A única certeza sobre 2022 é a incerteza. Desde indefinições legislativas, ruturas das cadeias de abastecimento de matérias-primas e produtos de elevado valor tecnológico, como chipsets, até à evolução da própria pandemia (qualquer dia não conseguimos dizer em que vaga estamos), tudo aponta para que o próximo ano seja ainda mais desafiante para as empresas.

Naturalmente, para as empresas portuguesas de pequena dimensão, essencialmente PME e pouco exportadoras, os desafios são ainda maiores. Sem um apoio forte da banca, estabilidade jurídico laboral, falta de mão-de-obra especializada e mesmo a não especializada, tudo aponta para mais um ano terrível.

Certo é que que as empresas que passaram com alguma elegância por 2020 e 2021, as que tiveram capacidade de se reinventar e adaptar, estão, hoje, mais preparadas para o que aí vem. No entanto, há limites para tudo – quando não temos mais carne, raspar os ossos não mata a fome. As empresas têm fome e já não há carne, nem músculo, nem osso. Quando tudo falta e, como diz o povo, não se fazem omeletes sem ovos.

Ainda assim, é preciso ter fé e esperança e existem, de facto, alternativas para passar pelo cabo das tormentas. Por exemplo, promover consórcios entre congéneres. Isto permite ganhar dimensão e atingir mercados inacessíveis isoladamente. Bem sei que é difícil, uma vez que não existe esta cultura e, muitas vezes, olhamos para os nossos concorrentes como adversários, mas a verdade é que como a história já nos ensinou várias vezes e em todas a áreas: adversários hoje, parceiros amanhã.

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As associações empresariais têm aqui um papel fundamental, aliás, é para isso mesmo que existem – serão capazes de o fazer? Mostrar e mediar a bondade deste tipo de soluções? Acredito que sim, mais fácil em alguns setores, mais difícil noutros, mas se as empresas colocarem o ego de lado, negociarem de forma franca, aberta e colaborativa, acredito que os resultados poderão surpreender os mais céticos.

Digo isto porque, na verdade, as empresas e os “loucos” empresários estão sós, a lutar para manter – e em alguns casos criar empregos e riqueza. Os bancos não apoiam, o Estado, mesmo quando procura apoiar, fá-lo mal e cria mais dificuldades do que oportunidades, a carga fiscal está a um nível inimaginável há apenas três ou quatro anos e a justiça não funciona, está cara e, portanto, apenas acessível a uma elite que recorre aos maiores advogados do país. Todos assobiam para o lado e resultados objetivos, palpáveis e duradouros, nem vê-los.

Em conclusão é preciso lutar, não baixar os braços e apoiarem-se entre os seus pares, porque dos restantes atores, tudo farão em sentido contrário.

É preciso correr, isso já sabemos e temos de saber para onde. Correr acompanhado, entre pares, é a solução certa e sobejamente melhor do que correr sozinho.