Se há tema recorrente nas discussões políticas nacionais é o da classificação ideológica de cada partido político.
Numa espécie de profecia de fé, herdada das assembleias francesas do século XVIII, os conceitos de Esquerda ou de Direita são apregoados em causa própria como validação de honra, dignidade, humanismo ou visão. Em consequência, os mesmos adjetivos (ou a falta deles), são arremessados para o quadrante oposto, no firme propósito da diferenciação depreciativa.
Sempre que uma nova corrente política (ou partido) surge, a pergunta é imediata: estes senhores são de Esquerda ou de Direita? A pergunta é repetida de forma exaustiva, até alguém, com responsabilidade política ou ideológica reconhecida, sucumbir para um dos lados propostos.
É-nos mais confortável simplificar, catalogar e arrumar as coisas na prateleira correspondente. Ficamos mais descansados. Sentimo-nos mais seguros. Fazemo-lo em quase tudo na nossa vida e, claro está, na política também.
Em dezembro de 2021, o Observador aproveitou uma Convenção da Iniciativa Liberal para lançar a pergunta chave nestas coisas das “arrumações ideológicas”. À falta de um rótulo unânime, o jornalista decidiu-se pela citação anónima: “não é um assunto de carne ou peixe”.
O Liberalismo não é “carne ou peixe”. Vai além do bipolarismo de Esquerda e Direita.
Façamos um exercício:
Imaginemos que todas – sim, todas – as atuais correntes políticas nacionais, se baseiam na mesma ideologia: o Socialismo.
Imaginemos, agora, que todas elas – sim, todas – concentram na ação do Estado a resposta para todo o Mal, bem como a solução para todo o Bem.
Imaginemos, por fim, que as várias correntes políticas, se propõem usar o Estado de forma mais ou menos intrusiva, com maior ou menor pendor social, com maior ou menor patrocínio empresarial.
Eis a tão apregoada Esquerda e Direita em Portugal!
A Iniciativa Liberal surge fora desta matrioska de Socialismos, com base na longa tradição Liberal. Quer menos – muito menos – Estado na vida das pessoas e das empresas. Quer que sejam livres de tomar as suas opções, mas também que cresçam na medida do seu esforço e talento.
Reclama, passados 48 anos de uma Democracia mais ou menos Socialista, espaço para a verdadeira Liberdade. Que nos soltemos de todas as amarras e que nos desintoxiquemos de todos os vícios. Que possamos respirar fundo e traçar o nosso rumo, sem a impedância sistémica de quem dela subsiste de forma parasita. Que, no que de essencial do Estado prevalecer, haja um escrutínio rigoroso.
Pode pagar o preço por se desalinhar. Pode encontrar um caminho mais íngreme e sinuoso. Mas reclama o direito ao seu lugar, sem ter de encaixar à Esquerda ou à Direita. À margem de todos os Socialismos.
Entender o Liberalismo pode ser desconfortável. Obriga a combater uma certa letargia intelectual. Questiona a moribunda máquina do Estado e quem dela sempre se serviu. Mas, como diz o mote, faz falta a Portugal!