Estudos revelam que a incidência das doenças alérgicas ocupa a quinta posição das doenças crónicas mais frequentes no mundo e que tem vindo a aumentar não só nos seres humanos, como também nos animais de estimação.
Os animais de companhia são suscetíveis a alergias que podem ser provocadas por picadas de pulga (DAPP), pela ingestão de certos alimentos ou pela reação exagerada do sistema imunitário ao reconhecer partículas transportadas através do ar, nomeadamente pó, pólen e ácaros, como agentes alérgenos.
A atopia, ou dermatite atópica, é uma predisposição genética causada pelo contacto repetido com agentes alérgenos por inalação ou através da pele. Frequentemente observada em cães jovens adultos com, em média, um a três anos de idade, afeta geralmente os olhos, o focinho, o abdómen e os membros dos animais.
O primeiro relato escrito de uma alergia sazonal num animal de companhia remonta ao ano de 1941, quando Wittich documentou sintomatologia perene com exacerbações sazonais justificadas por uma polinose canina, que consiste numa rinite alérgica causada por sensibilização a pólenes. O autor registou que o cão exibia “espirros, lacrimejamento, hiperemia conjuntival e corrimento nasal” associados a prurido (comichão) intenso e generalizado. Hoje em dia, sabemos que a estes sinais de alerta para uma possível reação alérgica acrescentam-se outros tantos – em muito, coincidentes com a sintomatologia humana – e são exemplos: vómitos e diarreia, otites, infeções cutâneas, eritema de zona axilar, inguinal e abdómen ventral, sintomas oftalmológicos, como conjuntivites, e respiratórios, como espirros.
Embora não se identifique qualquer predisposição racial para a existência de doenças alérgicas nos gatos, é nos cães de raças como Boxer, Labrador Retriever, Golden Retriever, Pug, West Highland White Terrier, Pastor Alemão, Shar Pei e Dálmata, que se registam maior frequência de crises alérgicas (Zur, White, Ihrke, Kass & Toebes, 2002; Roosje, 2005; Nodtvedt, Bergvall, Emanuelson & Egenvall, 2006; Favrot et al., 2010; Jaeger et al., 2010).
Existem, atualmente, diagnósticos clínicos que se baseiam nos sintomas apresentados pelo animal e, essencialmente, excluem outras causas de prurido. Os testes serológicos existentes permitem detetar níveis de Imunoglobulina E (IgE) no animal mas, devido às limitações que apresentam, os resultados devem ser interpretados com cuidado e são essenciais na prescrição de um tratamento que vise a diminuição da sintomatologia em caso de crise alérgica, já que não existe cura para estas doenças. Normalmente, é delineada uma dieta à base de ácidos gordos para fortalecer a sua barreira cutânea, ou são prescritos alguns suplementos para o mesmo efeito.
Com vista a melhorar a qualidade de vida dos animais que sofrem de alergias sazonais é aconselhado evitar o contacto com alérgenos presentes no meio ambiente. Neste sentido, são recomendados passeios em locais com pouca abundância de ervas daninhas, de árvores como a bétula e o carvalho, ou onde predominem plantas como a aveia amarela e o dáctilo – sabe-se que todas estas espécies polinizam nas épocas da primavera e do outono. Outra estratégia a adotar é a de desumidificar espaços fechados e afastar os animais aquando da limpeza dos mesmos.
É, portanto, essencial que qualquer dono seja capaz de identificar a sintomatologia característica de um período de crise alérgica no seu próprio animal de estimação: mais do que estar alerta para consultar um médico veterinário, é importante apostar na prevenção e proteger os animais de estimação dos fatores de risco ambientais, especialmente preocupantes nas épocas de alergias sazonais na primavera e no outono.