O deputado da Assembleia municipal da cidade de Perm, do Partido Comunista da Federação Russa, Sergei Medvedev, foi expulso do partido e da facção por uma publicação anti-guerra na rede social russa “VKontakte”.
No dia 31 de dezembro de 2023 o deputado publicou uma postagem em sua página privada do VKontakte. Nela, ele escreveu que quer “ver a Rússia livre das algemas de Putin”. “Deixe a criatura que desencadeou este massacre morrer. Que o castigo cruel recaia sobre os responsáveis por centenas de milhares de vidas arruinadas! É assustador ver no que a Rússia se tornou. Pessoas enganadas, enlouquecidas em sua raiva, caiam em si! Rússia, acorde! Eles estão a matar-vos todos!”, escrevia ele.
Logo depois da publicação o deputado teve que sair do país.
O Ministério dos Assuntos Internos da Federação Russa colocou o deputado de Perm, Sergei Medvedev, na lista internacional de procurados, por se ter manifestado contra a guerra e chamado “monstro” a Putin.
Como reagirá o Partido Comunista de Portugal a esta violação dos direitos humanos na Rússia, especialmente do seu camarada ideológico?
Com certeza, os comunistas de Portugal irão condená-lo como nazi, de acordo com sua retórica durante 10 anos de guerra contra a Ucrânia.
Tal como o PCP condenou a “Revolução da Dignidade” na Ucrânia em 2014, chamando os ucranianos de nazis, que apesar do perigo mortal defenderam a sua escolha democrática (https://www.pcp.pt/sobre-situação-na-ucrânia).
De facto, o PCP, contrariamente às suas declarações populistas de Paz (como vemos falsas), tornou-se o defensor da Rússia imperialista, cuja política externa é o terrorismo mundial. Se a Rússia conseguir os seus objetivos na Ucrânia, ao fim de alguns anos o PCP provavelmente receberá com flores e bandeiras com símbolo “Z” submarinos nucleares russos no Tejo, que passarão de baixo de ponte “25 de abril”.
Esta hipótese não é tão absurda. Nós ucranianos já vivemos este cenário. Os russos não começaram guerra de repente. Antes, tiveram partidos, organizações, igrejas na Ucrânia que faziam propaganda preparativa para futura invasão.
Não são únicos nessa táctica na história humana mas parece que a melhoraram, porque conseguem desestabilizar dezenas de países com graves consequências políticas, económicas e migratórias, contando com um apoio significativo de países do mundo ocidental. Na própria Ucrânia, até de 24/02/22 uma grande parte dos ucranianos não acreditavam que iriam ser brutalmente massacrados por russos. Livremente funcionaram canais de TV, existiam partidos e instituições pró-russas, mesmo após 8 anos da Crimeia anexada e guerra no Donbas.
Ninguém tem certeza, como será resolvida a guerra atual.
Com outros recentes conflitos parece que Putin “acendeu o fósforo” para uma guerra mundial.
O perigo do cenário de ataques nucleares continua a ser real.
Mas a política de medo constante do Estado-terrorista Rússia não trará qualquer estabilidade à Europa, mesmo se considerarmos o cenário de traição ao povo ucraniano e cedência dos territórios ocupados pelos russos.
Se a Rússia não mudar politicamente, Putin ou seguidores continuarão a comprar os partidos e pessoas de influência na Europa, que com slogans populistas “pela Paz a Europa sem armas” vão ajudar a realizar o objetivo principal da elite russa: “Rússia de Vladivostok até Lisboa”.
Há pouco tempo, o Ministério Público da Estónia deu ordens para prender o professor da Universidade de Tartu, Vyacheslav Morozov, suspeito de atividades antiestatais – espionagem para a Rússia, embora ele tenha criticado abertamente Putin e se oposto à guerra com a Ucrânia. Quantos “professores”, “políticos”, “repórteres” atuam ainda na Europa? De acordo com a pesquisa dos analistas do projeto Debunk, em 2022, o Kremlin gastou 1,9 mil milhões de dólares em propaganda, embora no orçamento estivessem previstos 1,5 mil milhões de dólares. Ou seja, os gastos reais excederam os planeados em um quarto.
Para 2023, no orçamento do governo russo, foram previstos 1,6 mil milhões de dólares americanos. Em junho de 2023, a publicação russa “Agência” informou que a Rússia planeava alocar quase 987 mil dólares para subornar jornalistas estrangeiros para a “cobertura objetiva” de projetos humanitários com a participação da Rússia, transmitindo uma “agenda positiva” para fortalecer a influência russa, “aumentar o nível de informação de estrangeiros” sobre o papel e participação da Rússia em projetos “destinados a melhorar a qualidade de vida da população”.
No entanto, é difícil prever os gastos reais da Rússia em propaganda externa, pois a ditadura criada por Putin não precisa prestar contas à população.
No início de 2023, o tema da guerra russo-ucraniana era o segundo assunto que preocupava mais os portugueses, depois de questões relacionadas à inflação. Isto coincidiu com o nível geral dos portugueses de apoiar os ucranianos e na política do governo português (a todos os níveis) de apoio à Ucrânia. Mas este foi o primeiro ano de uma guerra em grande escala e a esperança de que os ucranianos seriam capazes de libertar os seus territórios muito rapidamente após as primeiras vitórias durante o verão de 2022.
Hoje, a maioria dos especialistas em assuntos geopolítica e militares concordam que esta guerra pode durar anos. As autoridades moscovitas também declararam a sua disponibilidade para lutar durante mais de dez anos. Pelo menos dois países já estão a fornecer armas à Rússia (a propósito, não observamos organizações afilhados com o PCP a organizar manifestações contra o fornecimento de armas do Irão e da Coreia do Norte à Rússia, como fizeram contra a ajuda militar à Ucrânia.
A maioria dos governos dos países da UE já confirmaram que vão continuar apoiar a Ucrânia até uma “Vitória justa”. Mas, ao contrário dos regimes totalitários, nos países democráticos os governadores não ditam à sociedade o que fazer a seguir, mas a sociedade escolhe o seu futuro através de ferramentas democráticas.
Na verdade, Putin conta com o cansaço da guerra das sociedades europeias. Para isso, investe muito dinheiro em propaganda estrangeira. Principalmente antes das eleições. Por isso, é muito importante verificar nos programas dos partidos políticos, não só que condenam a agressão russa em geral, mas que medidas concretas propõem para ultrapassar esta crise mundial, que pode destruir fisicamente a Europa.
Fundos para resolver este problema existem. Já foram identificados 21,5 mil milhões de € de bens russos congelados na UE e 300 mil milhões de € de bens do Banco Central da Rússia bloqueados na UE e nos países do G7.
Falta ouvir decisões concretas de como será salvo o futuro da Europa do terrorismo estatal da Rússia.