Nas últimas eleições legislativas, o Partido Socialista (PS) obteve uma maioria absoluta, com 41,37% dos votos. Este resultado surpreendeu muitos observadores, uma vez que o PS tem governado Portugal há mais de uma década e o país tem registado um declínio económico e social significativo.
Os dados estatísticos são claros: o poder de compra tem diminuído desde que o PS chegou ao poder em 2015, e a pobreza tem-se agravado. As escolas públicas estão com falta de professores, o SNS com falta de médicos e os serviços públicos, no geral, estão cada vez mais desorganizados e a prestarem um pior serviço aos cidadãos.
Apesar desta realidade, os portugueses continuam a votar no PS. Qual é a explicação para este fenómeno?
Creio que uma possível explicação é a ilusão e a dependência que cria o subsídio. O PS tem vindo a apostar num modelo de Estado social redistributivo, que concede subsídios a um vasto conjunto de cidadãos, incluindo famílias com filhos, trabalhadores precários, reformados e desempregados, à custa de uma carga de impostos altíssima. No entanto, com a narrativa de que o problema do aumento de custo de vida não tem nada a ver com as políticas adotadas pelo PS, mas que se deve a fatores externos e não controláveis, leva a que o cidadão comum considere este modus operandi o mais assertivo.
Mas seria interessante que se percebesse que estes subsídios podem proporcionar um alívio imediato a quem os recebe, mas têm um custo a longo prazo. Em primeiro lugar, aumentam a carga fiscal, o que, na realidade, reduz o poder de compra dos portugueses. Em segundo lugar, criam uma dependência do Estado, que dificulta a ascensão social.
Os portugueses que recebem subsídios do Estado podem sentir que o PS é o partido que os protege e que lhes garante um mínimo de estabilidade. No entanto, este sentimento de segurança é ilusório. Os subsídios são limitados, dependem dos impostos e podem ser cortados a qualquer momento.
Outra possível explicação para o voto no PS é o medo do desconhecido. O PSD, o principal partido da oposição, é visto por muitos portugueses como um partido de direita, que representa os interesses dos ricos, das empresas e defende a privatização a torto e a direito. O PS, por outro lado, é visto como um partido de esquerda, que representa os interesses dos trabalhadores e dos pobres.
Este medo do desconhecido acaba por levar os portugueses a votar sempre no mesmo partido, mesmo que não estejam totalmente satisfeitos com o seu governo. Assim, os portugueses mostram, através do voto, que preferem a incerteza de um governo socialista do que a incerteza de um governo de direita.
Esta realidade deve-se, também, ao facto de o PSD nunca ter conseguido explicar convenientemente o período da troika e mesmo durante esse período ter tido falhas de comunicação. Naturalmente, nem à época, nem nos anos seguintes foi possível contar com o esclarecimento por parte dos órgãos de comunicação social, que se mostram sempre pouco independentes dos subsídios.
Em última análise, o voto no PS é um fenómeno complexo, que, como tentei explicar, depende de uma combinação de fatores.
Mas então como devem agir os partidos que se querem apresentar como alternativa? O que podem fazer para inverter esta tendência?
É necessário que expliquem, claramente, aos portugueses que os subsídios do Estado não são uma solução para os problemas do país. Devem definir mensagens claras e percetíveis por toda a população, dos jovens aos idosos, passando pelos funcionários públicos, que explicitem qual a alternativa ao subsídio e como podem efetivamente viver melhor com as políticas propostas e menos dependentes do Estado!
Só assim os portugueses podem ter mais confiança nos partidos da oposição. O PSD e outros partidos de direita não representam necessariamente os interesses dos ricos. Pelo contrário, podem representar uma alternativa viável para um Portugal mais próspero e mais justo.