir os mesmos insultos contra Rubio no Twitter (incluindo alguns erros ortográficos). Momentos depois, o senador da Flórida subiu a um palco em Dallas, no Texas, e deu resposta ao homem que lidera todas as sondagens. “Ontem, num dos intervalos do debate, ele estava a passar-se. Primeiro tinha de meter mais maquilhagem, porque estava a suar do bigode. Depois queria um espelho de corpo inteiro. Eu não sei porque é que que ele queria um espelho de corpo inteiro quando o pódio só vai até aqui”, disse, apontando para o peito, enquanto o público já soltava gargalhadas. “Talvez fosse para ver se tinha as calças molhadas.”
Não foi Rubio quem começou a campanha de insultos — o senador da Flórida apenas terá entendido que este era o único método para fazer frente a Trump é usar os seus próprios métodos. Que métodos? Eis alguns exemplos: Trump disse que os imigrantes mexicanos são “violadores”; propôs o fecho temporário de fronteiras a todos os muçulmanos; sugeriu que uma jornalista que lhe colocou perguntas incómodas apenas o fez por estar menstruada (“dava para ver que ela tinha sangue a sair dos olhos, sangue a sair da sua não-sei-quê”); referiu-se à única mulher na campanha, Carly Fiorina, que desistiu depois de New Hampshire, dizendo “olhem para aquela cara, quem é que votaria naquilo?”; etc.
“Isto não é a campanha com mais insultos do Partido Republicano. Isto é a campanha com mais insultos de sempre, independentemente do partido. Nunca tínhamos visto nada assim”, disse ao Observador o historiador Lewis L. Gould, historiador e professor emérito da Universidade do Texas, autor do livro Grand Old Party — A History Of The Republicans. “Isto é inédito na política norte-americana. Nós costumávamos pensar que os candidatos presidenciais eram figuras dignas, mas isso não se vê em Trump. Ele tem uma boca muito, muito suja. O instinto dele é insultar os outros. E os outros seguem-lhe o exemplo”, diz, numa entrevista por telefone.
Enquanto Gould parece algo surpreso — ou, antes, pouco habituado a esta realidade —, Geoffrey Kabaservice acredita que aquilo a que se tem assistido na campanha para a nomeação do Partido Republicano é o resultado de anos da atual “cultura dominante” dos EUA.
Kabaservice, que é diretor de pesquisa do Republican Main Street Partnership, um grupo que junta senadores e congressistas republicanos da ala moderada e do centro-direita (incluindo o candidato presidencial de 2008 John McCain), fala numa cultura à la Trump: “Trump é uma reflexão da nossa cultura dominante. É uma cultura de materialismo, da televisão dos reality-shows inflamados, onde a cada momento pode irromper uma luta de murros. É a cultura da divisão, do conflito. E é uma cultura feita à medida de Trump”.
“O Tea Party criou forças que agora não consegue controlar”
As sondagens são claras. Trump não está só à frente: tem mais do dobro dos votos do seu segundo concorrente, que, segundo o Huffington Post Pollster, é Ted Cruz — o nova-iorquino surge com 42,7% e o texano com 17,4%. Logo a seguir está Marco Rubio, com 16,6%.
Nos dias que antecederam a Super Terça-Feira (que acontece hoje, no dia em que mais estados vão a votos ao mesmo tempo nas primárias, num total 12 mais a Samoa Americana e os democratas no estrangeiro), a imprensa norte-americana, da mais liberal à mais conservadora, foi inundada com artigos cujo título era a variação da mesma pergunta: como é que se pode parar Trump?
Para Kabaservice, essa pergunta já vem tarde. “Lamento admiti-lo, mas cada vez mais estou certo de que já vamos muito tarde para pará-lo”, diz ao Observador a partir do seu escritório em Washington D.C.. A falta de esperança nesse sentido, e a falta de uma alternativa, ficou bem patente num texto de opinião de Reihan Salam, jornalista da revista conservadora National Review. Nele, Salam propunha uma fusão ao estilo de Voltron, um desenho animado onde leões-robôs se fundiam para unir esforços, entre Rubio e Cruz. “Nada menos do que uma amálgama profana de conservadores anti-Trump pode salvá-los de várias noites sem pregar olho nas próximas semanas”, escreveu.
Rubio e Cruz, leia-se, duas das caras mais célebres do movimento Tea Party — uma mistura de conservadorismo social acérrimo com um liberalismo quase ímpar no que diz respeito a assuntos fiscais ou de intervenção do Governo. Um dos momentos mais célebres deste movimento — e uma prova do quão longe os republicanos do Tea Party estão dispostos a ir — foi quando a maioria republicana no Congresso conseguiu suspender a ação do Governo em outubro de 2013. Um dos momentos mais emblemáticos foi o discurso de 21 horas que Ted Cruz fez, um número de filibuster contra o plano universal de saúde do Presidente Barack Obama.
