Nos últimos anos, a sustentabilidade tornou-se uma necessidade estratégica para empresas em todo o mundo, impulsionada por regulamentos como a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD). Esta mudança regulatória já foi amplamente discutida, portanto o foco deste artigo será outro: a mentalidade e a abordagem das empresas portuguesas em relação à sustentabilidade. Portugal tem avançado, mas a pergunta que se impõe é: estão as empresas portuguesas a fazer o suficiente?

O Panorama Atual em Portugal
Um estudo recente mostra que apenas 41% das empresas portuguesas estão confiantes em relação à conformidade com a nova diretiva, em comparação com 63% globais. Embora as grandes empresas tenham avançado significativamente na incorporação de práticas sustentáveis, as PMEs enfrentam uma pressão crescente para se adaptarem às novas exigências. A CSRD foca-se, por enquanto, nas grandes empresas, mas estas estão a exigir que as suas fornecedoras e parceiras — muitas vezes PMEs — disponibilizem informação detalhada sobre a sustentabilidade das suas operações. Muitas PMEs ainda não estão preparadas para fornecer esses dados, o que as coloca sob pressão crescente para implementarem práticas sustentáveis e responderem às expectativas do mercado.

O Barato Sai Caro
Muitas empresas adotam uma abordagem de “sustentabilidade low-cost”, fazendo o mínimo para cumprir a legislação ou as exigências dos stakeholders. Contudo, este processo de adaptação é complexo e exige, por exemplo, exercícios de dupla materialidade e análises de lacunas. Este esforço representa uma oportunidade para transformar as operações, e não deve ser tratado apenas como um custo.

Investir recursos sem integrar essas práticas na cultura organizacional é uma oportunidade desperdiçada. A abordagem a curto prazo acaba por ser mais cara a longo prazo, pois o esforço necessário para cumprir as normas pode ser o ponto de partida para uma transformação eficiente, se bem aproveitado.

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Falta de Recursos ou Falta de Vontade?
Embora os recursos financeiros sejam frequentemente citados como um obstáculo, o verdadeiro desafio muitas vezes é cultural. Enquanto que, por exemplo, os países nórdicos (como Finlândia e Suécia) veem a sustentabilidade de uma forma progressista, em Portugal prevalece uma mentalidade mais conservadora. Empresas que adotam uma visão a curto prazo, focando-se apenas no mínimo exigido, arriscam-se a perder relevância no futuro.

A Mudança Tem de Vir de Cima
A liderança tem um papel crucial na transformação sustentável das empresas. Para que a sustentabilidade tenha um impacto real, é necessário que os líderes empresariais vejam além da conformidade regulatória e integrem a sustentabilidade verdadeiramente nas suas estratégias. As comissões executivas devem não só definir metas ambiciosas, como também garantir que estas se traduzam em ações concretas.

Conclusão
Fazer o mínimo não é suficiente. É necessário abraçar a sustentabilidade como uma oportunidade estratégica. Adaptar-se às regulamentações não é apenas uma exigência legal — é uma oportunidade de inovar, crescer e garantir a competitividade a longo prazo.

Referências: PwC. “Global CSRD Survey 2024

Observadorassocia-se ao Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.  O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.