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Italy - Valentino 45th Anniversary - Ara Pacis Exhibition
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O "Vermelho Valentino" já conquista passerelles e corações desde 1959 e, tal como o próprio fundador, tem o seu lugar garantido na História da Moda.

Corbis via Getty Images

O "Vermelho Valentino" já conquista passerelles e corações desde 1959 e, tal como o próprio fundador, tem o seu lugar garantido na História da Moda.

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Valentino Garavani. A sofisticada "la vita in rosso" do imperador da moda

Chamam-lhe imperador, mas também foi embaixador. Da moda, do glamour, de Itália... Aos 90 anos, está afastado das passerelles, mas o seu legado mantém-se vivo numa das casas de moda mais relevantes.

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No passado mês de março o diretor criativo da casa Valentino, Pierpaolo Piccioli, baralhou os seguidores da marca. Reuniu os convidados do desfile outono/inverno 2022/23 numa sala pintada em rosa choque e apresentou uma coleção com propostas femininas e masculinas limitada ao exuberante fúcsia e também a preto. No início do mês de agosto a Valentino anunciou a campanha “Pink PP” com a atriz Zendaya e o piloto de Fórmula 1, Sir Lewis Hamilton, como rostos da estação e a notícia foi como uma bomba que  salpicou de rosa choque a imprensa. Ousaria Piccioli, fiel guardião do tempo de Valentino substituir o clássico tom Valentino por um jovial, vibrante e atrevido tom de rosa?

Piccioli criou uma chamativa campanha que pretende ter uma dimensão cultural e dar que pensar sobre os valores e a história desta cor. O “Pink PP” é, segundo a marca, “a cor de amor, comunidade, energia e liberdade”. A mais recente coleção de alta-costura provou já haver espaço de sobra para as duas cores e os admiradores da marca podem descansar.  O “Vermelho Valentino” já conquista passerelles e corações desde 1959 e, tal como o próprio fundador, tem o seu lugar garantido na História da Moda.

Valentino Garavani é uma daquelas raras e carismáticas pessoas que são apenas conhecidas pelo primeiro nome. Ele e a marca de moda que fundou em 1960 com o próprio nome. Dizia apenas que queria “fazer as mulheres sentirem-se bonitas”, mas durante uma carreira de mais de quatro décadas criou um império. Fez dos vestidos vermelhos uma assinatura, do seu nome sinónimo de luxo e da confeção uma arte. Ficou conhecido como o “imperador” da moda. Talvez por ter começado a sua carreira em Roma ou simplesmente por ser italiano, a verdade é que sempre esteve rodeado por uma corte de extraordinárias mulheres de várias áreas da sociedade. Valentino nunca se impôs, o seu império foi uma conquista pacífica tendo como armas a beleza e a sofisticação.

Mas esta história não tem apenas um protagonista. Giancarlo Giammetti foi quem tornou a criatividade de Valentino num negócio de sucesso. Desde que se conheceram em 1960 não mais se separaram. Atualmente têm 84 anos e 90, respetivamente, e mantém-se fiéis guardiões da história de encantar da marca que fundaram juntos e que merece ser contada.

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La Dolce Vita

A marca criada por Valentino e Giancarlo vestiu algumas das figuras mais importantes do mundo em momentos históricos ao longo de décadas. Mas eles próprios são também umas celebridades. A sua aparência irrepreensivelmente cuidada desde jovens ajudou a criar as figuras de culto em que se tornaram. As peles bronzeadas, os cabelos impecavelmente armados, os fatos e, sobretudo, o carisma.

Valentino até teve um impostor que andava por Roma a imitá-lo. Chegou a interromper desfiles de moda porque saltava para a passerelle e protestava com as modelos. Foi o próprio Giametti que contou a Matt Tyrnauer. Em 2004, o autor passou uns dias no universo de Valentino e Giancarlo e contou aos leitores da Vanity Fair como eram os bastidores da vida desta dupla, num longo artigo com o título “So very Valentino” publicado em agosto desse ano. Uns anos mais tarde, em 2008, viria a realizar o documentário “Valentino: The Last Emperor”.