Anti-Obama, anti-governo, anti-Washington. Assim é o Tea Party — e assim acabou por ser Trump, explica Kabaservice. “O Tea Party é muito importante na postura e retória anti. E Donald Trump, que nem sequer era uma figura do Tea Party, é o maior beneficiário de tudo isso, de toda a raiva que tem sido alimentada pelo Tea Party”, diz o analista político, também autor do livro Rule and Ruin: The Downfall of Moderation and the Destruction of the Republican Party, From Eisenhower to the Tea Party.
“Se pensarmos no que pode ser o nome preferido entre as pessoas deste movimento para ser o nomeado do Partido Republicano, é provável que o mais consensual seja Ted Cruz. Mas o Tea Party criou forças que agora não consegue controlar. Entre estas, a mais forte é o populismo do qual Trump se aproveitou para crescer como nenhum outro candidato”, diz Kabaservice. “É a retórica do anti no seu ponto mais forte.”
Gould, o historiador, concorda, aludindo àquilo que acredita ser, “histórica e socialmente”, a “base eleitoral do Partido Republicano”: “São os anti-Obama, anti-imigração, anti-governo, odeiam o Presidente, odeiam os imigrantes. E quanto Trump disse, com muita naturalidade, que quer deportar 11,5 milhões de pessoas, essa base do Partido Republicano respondeu ‘É mesmo isso que a gente quer'”.
E, ao mesmo tempo, estas pessoas estão zangadas, garante o historiador: “Sem que eles esperassem, os piores pesadelos de uma parte considerável do eleitorado republicano tornaram-se reais. Não só os EUA têm um Presidente negro, como muitos deles acreditam que ele é um muçulmano que nasceu no estrangeiro”.
(As acusações polémicas de que Obama não nasceu nos EUA ganharam força quando o próprio Donald Trump iniciou essa campanha em 2011. O Presidente acabou por divulgar o seu certificado de nascimento, que comprovava que nasceu no estado norte-americano do Havai, e ainda aproveitou uma oportunidade para gozar com Trump no jantar anual dos correspondentes da Casa Branca. Ainda assim, a conspiração não terminou. Em dezembro de 2015, foi divulgada uma sondagem que referia que 60% dos apoiantes de Trump acreditavam que Obama nascera fora dos EUA.)
Quase de um fôlego, Gould refere nomes de candidatos do lado republicano para além de Trump. Perante a conceção do eleitorado republicano deste historiador, todos falham. Jeb Bush: “Falhou redondamente porque tentou ser uma voz razoável no tema da imigração e no final de contas provou ser um dos piores políticos em campanha de que há memória”. John Kasich: “Faz bons discursos, é certo, mas o facto de ter sido governador, além de ser moderado, é o beijo da morte para qualquer pessoa com aspirações do lado republicano”. Ben Carson: “Já está completamente de fora, neste momento só está a angariar dinheiro para não ter ainda mais prejuízo com a campanha”.
E, por fim, os dois homens que, teoricamente, ainda podem bater Trump. Ted Cruz: “É detestado no Senado e está a perder força”. E Marco Rubio: “É um political junkie que tenta ser tudo ao mesmo tempo e que tem vários esqueletos no armário”. Assim, Gould só tem uma conclusão: “Não há nenhum cavaleiro numa armadura reluzente que vá salvar o partido desta situação. Não dá para vencer alguém com dois ninguéns“. Nem que façam uma junção ao estilo de Voltron.
Enquanto isso, já há personalidades destacadas dentro do Partido Republicano que se começam a habituar à cada vez maior probabilidade de Trump vir a representá-los nas eleições de 8 de novembro de 2016 — ao ponto de declarar o seu apoio ao magnata depois de o atacarem. Foi assim com o governador do Maine, Paul LePage. Segundo o The New York Times, LePage apelou aos restantes governadores republicanos para escreverem uma carta aberta a “rejeitarem” Trump — proposta que não foi seguida. Dias depois, declarou o apoio ao homem que dias antes queria expulsar da corrida.
E o que dizer de Chris Christie, o governador de New Jersey, diretor da Associação de Governadores Republicanos e, mais recentemente, antigo candidato a estas primárias republicanas? No New Hampshire, deixou claro que não reconhecia em Trump as capacidades para liderar os EUA: “Acabou-se o espetáculo. Não estamos a eleger um Presidente do Entretenimento. Ter presença de palco é engraçado, mas não é o tipo de liderança que vai verdadeiramente mudar a América”. Isto foi a 5 de janeiro. A 26 de fevereiro — o dia a seguir ao debate na CNN —, Christie declarou o seu apoio a Trump.
