Tocar um instrumento, sobretudo a nível profissional, requer várias horas de estudo diárias durante vários anos, em que são realizados milhões de movimentos repetitivos, em posturas sustentadas, tipicamente de forma assimétrica e pouco ergonómica. Assim, a atividade artística, nomeadamente o desempenho musical, é altamente exigente do ponto de vista técnico, físico, biomecânico e psicológico. Tal como um atleta dispõe de cuidados de Medicina Desportiva, também os músicos – e outros artistas de performance – necessitam de apoio médico especializado em Medicina das Artes. Conhecimentos clínicos e de performance, nomeadamente das exigências biomecânicas de cada instrumento, são essenciais para uma abordagem eficaz dos problemas de saúde nos músicos.

Dada a carência de cuidados médicos na área da Medicina das Artes, em particular na Medicina dos Músicos, foi fundado em 2020 um centro pioneiro em Portugal que oferece uma abordagem inovadora e integradora para garantir que os músicos e outros artistas possam continuar a criar, atuar e emocionar o público, sem comprometer a sua saúde – o Centro Internacional de Medicina das Artes (CIMArt), no Instituto CUF Porto.

Este centro de referência mundial é dedicado à abordagem especializada da saúde dos artistas, quer numa vertente de rastreio, prevenção e promoção de saúde, quer na avaliação e tratamento especializados dos mais variados problemas, desde tendinites a contraturas, distonia focal, quadros de dor crónica, ansiedade relacionada com a performance e outros problemas musculoesqueléticos, neurológicos, de saúde mental, de voz, audição, dermatológicos, dentários, cardíacos, entre outros. O CIMArt é coordenado por uma médica especialista em Medicina das Artes (assim como Medicina da Dor e Medicina Física e de Reabilitação), responsável pela consulta de Medicina das Artes e intervenções diferenciadas no contexto artístico. Este Centro interdisciplinar e multiprofissional engloba ainda uma equipa de reabilitação e exercício clínico, especialistas em saúde mental (psiquiatra, pedopsiquiatra, psicologia), otorrinolaringologia (inclusive uma Unidade de voz), dermatologia, cardiologia, medicina dentária, entre outras áreas.

Estudos recentes de âmbito nacional que tive oportunidade de coordenar, revelam que cerca de 7 em cada 10 músicos desenvolvem quadros de dor que afetam significativamente a prática artística. Estes dados são relevantes por demonstrarem não só a elevada prevalência de dor, mas também o significativo impacto dessa dor no bem estar físico e psicológico, assim como na qualidade de vida do músico.

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Estudos realizados pela mesma equipa de investigação, quer em estudantes de música quer em músicos profissionais, demonstraram que fatores como a sobrecarga física, as posturas inadequadas ou sustentadas, a tensão emocional e muscular e aspetos relacionados com as exigências performativas são alguns dos principais fatores que contribuem para o aparecimento de quadros de dor e de lesões nos músicos. O reconhecimento dos fatores de risco é fundamental para o desenvolvimento de estratégias preventivas mais eficazes.

A avaliação médica especializada, a identificação de sinais de alarme, a implementação precoce de programas preventivos e o acompanhamento individualizado do artista são fundamentais para garantir uma carreira mais duradoura e saudável.

Investir na prevenção é importante não só para evitar lesões, mas para otimizar o desempenho artístico, capacitando o músico para alcançar os seus objetivos, explorando o máximo potencial performativo, com saúde e qualidade de vida.