“Carro de Santana Lopes não tinha seguro”. A frase é o título de uma artigo publicado pelo site Magazine Lusa , seguido pelo subtítulo “Grande Exemplo!”, e que referia que o automóvel de marca Lexus com o qual o líder do Aliança, Pedro Santana Lopes, e o candidato ao Parlamento Europeu, Paulo Sande, sofreram um acidente, a 15 de maio, não tinha seguro.

O texto dizia, além disso, que o carro em causa tinha sido alugado por Santana Lopes a uma empresa — a Caetano Auto — que rejeitava qualquer responsabilidade no caso e que teria cancelado o seguro em setembro de 2018.

A informação avançada pela Magazine Lusa era baseada no site da Autoridade de Supervisão de Seguros (ASF), que disponibiliza um serviço de verificação de matrículas a qualquer utilizador de internet. Os resultados da pesquisa pela matrícula do carro em causa indicavam que a última apólice ali registada terminara a 13 de setembro de 2018, às 23h59.

Apesar de a notícia não ter data, terá sido publicada dias depois do acidente ocorrido em plena campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, cujo cabeça de lista do Aliança era Paulo Sande. Na sequência do despiste, Sande e Santana Lopes ficaram feridos — com o antigo primeiro-ministro a ter de ser hospitalizado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Também o Correio da Manhã noticiou a suposta falha, dois dias após o acidente, na edição em papel, com o título “Carro de Santana Lopes sem registo de seguro”. Uma informação que valeu a manchete do jornal, mas que não afirma perentoriamente que o carro não tem seguro — referindo-se, antes, à falta de “registo de seguro”. Neste caso, a informação partia do mesmo site de verificação de matrículas, mas acrescentava uma resposta do Aliança: a viatura de uso pessoal de Santana Lopes tem um contrato de renting e o seguro em dia. A resposta dizia também que o aluguer do carro tinha sido feito “em nome da sociedade de advogados de Pedro Santana Lopes”.

A correção da notícia viria dias depois. O próprio jornal, num artigo de opinião assinado pelo diretor-geral adjunto, Armando Esteves Pereira, voltava ao tema com o título “Boa fé”. O responsável começava por explicar que nada move o Correio da Manhã contra Pedro Santana Lopes e “que os jornalistas do CM agiram de boa fé”.

Segundo ele, a informação avançada na manchete foi “confirmada pelas duas bases de dados existentes no País, da responsabilidade da Autoridade de Supervisão e da Associação Portuguesa de Seguros”. E que todos os intervenientes no caso foram contactados: o Aliança, o escritório de advogados do antigo primeiro-ministro e o stand no qual consta o último registo de seguro da viatura.

Armando Esteves Pereira alegava que, do escritório de advogados que alugou o carro, não foi fornecida qualquer prova e que, do stand, houve um “erro na informação prestada”, por garantirem que o carro não lhes pertencia. “É dever dos jornalistas contar os factos apurados. Os visados tiveram oportunidade para explicar todas as dúvidas. Se o stand tivesse contado toda a história, teríamos prestado um melhor serviço aos leitores”, justificava.

Ao que o Observador apurou, o automóvel foi vendido pela Toyota Caetano Portugal em maio de 2018, provavelmente à empresa que, depois, o alugou a Santana Lopes. E, de facto, a matrícula do Lexus onde seguiam os membros do Aliança, quando introduzida no site da Autoridade de Supervisão de Seguros, não apresenta qualquer seguro agregado.

No entanto, no sistema da Associação Portuguesa de Seguradoras (ao qual só as seguradoras e as autoridades registadas têm acesso) aparece um documento válido — uma carta verde —, emitido pela Tranquilidade, com início a 1 de julho de 2018 e válido até 30 de junho de 2019, embora surja também a informação de que o contrato com a seguradora fora anulado “a pedido do segurado”, tendo terminado em setembro de 2018.

Esta informação causou estranheza a fontes policiais e da área dos seguros, contactadas pelo Observador. Mas depois veio a explicação: é normal que um seguro feito para vários carros — uma frota — não apareça no sistema da Autoridades de Supervisão de Seguros, o que será comum para as empresas de renting. No entanto, sabendo de antemão que esta circunstância pode acontecer, as autoridades não utilizam apenas o primeiro sistema, garantindo a veracidade da informação através de um segundo motor de busca, mais restrito. Quando, ainda assim, surgem dúvidas, as polícias podem notificar os condutores para apresentarem provas de que, de facto, as viaturas estão seguradas.

No caso do carro que transportava Pedro Santana Lopes e Paulo Sande, o seguro estava ativo. Foi contratado, precisamente, pela empresa que o alugou ao escritório do antigo primeiro-ministro.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

Errado

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook e com base na proliferação de partilhas — associados de reportes de abusos de vários utilizadores — nos últimos dias.

IFCN Badge