Nos últimos anos, a crescente relevância dos produtos e serviços digitais tem forçado as organizações a se adaptarem rapidamente às constantes transformações do mercado. Neste cenário dinâmico, prosperam as organizações que aprendem e entregam rapidamente – as chamadas organizações ágeis. Enquanto algumas empresas nasceram com essa filosofia no seu ADN, outras precisam percorrer um longo caminho para alcançar essa agilidade. Mudar a cultura organizacional é muito desafiante e envolve um processo complexo que exige uma liderança forte e determinada. Esta transformação do modus operandi das equipas para uma abordagem mais orientada à inovação, flexibilidade e autonomia requer visão, consistência e competência, além de paciência para esperar que os resultados apareçam a médio/longo prazo.
Um estudo realizado em Portugal em 2021 que envolveu 325 profissionais ligados ao desenvolvimento de produtos digitais, identificou as barreiras e facilitadores que mais contribuem para o sucesso ou insucesso destas transformações ágeis.
Foram identificadas quatro barreiras com impacto negativo relevante no sucesso de uma transformação ágil: i) combinação contraditória de métodos tradicionais com métodos ágeis, ii) falta de acompanhamento das equipas na nova forma de trabalhar, iii) incoerência entre planeamento de curto e longo prazo e iv) retrocesso prematuro para a antiga forma de trabalhar.
A capacitação das equipas deve ir além de uma simples formação de algumas horas. Numa fase inicial é necessário que exista um acompanhamento na aplicação de ferramentas ágeis na resolução de diferentes problemas e assim garantir que as equipas utilizam essas mesmas ferramentas com o propósito correto. Já a inclusão de práticas de planeamento que garantam consistência entre o curto e longo prazo é fundamental para transmitir solidez do processo e assim evitar que as equipas deixem de acreditar na mudança. De salientar que os métodos ágeis utilizam uma abordagem com maior foco no curto prazo, através de entregas incrementais de produtos.
Neste estudo foram identificados ainda cinco facilitadores – fatores com impacto positivo relevante no sucesso de uma transformação ágil: i) entender os valores associados aos métodos ágeis, ii) permitir a auto-organização e autonomia das equipas, iii) reconhecer a importância do papel do Product Owner, iv) comunicar ativamente a nova forma de trabalhar e v) capacitar a equipa de gestão em métodos ágeis.
As caraterísticas associadas aos métodos ágeis, como as equipas auto-organizadas, podem gerar equívocos de interpretação pela gestão de topo e devem ser desmistificadas com o correto entendimento dos valores e princípios destes métodos. Permitir que as equipas tenham autonomia e se organizem para criar as soluções mais adequadas para o cliente é fundamental e acaba por gerar compromisso na adoção contínua de novas práticas.
Por outro lado, reforçar junto das equipas a razão e os benefícios associados a uma transformação é sempre um fator central em qualquer processo de gestão da mudança. Mais do que desejável, é necessário partilhar os objetivos bem como indicar as ações necessárias para se alcançar esses resultados.
Já a escolha das pessoas adequadas para papéis determinantes não deve ficar para segundo plano. A figura do Product Owner revelou-se como sendo um dos papéis mais importantes de uma transformação ágil, sendo essencial que as pessoas que estão nesta função estejam envolvidas desde o momento inicial.
Para os profissionais envolvidos em transformações ágeis, é vital considerarem estas barreiras e facilitadores, pois terão um impacto decisivo no sucesso ou insucesso da mudança organizacional. Num mundo onde a capacidade de adaptação é a chave para a sobrevivência, abraçar a agilidade pode ser a diferença entre prosperar e ficar para trás.