“Se Reagan concorresse hoje em dia, seria varrido por Trump!”
Lewis L. Gould é historiador — e, por isso, é difícil entrar em exercícios especulativos. Ainda assim, fá-lo recorrentemente a pedido dos jornalistas que, a cada passo em falso do Partido Republicano, o abordam para tentar entender o que se passa com os conservadores norte-americanos. Já lhe tinham feito esse pedido em 2012. “Perguntaram-me nas eleições desse ano se Ronald Reagan teria hipóteses nas primárias do Partido Republicano. Nessa altura hesitei um pouco, pela primeira vez. Antes disso, achava que, sim, ganharia quaisquer primárias. Mas em 2012 o ambiente já era hostil. Por outro lado, eu pensava ‘mas ele tinha charme, era capaz de falar às pessoas, negociava com elas, tentava chegar a um meio-termo’. Então, lá dava a minha resposta de 2012: ‘Teria dificuldades, sim. Mas podia ganhar’.”
E em 2016, Ronald Reagan teria alguma hipótese? “Nem pensar!”, responde o historiador, com a voz a soar de forma estridente no telefone. “Ele recusava-se a trocar insultos. Isso é o que fez Kasich, e isso serviu-lhe de quê? Os tempos que o Partido Republicano atravessa demonstram que não há espaço para negociação, às vezes quase que não há espaço para a razão, no sentido filosófico. Se Reagan concorresse hoje em dia, seria varrido por Trump!”
É justo dizer que Trump foi crítico de Reagan nos anos 80, partilhando com ele pouco mais do que o slogan de campanha “Vamos tornar a América grande de novo”. No seu bestseller de 1987, Art of the Deal, Trump escreveu as seguintes palavras sobre o então Presidente Reagan: “Ele é tão ágil e um performer tão eficaz que caiu completamente nas graças do povo americano. Só agora, sete anos mais tarde [Reagan foi eleito em 1980], é que as pessoas começam a questionar se há algo por detrás daquele sorriso”.
Mas, para os especialistas contactados pelo Observador, não é só Trump que, entre os candidatos nas primárias do Partido Republicano, vai contra o legado de Reagan. O mesmo se aplica a Cruz e a Rubio — por mais que estes parem a cada frase para citar o exemplo do homem que liderou os EUA entre 1981 e 1989.
“Reagan é uma figura sagrada entre os republicanos, sobretudo os mais conservadores”, explica Gould. “Mas se olharmos bem para o que ele fez, só podemos dizer que ele era um político pragmático, não era um conservador puro sangue.”
Prova disso é a lei do aborto que aprovou enquanto governador da Califórnia e permitiu que fossem feitas cerca de um milhão de interrupções voluntárias da gravidez; aumentou os impostos ao longo da sua presidência; assinou tratados com o líder da União Soviética em plena Guerra Fria; e aprovou legislação referente à imigração que hoje seria apelidada, no mínimo, de moderada, se não mesmo progressista, trazendo “para a luz” aqueles que até então tinham de se “esconder nas sombras”.
Tudo isto fez-se enquanto Reagan era obrigado a negociar com um Congresso democrata — o Partido Democrata controlou aquele órgão entre 1955 e 1995. “Reagan era capaz de convencer, e também vencer, as pessoas pela via do argumento e da persuasão”, explica Kabaservice. “E agora isso não existe. Rubio, que ao longo da sua carreira tem usado a retórica para fazer política, está agora à caça de Trump por causa dos impostos deles, por causa das falências que ele teve e todas as polémicas que isso pode trazer. Mas nunca fala das acusações que Trump faz quando ataca os mexicanos ou os muçulmanos.”
Porquê? “Porque Rubio enfiou-se num buraco muito apertado de onde não consegue sair. Se ele alguma vez falar contra Trump nesses temas, vai perder votos, e toda a gente sabe isso.”
Assim, a campanha republicana pode assemelhar-se cada vez mais a um concurso em que cada um ensaia um leque de ideias o mais à direita e conservadoras possível. É essa a lógica — mas, geralmente, não para sempre. Agora, argumenta o historiador Gould, há nós que já não se desatam: “A tradição é os vencedores das eleições primárias aproximarem-se do centro quando chegam as presidenciais. Mas não vejo como é que Trump vai fazer isso. O que é que ele poder fazer? Vai dizer ‘Vamos tornar a América grande de novo’ devagarinho?”
