Afinal, os confinamentos que marcaram o tempo da pandemia de Covid-19 estarão de volta? Uma série de publicações nas redes sociais garante que sim, assegurando que a Organização Mundial de Saúde já veio avisar os “governos” para se prepararem para “novos e rigorosos” períodos de confinamento. Tudo graças à possibilidade de que a anteriormente chamada “varíola dos macacos” — a infeção viral Mpox — se torne uma “pandemia mortal”.

Esta ideia é, desde logo, negada pela própria OMS numa declaração enviada ao Observador. Na resposta enviada por email, o gabinete de comunicação da OMS recorda que “não pode”, porque não tem essa competência, dar ordens aos governos para que se preparem para confinamentos, uma vez que essa decisão depende do executivo de cada país. “A OMS não pode e não ordenou aos governos que se preparem para ‘mega confinamentos’ ou qualquer tipo de confinamento por causa da mpox”, lê-se no mesmo email.

“Enquanto organização científica e técnica, a OMS providencia conselhos técnicos e apoio aos seus 194 Estados-membros. Os países têm a soberania para tomar decisões e ações no que toca à saúde das suas populações”, explica a OMS.

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A organização refere ainda que recomenda medidas médicas em casos de emergência, mas neste caso até tem aconselhado que não sejam impostas restrições de circulação aos países afetados, além de propor uma “moldura estratégica” para a prevenção e controlo da infeção que inclui um reforço da vigilância de doenças epidémicas, dos serviços de saúde sexual ou dos cuidados de saúde primários. “Frisamos que a OMS não pode e não ordenou que sejam impostos confinamentos”, frisa o final da resposta.

De resto, não existe qualquer registo desse aviso em jornais ou outras plataformas noticiosas. Só mesmo no link original para a qual esta publicação nos remete, do site “Planeta Prisão”, que se define como “o maior acervo do mundo sobre pandemia, protocolos para vacinados, o grande reset, geopolítica e os bastidores do mundo”. E, na verdade, esta peça limita-se a traduzir um outro artigo, publicado no site “The People’s Voice”, que é frequentemente identificado como um transmissor de notícias falsas.

Nenhum destes artigos inclui qualquer citação de algum responsável da OMS a fazer a suposta declaração sobre confinamentos iminentes. O que os textos mencionam, recorrendo a declarações diretas da organização, é que na quarta-feira anterior (sendo que a peça em causa data de dia 16 de agosto, sexta-feira) a OMS anunciou que “a varíola dos macacos foi oficialmente classificada como uma emergência de saúde pública de interesse internacional”.

E de facto foi isso que aconteceu: nessa quarta-feira, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou que o aumento de casos de Monkeypox em países africanos constitui uma emergência de saúde pública de interesse internacional, o nível de alerta mais alto que a OMS pode declarar. Como o site oficial da OMS explica, o Comité de Emergência consultado pela organização analisou os dados conhecidos sobre a infeção e aconselhou a OMS a adotar este nível de alerta, considerando o potencial de transmissão desta infeção noutros países africanos e possivelmente fora do continente.

Dizendo-se “muito preocupado”, o diretor-geral da OMS avisou que será preciso uma “resposta internacional coordenada” para “travar estes surtos e salvar vidas”. E o líder do Comité de Emergência, Dimie Ogoina, acrescentou que o crescimento da Mpox foi “negligenciado”, no início, em África, o que causou um surto global em 2022, avisando: “É altura de agir de forma decisiva para evitar que a história se repita”.

Já em julho de 2022 a Mpox tinha sido declarada uma emergência de saúde pública de interesse internacional, tendo essa declaração terminado em maio de 2023, devido a uma descida no número de casos. Agora, e com os casos a aumentar — há 15600 casos e 537 mortes registados este ano, mais do que no total do ano passado — a OMS decidiu que é altura de voltar a aumentar o alerta e adotar cuidados redobrados.

Tudo isto é mencionado nos artigos que estão a circular online e nas redes sociais. O que é incorretamente acrescentado é a referência aos novos confinamentos, que não se encontra em nenhuma declaração dos responsáveis da OMS.

Conclusão

A Organização Mundial de Saúde não ordenou aos governos que decretassem novos confinamentos, nem pode fazê-lo, como se lê na resposta enviada ao Observador. O que fez foi declarar a infeção Mpox uma emergência de saúde pública de âmbito internacional.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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