Nas páginas da revista pode ler-se que, quando o terrorismo assustou Roma, Valentino andava pela cidade num Mercedes à prova de bala… mas vermelho. Adora pugs e há anos que tem vários. Apesar de alguma exuberância, é uma pessoa reservada. “O Valentino não se abre a muitas pessoas — talvez na sua vida toda, a sete pessoas. Se quiser saber o que ele está a pensar, fale comigo”, diz Giancarlo. O companheiro de vida do designer conta que no dia seguinte a um desfile acordava às 4h00 para saber o que foi escrito e passava em revista todos os jornais assim que saíam de manhã. Valentino, por seu lado, nunca olhava para eles. Foi o próprio que confessou ao autor que ambos têm personalidades “opostas”. “Eu não presto atenção a esta vida. Estou sempre fechado no meu estúdio. Eu sou muito grato ao Giancarlo, porque ele esconde-me coisas para me manter bem disposto. Só há três coisas que eu consigo fazer: confecionar um vestido, decorar uma casa e entreter pessoas.

O casal tem villas em vários países, colecionam arte, gostam de passear e celebrar e, como bons italianos, são verdadeiros embaixadores da “dolce vita”. Uma das casas mais famosas é o Château de Wideville, nos arredores de Paris. Muito apropriado para um imperador, já que foi construído pelo ministro das finanças do rei Luís XIII e depois habitado pela amante de Luís XIV. Foi cenário de muitas festas e foi lá que Giammetti passou o primeiro confinamento, em 2020. Valentino tornou-se também mestre na arte de bem receber e esse seu talento ficou imortalizado no livro “Valentino: At the Emperor’s Table” (Assouline) lançado em 2014. Uma rica visita visual pelas suas casas onde também aparece porcelana portuguesa. Foi, por acaso, em Lisboa que aconteceu uma das lendárias festas recheadas de amigos famosos que a dupla organizou. Giancarlo Giammetti celebrou os seus 80 anos na capital nacional e juntou fado, obras de Joana Vasconcelos e a sua elite de amigos.

Jacqueline Onassis Walking with Valentino Valentino Show Queen Elizabeth on state visit to Italy in Rome, Italy on October 16th, 2010. Valentino Garavani Receives The Grand Medaille De Vermeil De La Ville De Paris

Valentino com Jackie Onassis na Grécia. Com Giancarlo e Oprah Winfrey. A cumprimentar a rainha Isabel II. Com Giancarlo e Karl Lagerfeld, quando Valentino recebeu uma condecoração pela sua carreira.

Bettmann Archive

Era uma vez… um amor e um império

Valentino Clemente Ludovico Garavani nasceu a 11 de maio de 1932 em Voghera, na zona da Lombardia (entre Génova e Milão), em Itália. Contou à Vanity Fair que sempre teve uma personalidade forte e que foi muito mimado. “Eu tive pais incríveis e nunca os enganei. Nunca, nunca, nunca, nunca! Tenho muito orgulho nisso.” Conta que, em pequeno, tinha os seus próprios talheres e copo para não usar os das outras pessoas e que aos 14 ou 15 anos pediu para mandar fazer as suas camisolas.

Os pais sempre o ajudaram a concretizar os seus sonhos, mesmo quando quis ir para Paris aos 17 aprender a fazer roupa. Na capital francesa e, incontestavelmente, a capital da moda, frequentou a École des Beaux-Arts e a Chambre Syndicale de la Couture Parisienne, a instituição que há décadas zela por esse tesouro francês que é a alta-costura (e da qual viria a ser membro no futuro). Começou a trabalhar com Jean Dessès e Guy Laroche, dois nomes conceituados na época. Durante a estadia travou amizade com outros jovens prodígios como Karl Lagerfeld e Yves Saint Laurent.

Depois de sete anos em Paris, em 1959 Valentino decidiu regressar a Roma para lançar a sua própria marca, tendo como modelo o que havia experienciado em França. Contou com a ajuda do pai e de um associado deste e instalou-se na Via Condotti (a pequena rua aos pés da escadaria da Praça de Espanha). Giancarlo Giammetti conta que quando começou a tomar conta dos negócios eles não estavam bem. Num ano Valentino tinha gasto tanto que o associado do pai largou o projeto e tiveram de lutar contra a falência. Por isso decidiu que o melhor era recomeçar de raíz. Passaram para um pequeno apartamento na Via Gregoriana (bem perto do espaço anterior) e o novo escritório ficava no piso mais alto de um palazzo do século XVI. Hoje a casa mantém a mesma morada, só que ocupa todo o Palazzo Gabrielli Mignanelli.

