O Instituto Superior Técnico foi criado com o intuito de fornecer ao país engenheiros que possuam não só o saber, mas também as qualidades necessárias para que, prosperando na vida profissional, contribuam ao mesmo tempo para o nosso progresso económico.” Mal sabia Alfredo Bensaúde, o fundador do IST, que ao escrever estas palavras estaria a desenhar uma visão transformadora do ensino superior português, logo após a implementação da 1ª República.

Celebrámos, no passado dia 23 de maio, a existência desta nobre instituição. Os seus 111 anos, a sapiência e a experiência histórica devem permitir ler os sinais do tempo em que vivemos. Esta leitura, a meu ver, deve levar a escola a ajustar o seu papel às mudanças e aos desafios que decorrem na sociedade e, mais especificamente, no Ensino Superior.

Vivemos na era da pós-verdade, onde os factos objetivos cada vez menos interessam para a modelação da opinião pública, contrariamente à influência crescente dos apelos às emoções e às crenças pessoais. No que diz respeito a este aspeto, eu penso que o papel do Instituto Superior Técnico, enquanto criador de ciência e da transferência de conhecimento para a sociedade, é fundamental para o combate à desinformação, à produção de conteúdo completamente falso e à distorção de acontecimentos factuais.

Vivemos num contexto geopolítico cada vez mais complexo, onde as desigualdades sociais se acentuam e os conflitos militares despoletam mesmo ao nosso lado, contrariamente àquele que vinha a ser a construção de um caminho de paz e justiça na Europa. No que concerne a este assunto, eu creio que o papel do Instituto Superior Técnico, no âmbito da sua missão de formar cidadãos com base nos princípios da igualdade, liberdade e fraternidade, é fundamental para a estruturação de uma sociedade mais justa e igualitária.

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Internamente, soubemos ler os sinais do tempo no que diz respeito ao ensino. Neste momento, vivemos num período delicado de transição. Após um estudo aprofundado sobre a qualidade pedagógica da escola, o Técnico corajosamente decidiu reinventar a forma como ensinava, sempre com o objetivo em mente de manter o seu nível de rigor e excelência.

No entanto, eu pergunto: a que custo? A que custo mantemos o nosso nível de rigor no ensino? Mantemo-lo com o custo das enormes taxas de abandono e insucesso escolar no IST? Ou mantemo-lo com custo das listas de espera de 6 meses para a obtenção de apoio psicológico?

A que custo mantemos o nosso nível de rigor no ensino? Mantemo-lo com as centenas de casos detetados de estudantes em risco psicossocial? Ou mantemo-lo com o custo de uma duplicação das propinas de 2º ciclo em dois anos, na maioria dos mestrados?

A História diz-nos que uma instituição que não reconheça os seus problemas acabará por entrar em declínio, a excelência e a elevada reputação depressa se transformarão em mediocridade e desconfiança. Neste complexo período da vida do IST, só há uma opção: estar do lado certo da história.

Tenho a certeza de que esta escola irá saber encontrar soluções (estruturais ou não) e que daqui a 111 anos esta continuará a ser a maior e melhor escola de ciência, tecnologia, engenharia e arquitetura do país.