Circula nas redes sociais uma publicação que alega que o “Instituto Alemão Gefälschte Nachrichten afirma que houve fraude nas eleições do Brasil”. A publicação é acompanhada por um suposto screenshot de uma notícia do meio de comunicação alemão “D4”, escrita em português do Brasil, que alega ainda:

“Segundo o presidente do instituto, Dr. Alter Mann mit Brile, Phd em Cibersegurança por Harvard, há fraude nas urnas eletrônicas do Brasil. Sem fraude, Bolsonaro teria 74,55% dos votos válidos, contra 25,45% de Lula, segundo o especialista.”

Porém, nada disto é verdade: não só a alegada instituição não existe (como, ironicamente, “Gefälschte Nachrichten” significa “notícias falsas” em alemão) como o próprio meio de comunicação que surge no suposto screenshot é, na verdade, uma versão modificada da página da Deutsche Welle, agência de notícias alemã real.

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Numa versão desta publicação consultada pelo Observador no Facebook no dia 19 de novembro de 2022, que por essa altura já tinha várias partilhas e interações, uma utilizadora do Facebook, que se declara assumidamente como apoiante de Jair Bolsonaro no seu perfil, acrescenta detalhes da suposta “notícia”.

“O relatório elaborado pelo Gefälschte Nachrichten conta com 206 páginas, onde o especialista esmiúça todo o processo de instalação do Software nas urnas eletrônicas do Brasil e o processo para ocultá-lo da fiscalização”, lê-se no texto.

A publicação diz ainda: “Conforme relatório do especialista, estão utilizando no Brasil a tática árabe ‘ana ‘ahmaq, hadhih al’akhbar muzayafa’, que trata de um complexo sistema de fraude no algoritmo das urnas, fazendo com que metade dos votos 22 sejam computados como votos no 13. ‘Essa é a mesma tática do Partido Comunista Chinês para se perpetruar [sic] no poder. Desta forma mantém-se uma aparente normalidade, pois confunde a parte menos esclarecida do eleitorado que confia cegamente no resultado, sem buscar maiores informações. A matemática é simples e você pode conferir os cálculos em casa’, afirma o expert.”

“‘Divulgaram que o Bolsonaro fez 49,1% dos votos e o Lula 50,9%. Porém, com o uso do algoritmo árabe, metade dos votos do Lula são compostos por votos do Bolsonaro, ou seja, de fato, terminou com 74,55% dos votos para o Bolsonaro e 25,45% dos votos para Lula. Mas você não precisa acreditar em nós, faça os cálculos você mesmo’, pontua o Professor Alter Mann.”

Todavia, como nota a agência brasileira Lupa, toda a publicação é um conjunto de falsidades facilmente desmontáveis:

Em primeiro lugar, basta uma simples pesquisa no Google para perceber que o suposto “Instituto Gefälschte Nachrichten” não existe. Mais: uma consulta ao Google Tradutor esclarece que “Gefälschte Nachrichten” significa, em português, “notícias falsas”. Outro elemento desta publicação parece apontar para a possibilidade de ela ter sido originalmente criada para fazer pouco de quem a partilhasse: a suposta “tática árabe ‘ana ‘ahmaq, hadhih al’akhbar muzayafa'” terá sido inventada, uma vez que aquela expressão, quando colocada no Google Tradutor, devolve a tradução “sou um idiota, esta notícia é falsa”.

Depois, o próprio screenshot tem várias marcas de ter sido manipulado. Por um lado, toda a página se assemelha claramente ao site da agência alemã Deutsche Welle, mas o logótipo foi alterado: enquanto o logótipo original da Deutsche Welle inclui as letras DW, nesta versão o logótipo surge modificado para D4. E o slogan da Deutsche Welle, cuja versão original é “Made for Minds”, surge nesta imagem como “Weide für Rinder”, alemão para “pasto para gado”.

Finalmente, a própria figura do “presidente do instituto, Dr. Alter Mann mit Brile”, tem vários elementos que indiciam que não é real. É que “Alter Mann mit Brile”, em alemão, significa “homem velho de óculos”. E basta colocar essa expressão, em alemão, no Google para chegar a um banco de imagens onde surge a fotografia usada na publicação.

Conclusão

A publicação é manifestamente falsa. Não só não é apresentado um único dado que possa ser independentemente comprovado como toda a publicação está pejada de elementos que indicam a sua falsidade e mostram que parece ter sido desenhada para apoucar aqueles que a partilham. O instituto não existe — nem o seu diretor — e a imagem apresentada diz respeito a um meio de comunicação social que também não é real. Ainda assim, o Observador encontrou dezenas de versões desta publicação no Facebook, partilhadas por utilizadores que se dizem apoiantes de Jair Bolsonaro e que estão a usar o conteúdo da publicação como argumento contra a legitimidade da recente eleição de Lula da Silva como Presidente do Brasil.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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