Valentino conheceu Giancarlo Giammetti numa quente noite de 31 de julho em 1960. A história é bem conhecida e podia começar com o tradicional “Era uma vez…” porque já lá vão mais de 60 anos de companheirismo, na vida e nos negócios. O cenário é o Café de Paris na Via Veneto, em Roma, uma zona frequentada pela nata da vida social daquela cidade (e internacional). Não era difícil ver passar Sophia Loren, Gina Lollobrigida, Marcello Mastroianni, Fellini e Anita Ekberg ,ou até Elizabeth Taylor e Richard Burton.

“Eu tinha 18 anos e estava a estudar arquitetura. Tinha uma vida fantástica. O meu pai tinha um escritório próximo da Via Veneto, ao virar da esquina. A Via Veneto nos anos 60 tinha cafés cheios de atores, cheios de pessoas a divertir-se… a dolce vita”, conta Giancarlo Giammetti. “Eu tinha lá sempre a minha mesa e estava à espera que abrisse um clube noturno. O café estava tão cheio que um tipo aproximou-se e perguntou ‘posso partilhar esta mesa contigo?’ E era o enfant prodige da moda, chamado Valentino.” Valentino, que na altura tinha 24 anos, por seu lado, conta que não teve coragem de se dirigir a Giammetti e foi uma das pessoas no seu grupo que se aproximou. Pormenores à parte, porque já lá vão muitos anos, dado o primeiro passo, estiveram à conversa e depois Giancarlo levou Valentino a casa no seu Fiat.

GG, como o tratam os amigos, conta que ficou “fascinado”. No dia seguinte partia de férias para Capri. Valentino também iria para lá e combinaram encontrar-se. De regresso a casa em setembro, Giancarlo prometeu ao pai que ia continuar a estudar, mas confessa que trocou a faculdade pela casa de moda do amigo. “Para mim, começar a trabalhar com o Valentino não era trabalho a sério. Para mim, eu estava a ajudar um amigo, alguém que eu amava muito.”

Mas a Matt Tyrnauer confessou que, no início, a relação com Valentino foi um escândalo. As pessoas comentavam, o pai não queria que ele deixasse os estudos e ainda por cima para ir trabalhar em moda que, explica, na altura não era visto como um negócio sério. “Mas com o passar dos anos eles perceberam não só a paixão que eu punha no meu trabalho, mas a minha relação com uma pessoa extraordinária. Eles adoravam o Valentino como um filho.” Ambas as famílias tiveram um papel muito importante nas suas vidas e as mães viveram com os filhos até morrerem, Teresa Garavani em 1977 e Lina Giammetti em 1996.

Durante anos muitas comparações foram feitas com Yves Saint Laurent e Pierre Bergé, outra famosa dupla da moda composta por criativo e homem de negócios, mas francesa. Valentino e Giancarlo sempre primaram pela discrição e optaram por manter a sua relação pessoal o mais privada possível. Ao longo dos anos criaram uma verdadeira família com um grupo de amigos que, apesar da partilha de fotografias em férias e festas, formam um círculo fechado e protetor.

O rei do vermelho numa Sala Bianca

Tal como tantas marcas têm peças de assinatura, na casa Valentino o ícone maior é a cor vermelho. “Quando era jovem fui ver uma ópera Carmen em Barcelona e todo o cenário era vermelho — as flores, os figurinos — e eu disse a mim próprio ‘Quero manter esta cor na minha vida'”, contou Valentino à revista Marie Claire britânica.

Haverá nos arquivos da casa Valentino criações em mais de 550 tons de vermelho, contudo a mítica cor associada à marca tem nome próprio e chama-se “Rosso Valentino” (“Vermelho Valentino”). A expressão surgiu em 1985 e a cor está definida no livro “Photocopy Manual 1960-00” com uma fórmula em percentagens composta por 100 magenta, 100 amarelo, 10 preto e 0 azul ciano, segundo explica a própria marca na sua conta de Instagram. A primeira criação com esta cor foi o vestido “Fiesta”, na coleção de alta-costura primavera/verão 1959. Entre esse ano e 2021 foram feitos 1.131 vestidos Rosso Valentino.

