Tanto em Portugal como no resto do mundo, devido à sua consagração como direito constitucional em França, o aborto voltou a ser tema de artigos e comentários e, reiteradamente, o questionamento de alguns é imediatamente associado a uma forma de violência contra as mulheres, sugerindo quem questiona a IVG está a exercer violência contra as mulheres ou que é uma forma de violência contra as mulheres levantar questões sobre a IVG.
Como é que se pode considerar que questionar e repensar o tema da IVG é um acto de violência contra as mulheres?
Que medo é este que não dá espaço ao sangue-frio das perguntas basilares?
Porque é que quem ideologiza este assunto não quer ter um diálogo sério sobre o verdadeiro alcance da expressão IVG?
Porque é que insistem em reduzir este tema a prazos, procedimentos, leis, referendos e penas de prisão?
Porque é que só se fala de questões procedimentais e ainda não se ouviu uma única vez dizer que o aborto é um mal? Há alguém que o considere um bem?
Porque é que não temos a coragem de perguntar a cada mulher que pede o aborto, que condições precisam de ser preenchidas para não o fazer? Porque é que não perguntamos a nós próprios o que podemos fazer para o evitar?
Como é possível que alguém seja atacado de exercer violência contra as mulheres por defender que uma mulher deve ter acesso a toda a informação disponível e às alternativas possíveis antes de tomar uma decisão desta importância?
Que feminismo é este que coarta a liberdade das mulheres de tomar decisões livres e esclarecidas?
Que atestado de menoridade emocional é este que considera a mulher um ser tão frágil que não consegue tomar uma decisão, e aguentar o sofrimento que daí advém, se tiver de encarar de frente numa ecografia o ser humano que carrega no ventre?
Como pode haver consentimento informado e esclarecido sem a mulher expressar de forma clara que tem plena consciência que a sua decisão de interromper a gravidez significa provocar a morte de um ser humano com quem tem um vínculo biológico filial?
Como podemos exigir aos profissionais de saúde que compactuem com esta atitude paternalista, que não respeita o verdadeiro significado e alcance do consentimento informado e esclarecido? Que finjam que não sabem o alcance do acto que lhes querem impor praticar? Que finjam que é indiferente haver ou não haver razões muito fortes por detrás da decisão da mulher? Que finjam que é indiferente aquela decisão ter ou não ter a solidez necessária por falta de informação objectiva e científica?
Violência contra as mulheres e Interrupção Voluntária da Gravidez.
Arrisco uma nova correlação.
Será que não estamos perante uma nova forma de violência contra as mulheres, uma violência camuflada de empoderamento, que revela o que, já não os homens, mas uma ideologia, pensa verdadeiramente sobre as mulheres?