Vem esta reflexão a propósito de notícias factuais recentes, e de um comovente e bem escrito testemunho no Observador (em que um português emigrado na Polónia descreve a sua aventura pessoal, junto com a sua relação com uma avó que, apesar de lamentar o afastamento geográfico do neto, não consegue deixar de culpar os inocentes do governo de gestão pela bancarrota de 2011, e de desculpar os óbvios culpados mas «que não lhe baixaram a reforma», teimando em votar no PS até à morte). Bossuet «revisited»: Deus ri-se dos Homens que deploram as consequências cujas causas apoiam. Numa mistela com o bem católico: bem aventurados os pobres de espírito, pois deles será o reino dos céus.

Indo por partes, Portugal é um país pouco produtivo, cuja (falta de) produção de riqueza espelhada na (falta de) força da sua Economia está objectivamente traduzida no PIB per capita. E não falo aqui de tortura de números destinada a analfabetos funcionais de «variação relativa do PIB» em comparação com Economias de outros campeonatos (e seus PIB’s estratosféricos), entre outras ginásticas criativas. Falo da mera apreciação directa do PIB per capita, e o que ele mostra é simples: somos quase os lanterna vermelha da UE no valor (médio) que cada habitante produz, e em comparação com Economias semelhantes à nossa (ie, as piorzinhas), crescemos ridiculamente menos ao longo dos anos que passam.

Em miúdos: somos não apenas dos mais pobres da Europa, mas ainda por cima cada vez mais pobres entre os mais pobres, por mais que nos procurem «enriquecer» com declarações de supostos «milagres económicos», e que só não fazem escangalhar a rir aquelas almas protegidas com uma profunda demência social, que as abençoa com a mais total desconexão com a realidade do país.

Isto é a promessa de uma Economia de baixo valor acrescentado baseada num Eldorado de salários baixos, e que a muito incentivada (ainda que fugaz) imigração terceiro-mundista garante eternizar, por troca com a desperdiçada «geração mais preparada de sempre».

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Isso é a certeza que cada percentagem de fundos públicos destinados a serviços (ou o que quer que seja…) represente uma mera fracção do que aquilo que países realmente produtivos e ricos conseguem oferecer às suas populações.

A isto se associa, para o indivíduo lúcido, um «espaço Schengen» (mas não só…), que aliado a uma realidade de grande carência de mão de obra a nível europeu, autoriza ao desvario de, facilmente, procurar uma vida bem melhor a poucos milhares de quilómetros (e a escassas horas de avião) da pátria, a troco de um risco praticamente nulo. E onde um imigrante europeu como um português, herdeiro de valores com raiz judaico-cristã e greco-romana, historicamente assimilável, pacífico e trabalhador, é visto cada vez mais como um luxo.

Mas vamos definir claramente o que entendo por «vida melhor»: uma vida em que a mesma quantidade e qualidade de trabalho proporciona um poder de compra significativamente superior, e respectiva qualidade de vida acompanhante. E isto para praticamente qualquer trabalho, do médico ao trolha, do engenheiro ao picheleiro, do professor ao empregado de mesa.

Definindo ainda de outra maneira mais subjectiva: uma vida em locais onde existe uma verdadeira «classe média» e da qual se pode fazer parte, que por sua vez se caracteriza por, a troco do tal trabalho, autorizar caprichos tais que alojamento aquecido e confortável, transporte pessoal, descanso e férias reparadoras em destinos variados. E ainda Educação e sustento para os seus (porque sim, esses destinos também permitem encarar esse luxo, que é a «natalidade» e a constituição de famílias). E até alguma poupança. E onde quase nem se pensa em quanto se gasta em alimentação ou energia.

Enfim: uma aparente excentricidade num país onde se considera normal que um cidadão que trabalha seja… pobre ou remediado! Onde defensores de ideologias que tresandam de provas de recorrente e inevitável fracasso se masturbam com patéticas subidas de um salário mínimo que cada vez menos serve sequer para mandar cantar um cego (para os que não confundem «aumento do salário mínimo» com «aumento do poder de compra»), e que, obviamente, nenhum «jovem» quer! Mas que cada vez mais pessoas têm o deleite de auferir, nessa Economia gripada liderada por governantes com uma falta de vergonha directamente proporcional à falta de tino daqueles que depois votam neles, incapaz de criar valor (e bons salários), e que faz com que o tal salário «mínimo» esteja cada vez mais próximo do estagnado «médio», com a promessa de um dia ser mesmo «único», a gloriosa igualdade no nadir da mais profunda mediocridade.…

Por fim, passemos às entusiasmantes «perspectivas de futuro» dos descendentes de Fernão de Magalhães, por sinal um dos primeiros exemplares pátrios traído pela tacanhez do burgo, e que não se fez rogado em virar-se para mais promissoras (e, afinal, gloriosas) paragens.