VALENTINO

Valentino posa rodeado por modelos vestidas com os seus icónicos vestidos vermelhos

Gamma-Rapho via Getty Images

Os vestidos vermelhos marcaram presença desde muito cedo nas suas coleções e a cor tem sido imagem de marca da casa há muito. Mas foi no meio do branco que o designer se destacou primeiro. Em 1951 o empresário italiano Giovanni Battista Giorgini decidiu aproveitar a vinda de importantes figuras compradores de armazéns de moda norte-americanos à Europa, para as semanas de moda de Paris, e decidiu convidá-los a fazerem um pequeno desvio a Florença para assistirem a um desfile de designers italianos. A experiência foi um sucesso e ganhou o seu espaço no calendário internacional da moda durante alguns anos. O cenário terá ajudado à magia do evento: a Sala Bianca, o salão de baile do Palazzo Pitti.

Em julho de 1962 Valentino fez a sua estreia neste evento. Foi o último designer do último dia, mas a imprensa internacional estava de olho neste jovem talento e esperou por ele. Foi o primeiro desfile de sucesso internacional de Valentino e refletiu-se numa série de encomendas. A lista de clientes começou então a contar com mulheres como atrizes, mulheres de políticos e empresários que o seguiriam de volta a Roma, para onde regressou em 1966 para apresentar as suas coleções.

Talvez ainda inspirado pela graciosa decoração branca do salão florentino, em 1968 Valentino  apresentou a sua famosa coleção “Sfilata Bianca”, totalmente em tons de branco, ou como descreveu o próprio “non-color”. Foi desta coleção que Jackie Kennedy escolheu o vestido que usou no casamento com o armador grego Aristóteles Onassis, na ilha de Skorpios. A marca ganhou grande visibilidade e vendeu 60 cópias do famoso vestido, feito em georgette e renda em tom marfim.

Por esta altura já Valentino e a ex-primeira dama norte-americana tinham uma amizade que ia muito além da relação cliente/designer e que começou em 1964, quando Valentino apresentou uma coleção num evento de beneficiência no hotel Waldorf-Astoria, em Nova Iorque. Jackie quis ver as roupas, então uma vendedora acompanhada por uma modelo visitou a casa da ex-primeira dama na 5ª Avenida e saíram com seis looks encomendados. Muitos outros se sucederam, durante o resto da vida de Jackie.

Em março de 1968 a revista Time noticiava uma nova passagem de Valentino por Nova Iorque e declarava que este estava “a tornar-se rapidamente o designer mais procurado do mundo”. A ida à cidade tinha como finalidade promover a venda de peças copiadas da sua coleção de verão nos armazéns Lord & Taylor (uma famosa cadeia na época que hoje se dedica ao comércio online). Segundo consta, apenas nos primeiros cinco dias foram vendidos mais de 400 vestidos e 300 casacos (cujo custo variava entre 160 e 495 dólares). As estrelas, no entanto, foram as meias de senhora pintadas à mão que já na época, se vendiam a 50 dólares em Roma e eram um sucesso.

Valentino ensinou Giancarlo a falar francês. Giancarlo fez o negócio de Valentino ganhar asas. “A maioria das casas de moda na altura eram casas de moda familiares. O Valentino e eu fizemos outra casa de moda familiar.” Diz que trouxeram “um para o outro o que faltava”. Numa entrevista a propósito do Museu Virtual Valentino Garavani, num vídeo com o nome “The Other Half” (A Outra Metade), Giammetti conta que houve um momento em que a moda começou a crescer a tornar-se um negócio e foi muito difícil para ele encontrar um contabilista, por isso teve de tratar ele do assunto. Reclama também para si  algumas criações como a aposta em publicidade que contasse uma história, com modelos importantes e feita por um fotógrafo, assim como um investimento nos desfiles, com coreógrafo e música, ao contrário do que era a prática da época. Para o empresário o importante era primeiro ter uma uma base que desse prestígio à marca e só depois pensar em como rentabilizá-la. Diz que os anos 70 foram “uma época de pura criatividade, diversão” na moda” e nos 80 começaram a fazer dinheiro a sério, porque afirma que inventaram as licenças e também foi quando Valentino surgiu com a ideia de ter um V como logo.

Uma estrela entre estrelas

Valentino haveria de se instalar em Paris, a capital da alta-costura, e foi contemporâneo de outros grandes nomes tão relevantes para a história da moda como Giorgio Armani, Christian Lacroix, Gianfranco Ferré ou Karl Lagerfeld. Não se tornou um ícone como este último. Valentino não provocou revoluções na moda, como Chanel fez com o seu tailleur ou Balenciaga com as suas formas arquitetónicas. Não foi transgressor como McQueen ou Galliano. Nem um artista atormentado como Yves Saint Laurent. O desejo de Valentino sempre foi fazer roupas bonitas e pôr as mulheres bonitas. Vivia (e vive) o estilo de vida sofisticada que queria que as suas criações materializassem. E tornou-se, provavelmente, no mais aristocrata dos designers de moda. Sempre se movimentou no meio da cultura. Depois de se retirar das passerelles, Valentino fez criações para palco, como bailados e ópera. E em 2006 recebeu uma Legion d’Honneur, uma alta distinção atribuída pelo Ministério da Cultura francês.

