O principal obstáculo para o crescimento económico do país reside em três questões fundamentais: a fuga de jovens capacitados, a falta de formação da maioria dos empresários portugueses e a falta de transparência na contratação de gestores públicos. Os dados da Pordata confirmam essa realidade preocupante.

Segundo a Pordata, diariamente, um número significativo de jovens altamente qualificados deixa Portugal na procura de melhores oportunidades no exterior. Esses jovens, com formação académica avançada, incluindo licenciados, mestres e doutores, não conseguem encontrar empregos bem remunerados no país e, consequentemente, procuram um futuro fora de Portugal.

Em termos de produtividade, Portugal apresenta índices abaixo da média europeia. De acordo com os dados da Pordata de 2022, o país possui um índice de esforço produtivo esperado na população ativa de 62, enquanto a Bélgica apresenta um valor de 142 e a Irlanda, 258. Isso sugere que, quando os trabalhadores portugueses são reconhecidos e elogiados noutros países mais desenvolvidos, é evidente que a sua formação teórica e profissional é de qualidade. No entanto, o problema reside na falta de oportunidades e salários adequados em Portugal, o que leva esses profissionais qualificados a procurarem trabalho fora do país.

Essa situação contraditória revela que o problema não está na qualidade da formação em Portugal, mas sim nas condições e perspectivas de trabalho oferecidas no país. A falta de crescimento económico pode ser atribuída, em grande parte, à falta de capacitação dos empresários portugueses. Muitos empresários, especialmente no setor privado, não possuem uma formação académica adequada, o que impacta negativamente o planeamento estratégico a curto, médio e longo prazo. A ausência de uma visão holística e a falta de conhecimento impedem o desenvolvimento das empresas e, consequentemente, afetam a economia portuguesa.

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Além disso, a falta de transparência na contratação de gestores públicos também contribui para o problema. A transparência é um princípio fundamental para garantir a integridade, eficiência e sustentabilidade das instituições governamentais. Infelizmente, os cargos de nomeação têm sido alvo de preocupação devido à falta de transparência, incluindo os problemas relacionados aos ajustes diretos em empresas de amigos e à presença de avençados que não desempenham adequadamente as suas funções. Essas práticas comprometem a imparcialidade, a competência e a confiança dos cidadãos nas instituições públicas.

Diante desses desafios, é crucial adotar medidas para promover uma maior transparência na ocupação dos cargos de nomeação. Isso inclui estabelecer critérios objetivos e processos claros de seleção, como a divulgação pública de vagas, a realização de concursos ou seleções competitivas e a definição de requisitos claros. Somente com uma participação social forte e uma supervisão efetiva será possível mitigar essas práticas que tanto têm degradado as instituições. É necessário envolver a sociedade de forma ativa na fiscalização e no acompanhamento dos processos de contratação e nomeação, garantindo que sejam seguidos critérios transparentes e meritocráticos.

A falta de planeamento é um problema generalizado em todas as áreas da sociedade portuguesa, incluindo a classe política. É essencial que haja um maior planeamento e previsão das necessidades futuras, especialmente no que diz respeito à formação de profissionais nas áreas da Saúde e Educação. O desenrasque, característico do modo de agir português, no qual as coisas são feitas de forma improvisada ou deixadas para o último momento, precisa de ser substituído por um mindset de planeamento estratégico e procura de soluções eficientes. Isso é fundamental para reduzir custos, prever resultados e aumentar a produtividade.

Para que haja uma mudança efetiva, é necessária uma participação social forte e ativa. Os cidadãos devem exercer uma supervisão constante sobre as práticas das instituições, exigindo transparência, responsabilidade e eficiência. É preciso valorizar e incentivar uma cultura de valorização da formação assim como de transparência em todos os níveis da sociedade, desde o setor empresarial até o setor público.

Em resumo, a falta de crescimento económico em Portugal está intimamente ligada à fuga de jovens qualificados, à falta de formação dos empresários e à falta de transparência na contratação de gestores públicos. Somente assim será possível reverter essa situação e impulsionar o crescimento económico do país.