De acordo com o Fórum Económico Mundial, 6 em 10 trabalhadores precisarão de reciclar as suas competências até 2027. Contudo, apenas 50% terá acesso a formação adequada. Pensamento crítico, pensamento analítico, literacia tecnológica, aprendizagem contínua e flexibilidade cognitiva estão no topo da lista das competências com maior importância para um futuro que está ao virar da esquina. No que toca à realidade portuguesa, estudos recentes da Comissão Europeia sobre o índice digital da economia e literacia financeira demonstram que Portugal apresenta um baixo desempenho em termos de competências digitais básicas da população e encontra-se na cauda da Europa em termos de literacia financeira. A acompanhar estes dados preocupantes temos os resultados recentes do teste PISA 2022, onde podemos observar que a literacia dos estudantes de 15 anos teve uma queda mais acentuada em Portugal do que nos países da OCDE. A influenciar estes resultados encontra-se não só a condição socioeconómica, onde os estudantes portugueses de famílias mais privilegiadas tiveram uma pontuação acima da média dos alunos mais carenciados, como também a crise que é vivida no ensino público, onde de acordo com o diagnóstico de necessidades docentes da DGEEC, Portugal irá formar muitos menos professores do que aqueles que terá de recrutar até 2030.

O estado a que chegamos no ensino é preocupante. Um país que não investe na educação não investe no futuro. E o futuro da educação precisa de um chip diferente em Portugal. Um chip que traga uma visão holística e de longo prazo para um setor vital da nossa sociedade. O acesso à educação deve ser mais democratizado, através de programas mais acessíveis financeiramente ou complementares ao ensino tradicional e que fomentem a educação como catalisador do ‘elevador social’. Os modelos de aprendizagem mais convencionais também não conseguem parar o vento com as mãos. Estão ultrapassados e precisam de se adaptar às necessidades e desafios atuais para captar a atenção e entusiasmo dos alunos. A inclusão de um percurso académico gamificado e a aposta no desenvolvimento de projetos e resolução de problemas reais dentro da sala de aula são alguns exemplos do que se pode fazer para incentivar a construção de um portfólio de competências para cada aluno. É necessário ainda que os conteúdos programáticos estejam alinhados com as competências críticas a curto e médio prazo e que promovam o saber pensar e saber fazer, que tanta falta fazem nas gerações mais jovens. As áreas onde existem carências notórias de conhecimento na sociedade portuguesa e onde estamos abaixo da média europeia, como são os casos da literacia financeira e digital são também prioritárias. Por último, mas não menos importante, não nos devemos esquecer de uma peça central do nosso sistema de ensino – os professores. É fundamental que a valorização da carreira docente seja tratada com o respeito que merece e que se inverta a tendência de desinvestimento que a escola pública atravessa. Os chips são uma das novas tendências tecnológicas e estão, cada vez mais, a redefinir novas fronteiras na nossa sociedade e em diferentes circuitos, como o caso da neurociência, desporto e robótica. Contudo, no que diz respeito à educação, a mudança de chip não é um termo da moda, é uma necessidade.

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