O maestro italiano fez da sua marca uma das poucas que tanto brilha nas passadeiras vermelhas recheadas de celebridades como nos grandes encontros da realeza. Em Hollywood, há muito que a moda anda de mãos dadas com o cinema e no registo dos grandes momentos das atrizes consta, normalmente, o que elas vestem. Por exemplo, é impossível referir a conquista do Óscar de Melhor atriz por Julia Roberts em 2001, sem lembrar o vestido que usou. Para receber o prémio máximo pela sua interpretação de Erin Brockovich, a atriz escolheu um modelo de Alta Costura vintage de Valentino, datado de 1992, um memorável vestido preto com riscas brancas que recuperava o glamour da época dourada de Hollywood. E este não foi o único momento em que um vestido Valentino rivalizou com a estatueta dourada. Em 2005 também Cate Blanchett escolheu uma criação do designer para a noite em que recebeu o Óscar de Melhor Atriz Secundária pelo papel no filme “O Aviador”. O vestido em tafetá amarelo com um cinto com laço em burgundi deixava, com a sua cauda e carisma da atriz, um rasto de glamour pela passadeira vermelha.

Em 2011 o próprio Valentino juntou-se à elite do cinema, pelo braço de Anne Hathaway. Nessa noite a atriz foi apresentadora e chegou à cerimónia com um longo vestido vermelho e o seu autor. Hathaway e Valentino conheceram-se durante as filmagens do filme de 2006 “O Diabo Veste Prada”, no qual tanto Valentino como Giancarlo Giammetti aparecem, e ficaram amigos. Coube até ao italiano criar o vestido de noiva da atriz, para o seu casamento com Adam Shulman, em 2012, um verdadeiro vestido de princesa em branco e tom blush.

(Valentino com clientes, amigas, musas e fãs: Sofia Lorem, Máxima dos Países Baixos, Cate Blanchett, Marie-Chantal da Grécia, Sarah Jessica Parker, Naty Abascal, Keira Knightley, Anne Hathawat e Julia Roberts.)

Desde o início da carreira, o sucesso crescente da marca, a clientela de luxo e a riqueza cultural e artística das décadas de 1960 e 70 proporcionou a Valentino e Giancarlo uma vida social ativa. Nos últimos anos Giammetti tem mantido uma conta de instagram, onde partilha reflexões e imagens do momento, como por exemplo férias com amigos a bordo de um iate ou imagens de Roma durante o confinamento da pandemia, mas também fotografias com memórias do passado. Por ser um colecionador de momentos e um fã de polaroids, lançou em 2013 o livro “Private” (editora Assouline). Diz que não tem a pretensão de ser um livro de fotografia, mas sim um livro com fotografias onde mostra “uma vida muito boa, muito especial”. Trata-se de um grande volume que é como uma autobiografia, uma história social e cultural das últimas décadas contada pelos olhos de Giammetti. O ponto de partida foi uma recolha de fotografias (tem um arquivo com mais de 57 mil), diários e entrevistas, com pérolas como os passeios com Jackie Kennedy em Capri, jantares com Andy Warhol em Nova Iorque ou as lições de ski de Madonna em Gstaad.

No seu grupo de amigos mais próximo, Valentino e Giancarlo contam com membros da realeza , como é o caso de Rosário Nadal, que foi princesa da Bulgária, e Marie-Chantal Miller. Para a atual princesa da Grécia , Valentino criou o vestido de noiva para o seu casamento com o primogénito dos reis Constantino e Ana Maria da Grécia. Aconteceu em Londres em 1995 e desde o casamento da rainha Isabel II que não se reunia tanta realeza na capital britânica. O vestido da noiva é uma peça da História, mas não foi a única a brilhar numa criação do mestre italiano. Entre os mais de mil presentes, pelo menos 62 convidadas usaram Valentino para esta ocasião memorável entre a realeza, conta a Vanity Fair. Entre elas, a rainha Sofia de Espanha, uma assumida fã do designer que conta com inúmeras criações no seu guarda-roupa.

