A minha casa tem dois quartos. Uma suite para mim e um quarto para o futuro: escritório? Primeiro filho? Não sei ainda. A cozinha tem uma janela para a sala, a casa não é muito grande e esta abertura faz com que pareça um espaço mais amplo. Tenho uma televisão, um sofá pequenino e as paredes estão escondidas atrás de estantes de livros. A varanda da sala está virada para onde o Sol se põe, o que faz com que ao entardecer a sala fique com um tom quente e alaranjado. Parece bonita a casa, não é? É pena é que seja ficção.

Portugal não tem políticas de habitação, muito menos de habitação jovem. A triste realidade é que estamos hoje a viver num Portugal desonerado de tudo aquilo que convida um jovem a cá ficar. Não há casas, não há empregos e quando os há são vergonhosamente mal remunerados.

Todos os dias, quando saio do comboio para o metro, olho à minha volta e vejo robots. Centenas de pessoas saem ao mesmo tempo daquele transporte secular e ouve-se o som uníssono dos passos sincronizados dos que descem as escadas. Depois, vemos as filas de pessoas à espera da sua vez de passar as cancelas; um silêncio reina pontualmente interrompido por um espirro estridente. Refiro isto porque, em primeiro lugar, é triste observar esta automatização de comportamentos, e depois porque vemos dezenas de jovens presos nesta rotina que os acompanhará durante os próximos quarenta anos. Estes jovens robots dirigem-se para o seu trabalho das nove às nove (há que aproveitar enquanto ainda se tem energia para trabalhar, certo?), mas no final do dia a maior parte tem de regressar a casa dos pais, porque os salários oferecidos para a geração mais qualificada de sempre raramente dão para pagar a renda de uma casa. Pergunto-me, tanta qualificação para quê? Para os jovens serem vistos como mão de obra carente de um primeiro emprego que enriqueça o currículo?

Dizem que somos a geração do imediatismo, do rápido e dizem que não temos paciência, que não sabemos esperar. Mas vamos esperar o quê? Não sei se me parece muito bem esperar (com muita sorte à mistura) poder sair de casa dos pais aos 35 anos…

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Ultimamente até se tem falado minimamente de habitação, escusava era de ser devido a ataques brutais do Estado ao direito à propriedade privada. O problema de se ter um Governo socialista é exactamente este: em vez de governarem Portugal, concentram-se apenas em tentar gerir o que é dos outros, cumprindo uma agenda de esquerda que não tolera ninguém a quem se possa chamar “proprietário”.

Se calhar sou eu que não estou a perceber, mas custa-me a compreender o sentido de um Governo lançar um conjunto de propostas para a habitação, sem sequer incluir uma única proposta relativa à habitação jovem. Um país que todos os dias vê os seus jovens a procurarem emprego noutros países, devia tentar criar condições para impedir esse mesmo fenómeno, digo eu…

Estou no quarto e último ano de Direito e à procura do primeiro emprego e, genuinamente, gostava que ele fosse em Portugal. Já chegou a hora de Portugal se Endireitar.