Desde muito novo que me ensinaram que o saber receber e acolher os outros é uma arte, uma virtude e, mais do que isso, compreender que numa sociedade todos têm lugar e a sua devida importância no desenvolvimento da comunidade em diversas áreas.

Nos últimos dias tenho lido e ouvido comentários que roçam o tempo da ditadura.

É sabido que em Braga residem cada vez mais brasileiros e isso faz com que tenhamos o dever e a obrigação de os acolher enquanto cidadãos e, mais do que isso, como seres humanos.

Como acontece em qualquer parte do mundo, principalmente nos países mais desenvolvidos ética e culturalmente, aqueles que emigram são bem recebidos e não são privados das suas culturas e das suas tradições.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Por estes dias, a Associação UAI (União, Apoio e Integração) promoveu a designada “Festa Junina”. Uma tradição brasileira que vem do tempo dos descobrimentos, e que serve para homenagear os santos populares. Não se trata, por isso, de uma cópia do São de Braga.

Recentemente, numa iniciativa do pelouro do ambiente, criou-se em Lamaçães o “Jardim Brasil”. No próprio dia, várias pessoas pouco sensatas e menos acolhedoras vieram logo a público repudiar o jardim e a sua designação.

Fiquei estupefacto porque, ao ler certos comentários, quem criticava a criação do jardim eram pessoas que constantemente denunciam a falta de espaços verdes em Braga.

A designação do nome “Jardim Brasil” prende-se com um gesto de gratidão e, ao mesmo tempo, de homenagem ao país da pessoa que forneceu as árvores aí plantadas.

O caso é de tal ordem grave, que não parece que estamos no séc. XXI, onde deveria ser absolutamente normal acolher bem quem escolhe o nosso país e, neste caso concreto, a nossa cidade para residir e trabalhar!

Os comentários que se fizeram demonstram, também, uma enorme ignorância sobre a realidade que se vive e se passa ao nosso redor.

Um simples jardim levou algumas pessoas a argumentar as suas críticas com temas que em nada se prendem com as situações acima referidas.

Misturar temas como ensino, habitação, segurança e trabalho é bem elucidativo dessa ignorância e do enorme preconceito que se apregoa.

Como qualquer cidadão residente, um estrangeiro que venha estudar para cá está sujeito às mesmas regras e aos mesmos procedimentos de seleção que qualquer português tem.

A nível de habitação é uma realidade que os preços têm subido e que existe um grave problema. Ao invés de associarem exclusivamente isso aos estrangeiros, não seria vantajoso para essas pessoas questionarem o governo sobre as medidas previstas para combater este flagelo? Não seria benéfico que os mesmos apresentassem sugestões para a resolução do problema?

Relativamente aos preços convém elucidar que isso se prende com algo básico em matéria de economia. A lei da oferta e da procura. Se há mais procura e menos oferta, os preços sobem. O mesmo acontece ao contrário. Quanto maior for a oferta e menor a procura, os preços descem. É assim que funciona a economia.

Falando de economia, concretamente de trabalho, os que fazem comentários xenófobos e racistas já se questionaram sobre o papel importante que os estrangeiros têm no desenvolvimento da nossa economia e da nossa cidade?

Há ainda uma associação perigosa e grave que se tem feito relativamente à segurança. Não há evidências estatísticas que provem que o aumento da criminalidade está associado ao crescimento da população estrangeira.

O aumento da criminalidade é um facto e um problema que deve ser debatido seriamente e sem preconceitos. A resposta não é impedir quem escolhe o nosso país e a nossa cidade para viver, mas aumentar a vigilância e a segurança.

É preciso que tanto as autarquias como o governo unam esforços para debater e trabalhar seriamente nesta matéria. É necessário procurar soluções conjuntas de forma a tornar a emigração mais controlada e segura. Esse é também um dos problemas que a nível global tem de ser seriamente debatido e resolvido.

Importa também referir que as autarquias não podem sistematicamente colmatar as falhas no que ao Estado central diz respeito.

Por último, mas não menos importante, parece que as pessoas se esquecem de que o Brasil é parte importante da nossa história. A história não se apaga nem se reescreve. O passado serve de aprendizagem para o futuro e não para o retrocesso social e cultural da nossa sociedade.