Outra noiva real que usou Valentino foi Máxima Zorreguieta. Para o casamento do herdeiro do trono dos Países Baixos com a jovem argentina, a rainha Beatriz decidiu que o criador do vestido de noiva fosse o italiano. E assim, em 2002, os neerlandeses viram a sua nova princesa deslumbrar num vestido de seda que demorou três meses a confecionar. “O vestido tinha de ser extremamente sumptuoso e real. Tínhamos de nos lembrar, ela será rainha”, disse Valentino à revista Hello!.

Mesmo estando retirado do leme da sua marca desde 2008, Valentino voltou aos ateliers para criar o vestido de noiva com que a princesa Madalena da Suécia se casou com Chris O’Neill em 2013. Desenrolou metros de renda de Chantilly e criou um vestido de conto de fadas à medida da noiva. “Trabalhar com a princesa Madalena foi tão fácil”, disse Valentino que, acompanhado por Giancarlo Giammetti, integrou a prestigiada lista de convidados do enlace real em Estocolmo. “Ela é tão bonita! Foi uma honra.”

The Wedding Of Princess Madeleine & Christopher O'Neill Royal Wedding in Holland Royalty - Wedding of Prince Pavlos and Marie-Chantal Miller - St Sophia's Cathedral, London Aristotle and Jacqueline Onassis at Their Reception

As noivas reais Valentino: Madalena da Suécia (2013), Máxima da Holanda (2002), Marie-Chantal da Grécia (1995) e Jackie Kennedy (1968)

Getty Images

A linha de sucessão ao imperador

Em 1998 a empresa Valentino foi vendida ao conglomerado italiano HdP por, aproximadamente, 300 milhões de dólares. Em 2002, estes, por sua vez, venderam à marca Marzotto Apparel, um gigante do têxtil sediado em Milão. Valentino manteve-se no ativo e envolvido, mas o mundo estava diferente e a sua marca, mais ainda, por isso em 2007 anunciou que se ia retirar. Mas não sem uma grande festa, claro. Nesse mesmo verão, Roma foi palco de dois dias de celebrações do 45º aniversário da marca em jeito de despedida. A exposição ‘Valentino in Rome: 45 Years of Style’ no museu Ara Pacis, um desfile de Alta Costura e um espetáculo. Para celebrar com o imperador, uma constelação de estrelas das mais variadas áreas, rumou à capital italiana. O desfile de Alta Costura de janeiro de 2008 seria o seu último. Valentino disse adeus rodeado de modelos com longos vestidos vermelhos. “Como diz o Valentino, [saímos] quando a sala ainda estava cheia, com uma celebração fantástica, com todos os nossos amigos à nossa volta. Foi um lindo conto de fadas com um lindo final”, resume Giammetti.

Sucedeu-lhe Alessandra Facchinetti, mas no espaço de apenas um ano foi substituída por Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli. Tornaram-se diretores criativos da marca com todo o apoio de Valentino e Giammetti que chegaram a marcar presença na primeira fila de desfiles. Em 2016 Maria Grazia saiu para se tornar a primeira mulher a liderar a Dior e Pierpaolo ficou a segurar sozinho as rédeas criativas da Valentino, onde já trabalha há 23 anos.

Tem-se revelado um fiel herdeiro do imperador/fundador. Sem descaracterizar a marca, adaptou-a à atualidade. Manteve clientes antigas e captou algumas das divas do século XXI. Tal como o mestre, faz do equilíbrio entre celebridades e aristocracia uma arte, de Lady Gaga às princesas nórdicas. Também ambas as noras da princesa Carolina do Mónaco usaram vestidos Valentino nos seus casamentos, tal como a herdeira norte-americana Nicola Peltz encomendou uma criação especial para o casamento com o primogénito do casal Beckham.

Pierpaolo mantém o savoir faire como uma das bandeiras da marca e são já várias as vezes em que divide o protagonismo da concretização de uma coleção de alta-costura com as suas costureiras, como por exemplo em julho de 2022. A apresentação da coleção de alta-costura outono/inverno 2022/23 trocou Paris por Roma, num simbólico regresso a casa. As modelos desfilaram a coleção de 100 looks pela Escadaria da Praça de Espanha e, no fim, o autor e as suas “fadas” costureiras também o fizeram. O imperador pode ter-se retirado, mas o seu império mantém-se e, de certa forma, o conto de fadas também.

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