Num país em que a maioria da população está presa entre a mais definitiva iliteracia política, económica, financeira (e o que mais quiserem acrescentar…), e uma cada vez maior dependência das esmolas de um Estado que assim melhor a amordaça, incluindo-se neste sempre crescente grupo reformados miseráveis, funcionários públicos frustrantemente mal pagos, e subsidiários de insuficiências diversas (e que continuam invariavelmente insuficientes), tudo regado com uma cada vez menos fértil natalidade, pois temos a receita perfeita da mais profunda e irreversível falência do nosso país enquanto nação. E sublinho o «irreversível», no sentido em que não existe apenas qualquer capacidade actual de mudança, mas ainda uma absoluta garantia dessa incapacidade se tornar, progressivamente, cada vez maior!

Daí a questão do título: mas o que ainda andam a fazer 70% dos jovens portugueses em Portugal?

Num país com fronteiras (ainda) abertas para essa Europa toda? Sim, TODA, porque já é difícil vislumbrar onde seria arriscado fazer pior que nesse rectângulo periférico onde se encontram? Nem falando do resto do mundo…. Onde, em qualquer lugar, choram por oferecer uma vida decente a troco de praticamente qualquer trabalho honesto? Onde a questão já nem está em procurar um paraíso (mais) liberal, bastando um inferno um pouco menos socialista?

Que masoquismo leva alguém a aderir à certeza de ser indecentemente explorado sem prazo, para alimentar todas as insuficiências de uma dependência crescente de tantos (e cada vez mais…), e a troco de quase nada?

Que delírio leva alguém a julgar que, num contexto em que qualquer valor criado é visto com olhos de inveja esquerdalhista, conseguirá acumular o que quer que seja para si ou para os seus, sobretudo conhecendo a propensão para o roubo da respectiva quadrilha que manda nisso tudo, e vai continuar a mandar? E quando se sabe que serão cada vez mais os que precisam da «eufemística» repartição de cada vez menos espólios furtáveis, o que só lhes acicatará ainda mais os maus instintos, os quais em Portugal se identificam com «virtude» pela largamente predominante fauna adepta do «altruísmo sacrificial» dos que trabalham e produzem?

Que vã esperança será essa que julga que alguma vez, presos pela propaganda da eficaz narrativa colectivista, estas gentes vão perceber que o que as aflige não é um qualquer desvirtuado «capitalismo», mas sim o Socialismo de conivência que tudo corrompe, nem é qualquer inexistente «Liberalismo», mas sim esta plutocracia socialista partidocrática que tudo seca à sua volta? E quando até o único partido com representação parlamentar que nega o Socialismo reinante decidiu fazer concessões morais «estratégicas» no Liberalismo que deveriam defender (e que os distinguia do resto da maralha), dando um tiro «cheio de pragmatismo» nos pés, numa altura em que ainda mal conseguia andar?

Enfim, custará tanto perceber, mesmo com base num saber empírico, que dependência é servidão? Quer dos dependentes perante os travestidos «benfeitores» (por sua vez sobretudo interessados em perpetuar esse estatuto de miserável dependência), quer de todos os desgraçados que vão ter que alimentar a insanidade?

Em Cuba percebo, a distância de 150km por mar, e em más condições de clandestinidade, é dissuasiva. Na Coreia do Norte também, aquela fronteira não é para brincadeiras e as balas são reais!

Mas… em Portugal? Jovens, o que se passa, e do que estão à espera…?

É o sol? Não vão faltar férias! É a comida? Podem cozinhar o que quiserem, e onde calhar!

É a esperança de serem agentes de uma reforma desse já incurável e moribundo país? Mesmo sabendo que são tantos, tantos mais os mártires da decadência, que os raríssimos heróis de transformação e mudança, e que a vossa vida é só uma…?

«Estamos em greve, nós, os Homens livres. Estamos em greve contra a auto-imolação. Estamos em greve contra o credo das recompensas imerecidas, e dos deveres não recompensados. Estamos em greve contra o dogma segundo o qual a procura da felicidade é pecado. Estamos em greve contra a doutrina que reza que a vida deve ser sinónimo de sacrifício e culpa» («Atlas Shrugged», Ayn Rand).

Façam pois «greve» desse Portugal e juntem-se aos outros «30%», é o melhor conselho que vos posso dar.

E vão mas é trabalhar para onde, nesta Terra, vos autorizarem uma vida digna de ser vivida.

Nota Editorial: Os pontos de vista expressos pelos autores dos artigos publicados nesta coluna poderão não ser subscritos na íntegra pela totalidade dos membros da Oficina da Liberdade e não reflectem necessariamente uma posição da Oficina da Liberdade sobre os temas tratados. Apesar de terem uma maneira comum de ver o Estado, que querem pequeno, e o mundo, que querem livre, os membros da Oficina da Liberdade e os seus autores convidados nem sempre concordam, porém, na melhor forma de lá chegar.