A manufatura de excelência integrada nas marcas de luxo acompanhou a evolução histórica das tendências de oferta e procura. A revolução industrial e a introdução de máquinas no processo de manufatura vieram democratizar o acesso a uma crescente diversidade de bens. Diferentes trabalhos repetitivos, em que a mão humana não acrescenta necessariamente valor, foram mecanizados. Por um lado, a mecanização permitiu uniformizar o produto assegurando a satisfação de uma expectativa de qualidade e, por outro, tornou a quantidade suficiente para se estabelecerem cadeias de distribuição, alargando a acessibilidade geográfica.

O mesmo histórico pode ser aplicado na atualidade com a revolução digital e a oferta universal sem presença física. Um grande degrau na democratização do acesso, colocando os produtos à distância de um clique. A marca ganha uma nova dimensão ao assegurar, para além do produto, uma determinada qualidade de serviço junto do consumidor.

Foi aliás com os sucessivos lockdowns, motivados pela pandemia que, as vendas online ganharam um peso inesperado, em detrimento das vendas em loja que sofreram quebras significativas. Segundo o Eurostat, Portugal foi o terceiro país com o maior crescimento do e-commerce, chegando a 21% em comparação com a UE, onde o crescimento médio rondou os 12%. Ora, a digitalização e o aumento do número de consumidores poderia ser interpretada como uma porta de entrada para a massificação de produtos, gerando uma perda do valor e da perceção da exclusividade. No entanto, a transformação digital veio trazer mais visibilidade e aumento do alcance geográfico na sua comercialização. Uma marca de luxo ao desenvolver a manufatura de excelência assegura na totalidade, a qualidade de produto, exclusividade e serviço.

O que distingue o conhecimento do artífice é o facto de este possuir um saber ancestral, apurado ao longo de anos ou gerações, geograficamente verdadeiro e integrado. Além da sua identidade, dá a conhecer uma narrativa que nasce da história e perdura no espaço e no tempo. Esse espaço é hoje também digital, mantendo o produto e o serviço.

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O trabalho do artífice abrange técnicas como a tecelagem, porcelana, pintura, construção naval, marcenaria, joalharia, gastronomia e curtumes, entre tantos outros saberes. A produção, no entanto, é muitas vezes de escala local, o que atrai o interesse de compradores por todo o mundo por um consumo de produtos exclusivos, únicos e que distinguem, Portugal.

Temos a oportunidade de desenvolver este manancial criando programas de incentivo que reposicionem a imagem de Portugal como um país cosmopolita, que reinventa a tradição ao distinguir o legado do processo produtivo. Que promove experiências de excelência, recriando a imagem do país como um local contemporâneo e inovador, valorizando os seus 900 anos de história – o que é procurado, o que atrai é o que distingue.

Para o saber-fazer português, que impacta diretamente setores como a cultura, ambiente, turismo e economia local, o digital é interpretado como uma alavanca que permite uma expansão dos espaços geográficos, não apenas em termos de visibilidade como também de valorização económica. Regiões menos divulgadas podem ser potenciadas através dos produtos nativos de excelente manufatura promovendo o destino turístico. Estimula não só a economia local como o surgimento de atividades interligadas ao produto do artífice. Um bom exemplo é o champanhe, produto único de uma determinada região de vinhos em França.

Exemplos do crescimento para uma dimensão global do trabalho da manufatura de excelência, posteriormente integrados numa marca, em regra o nome do artífice que a desenvolveu, são a Cartier, Hermes ou Chanel, em França, a Tiffany ou a Harry Winston, nos EUA, a Burberry ou a Garrard, no caso do Reino Unido, a Ferrari, Gucci ou Bugatti, em Itália, ou a Porsche e Mercedes, na Alemanha, não esquecendo a alta relojoaria Suíça. Na origem destas marcas, entre tantas outras, está a manufatura de excelência de um artífice ou família de artífices, que promove o desenvolvimento desse saber fazer.

Determinados critérios de qualidade e serviço podem ser implementados e integrados trazendo credibilidade acrescida a um produto sem perder a sua autenticidade.

A necessidade de perspetivar uma marca histórica para a atualidade tem sido apresentada como uma mais-valia para a economia portuguesa e para melhor representar aquilo que Portugal tem de único para desenvolver e oferecer. Dar notoriedade ao que distingue Portugal.