A demografia que não se apaga com insultos
Se as sondagens são claras em afirmar que Trump será o candidato nomeado pelo Partido Republicano, também há outra evidência apontada pela esmagadora maioria dos estudos de opinião: se alguma vez lá chegar, Trump vai perder em 8 de novembro. Seja contra Bernie Sanders ou, como parece também cada vez mais provável, Hillary Clinton.
Segundo o Huffington Post Pollster, que junta os dados das sondagens mais relevantes, Hillary Clinton teria 48% frente aos 44% de Donald Trump. No caso de o embate ser com Sanders, o socialista democrático levaria 50% contra 42% de Trump.
Mais interessante é também entender que, de todas as hipóteses que restam, só há um candidato republicano que, segundo as sondagens, poderia vencer os democratas: John Kasich, o mais moderado dos republicanos e, por isso, o único capaz de roubar votos ao eleitorado do partido adversário. De resto, Clinton e Sanders vencem contra Cruz, Rubio ou Carson.
A razão para isto é apenas uma: demografia. “Os EUA já não são os EUA brancos de outros tempos”, diz Gould, como se isto se tratasse — e trata — de uma evidência. Com isto, surgem consequências eleitorais. Segundo o Latino Decisions, uma agência que estuda o voto da minoria hispânica nos EUA, qualquer candidato precisa que 47% dos latinos votem em si para poder chegar à Casa Branca.
Enquanto isso, Trump chama “violadores” aos mexicanos que imigram para os EUA e pede a construção de um muro; Cruz defende uma fronteira mais segura, também com um muro, e diz que “é claro” que vai deportar os 12 milhões de imigrantes sem documentos que vivem nos EUA; e Rubio foge com pés de lã dos tempos em que apoiou a amnistia a quem vivesse ilegalmente no país.
O resultado disto é evidente. Eis os resultados apontados por uma sondagem divulgada pelo Washinton Post que teve em conta apenas o voto latino. Clinton contra Trump: 73% — 16%; Clinton contra Cruz: 65% — 27%; Clinton contra Rubio: 61% — 31%; Sanders contra Trump: 72% — 16%; Sanders contra Cruz: 61% — 28%; Sanders contra Rubio: 57% — 33%.
“Em termos eleitorais, tudo isto é um erro tremendo”, explica Kabaservice. E, verdade seja dita, um erro repetido. Na campanha de 2012, o candidato presindencial Mitt Romney insistiu várias vezes no conceito de “auto-deportação”, em que os imigrantes ilegais teriam de sair do país pelo próprio pé. Mais polémico foi outro candidato nas primárias republiclanas, Herman Cain, que deixou a seguinte promessa: “Vamos ter uma vedação verdadeira. Seis metros de altura, com arame farpado. Eletrificada! Com um sinal do outro lado a dizer: pode matar-te”. À ideia de isto ser “insensível”, respondeu que “insensível é quando eles entram pela nossa fronteira e matam os nossos cidadãos e os nossos guardas de fronteira”.
Este tipo de discurso, aliado à inevitável demografia, e tendo por cima a derrota de Romney contra Obama em 2012, foi o suficiente para soarem os alarmes na sede do Partido Republicano. Assim, foi elaborado um documento conhecido no meio político como “o relatório de autópsia”, cujo nome oficial, bem mais simpático, é “Projecto Oportunidade e Crescimento”.
Se havia uma lição a retirar daquele documento, era esta: “Temos de acolher e promover reformas tolerantes perante a imigração. Se não o fizermos, o apelo do nosso partido vai continuar a encolher em direção a apenas os nosso bastiões”.
“Todas as recomendações do relatório de autópsia de 2012 foram ignoradas”, lamenta Kabaservice. “O resultado é o que temos agora à nossa frente”, admite.
Corria o ano de 2013 quando o relatório saiu. Nessa altura, o Tea Party instalava-se no Congresso e no Senado. Rubio ganhava o cunho de “príncipe do Tea Party”. Cruz preparava-se para contribuir grandemente para o bloqueio do Governo. E Trump, o que fazia?
Muitas coisas. Mas, entre elas, era nomeado para o Hall Of Fame da WWE. Isso mesmo, o sítio onde a luta livre e a telenovela dão as mãos e são felizes.
Trump e WWE não são uma combinação recente. Mas, a haver um ponto alto, foi aquele em que o magnata do imobilário nova-iorquino subiu ao ringue e começou, muito ao seu estilo, a distribuir porrada.
Nessa altura, os histriónicos locutores da WWE exclamaram: “Donald Trump está a entrar num mundo que ele não conhece. Isto não é o imobiliário. Eeeh, olhem para isto! Trump, Trump, Trump, Trump, ah-aaaah! Ó meu Deus! Mandou-o ao chão!”.
Naquela altura, era a luta livre em jeito de telenovela. Agora, pode ser a presidência dos EUA.