Foi a primeira surpresa no Mundial do Qatar. Em novembro do ano passado os jogadores da Arábia Saudita chocaram o mundo ao bater a Argentina de Messi por 2-1.

Mas a vitória da Arábia Saudita não foi o único tema que marcou este encontro. Aos 90+4 minutos de jogo, uma colisão violenta entre o guarda-redes da seleção saudita e o colega de equipa Yasser Al-Shahrani obrigou o defesa a ser assistido por médicos no relvado. Al-Shahrani foi atingido na face pelo joelho do guarda-redes, teve que ser substituído do encontro e não voltou a pisar o relvado durante a competição.

Al-Shahrani foi submetido a duas cirurgias, entre 24 e 27 de novembro. O violento choque com o guarda-redes causou não só fraturas no crânio, como também uma hemorragia interna, que obrigou a equipa médica a realizar uma cirurgia ao pâncreas do defesa saudita. A informação foi confirmada na altura a seleção da Arábia Saudita, através do Twitter.

Antes sequer da informação sobre as intervenções cirúrgicas, horas depois do encontro chegou a ser partilhado no Facebook uma montagem que punha lado a lado uma fotografia tirada durante o encontro entre a Arábia Saudita e a Argentina — que mostrava o choque entre o joelho do guarda-redes saudita e a cara de Al-Shahrani — e uma imagem de um crânio em 3D com danos profundos, como o queixo rachado e alguns dentes ausentes. Se a montagem deixasse algum espaço para dúvidas sobre a associação que se pretendia estabelecer com as duas imagens, a legenda rapidamente respondia: “Incrível trauma facial do jogador da Arábia Saudita  na partida de ontem com a Argentina”.

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Choque entre dois jogadores no encontro entre Arábia Saudita e Argentina.

Choque entre dois jogadores no encontro entre Arábia Saudita e Argentina.

Mas não há qualquer confirmação, quer do jogador quer da Federação de futebol da Arábia Saudita ou da seleção, de que a imagem que mostra um crânio em 3D corresponde à face de Al-Shahrani depois do choque com o guarda-redes.

A única informação partilhada foi aliás um vídeo de Al-Shahrani ainda na cama de hospital a recuperar da cirurgia, a garantir que se sentia bem.

O vídeo mostra a face do jogador saudita, depois da primeira cirurgia ao pâncreas, e não evidencia as mesmas lesões que estão identificadas na imagem em 3D que mostra o crânio danificado nos maxilares e na dentição. E as próprias imagens “são pouco fidedignas”, como explica ao Observador o especialista em Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética, Ângelo Rebelo, uma vez que o exame não tem qualquer “caracterização ou identificação” do paciente. Ângelo Rebelo considera que “não se pode concluir nada da fotografia, se aconteceu na sequência deste acidente”.

O exame mostra “uma fratura grande na mandíbula e até a falta de algumas peças dentárias”, o que levaria a uma “cirurgia complexa e demorada”. Além disso, o vídeo de Al-Shahrani revela algumas linhas vermelhas que permitem afastar a relação entre a imagem de raio-x e o acidente que vitimizou o jogador saudito, como detalha o especialista: desde logo, a capacidade do jogador de articular palavras, com uma fratura daquela dimensão, antes ou depois da cirurgia, uma vez que implicaria a “imobilização do movimento da boca”.

A tese é comprovada por outros especialistas à agência de notícias espanhola EFE: as lesões identificadas na reconstrução do crânio em 3D não são verificáveis no vídeo de Al-Shahrani depois do jogo frente à Argentina, desde logo a falta de dentes e o maxilar rachado.

Conclusão

O scan 3D que mostra uma imagem de um crânio com danos profundos não é do jogador da Arábia Saudita Al-Shahrani, depois do choque com o joelho de um colega de equipa durante o encontro com a Argentina a contar para a fase de grupos do Mundial do Qatar. Especialistas ouvidos pelo Observador explicam que as lesões identificadas na reconstrução do crânio em 3D não são verificáveis no vídeo de Al-Shahrani, ainda na cama de hospital, depois do jogo frente à Argentina.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.

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