Comemora-se hoje, dia 26 de Setembro, o Dia Mundial da Saúde Ambiental. É uma coincidência que este dia simbólico ocorra na sequência da Cimeira da Acção Climática, que se realizou nesta mesma semana em Nova Iorque, por iniciativa das Nações Unidas.

Obviamente que a relação entre a qualidade do ambiente e a saúde humana não se esgota nos fenómenos climáticos, embora muitos dos determinantes das alterações climáticas sejam também factores de risco para a saúde humana, tais como a poluição do ar ou o aumento da temperatura e acidificação dos oceanos.

Num contexto em que a atenção se foca maioritariamente nas alterações climáticas, seus determinantes e suas consequências, importa alargar o espectro de reflexão sobre os diferentes tipos de ambiente e como é que estes se relacionam.

Quando falamos em saúde ambiental estamos necessariamente a falar numa relação nos dois sentidos: de que formas os ambientes em que vivemos, nas suas vertentes físicas, químicas, biológicas, digitais, sociais, políticas, entre outras, afectam a saúde, a longevidade e a qualidade de vida da espécie humana; e de que formas o comportamento do Homem afeta a saúde dos ambientes. Trata-se de um trade-off de extraordinária complexidade, com profundas implicações éticas. É inegável que o triunfo da espécie humana implicou a alteração profunda de recursos físicos e biológicos, afectando equilíbrios necessários à saúde planetária (sendo esta, a saúde planetária, determinada como as condições de saúde que permitem a vida, incluindo a vida humana). E a melhoria e o garante da equidade das condições de vida (incluindo promoção, prevenção e reparação da saúde) em toda a extensão da população humana ameaça seriamente a sustentabilidade dos recursos vitais.

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A organização Health Care Without Harm publicou recentemente o primeiro de um conjunto de relatórios que chama a atenção para a pegada ecológica associada aos cuidados de saúde, quer primários (centros de saúde) quer secundários (hospitais). Estimam os autores que a pegada ecológica associada a este tipo de actividade equivale a 4,4% do total de emissões, a nível global (71% resultante da produção e transporte de serviços e produtos de saúde), chamando a atenção para a importância de se tornar estes serviços mais eficientes do ponto de vista clínico e ecológico.

Se olharmos para a história do conceito de saúde ambiental, vemos que o foco tem sido em aspectos de toxicidade: de que forma os agentes bioquímicos e físicos (metais pesados, matéria particulada, etc.) alteram a dinâmica salutar do corpo humano e de que forma nos podemos proteger. Mas a saúde ambiental é bem mais do que isto. Implica percebermos que os ambientes criados pelo homem (ambientes urbanos, digitais) e, em particular, os ambientes sociopolíticos são determinantes para manter as condições de vida que todos desejamos para as próximas gerações. Assim sendo, esperemos que as resoluções desta Cimeira da Acção Climática contribuam para um ambiente sociopolítico promotor de saúde planetária, garantindo assim os equilíbrios necessários à saúde humana.

Osvaldo Santos e António Vaz Carneiro, investigadores do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa