Setembro. Mês de recomeços, de regresso ao trabalho e da promessa de rotinas reajustadas. Para muitos, este período é sinónimo de entusiasmo. Para outros, a mera ideia de voltar ao ritmo acelerado e às responsabilidades do dia-a-dia é suficiente para despertar a sombra da preocupação.

Enquanto o debate sobre a saúde mental ganha espaço, a ansiedade, paradoxalmente, intensifica-se de forma silenciosa. São as pessoas entre os 25 e os 38 anos quem mais sofre com os sintomas e que mais recorrem à telemedicina, como é o caso do Médico Online. Analisando todas as especialidades presentes no serviço de medicina online, em 783 consultas de Psicologia e Psiquiatria, mais de 95% tiveram a ansiedade como diagnóstico.

Os dados refletem uma realidade preocupante que vai além do regresso ao trabalho. Diversas plataformas de saúde, como os avaliadores de sintomas digitais ou linhas de atendimento de saúde, tais como triagem telefónica e consultas online, colocam a ansiedade entre os sintomas de saúde mental mais reportados em 2023.

É fácil cair na armadilha de minimizar o tema como um problema menor, um “mal do século XXI”. Vivemos numa era de hiperestimulação, onde a pressão por sucesso profissional, a conectividade constante, a incerteza do futuro e o bombardeamento de informação contribuem para um estado de alerta permanente. O digital impera, especialmente entre os mais jovens, tornando o contacto presencial desconhecido e assustador. Adicionalmente, o stress torna-se crónico, o sono perde qualidade e a mente não encontra espaço para o descanso e a introspeção.

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Contudo, é importante referir que a ansiedade não se limita a um período específico do ano. Se o inverno, com as suas rotinas atribuladas, pode mascarar os sintomas, a primavera e o verão trazem a pressão da exposição social, desencadeando crises silenciosas em muitos. O outono, por sua vez, pode representar um refúgio e a toca para mais um ano de hibernação sofrida.

Não é de surpreender que esta realidade nos deixe alterados. Porém, é crucial reconhecer os sinais de alerta: a dificuldade em relaxar, a irritabilidade constante, as alterações do sono e a sensação persistente de apreensão. Em alguns casos, a impossibilidade de conviver, expressar e, simplesmente, viver um momento de espontaneidade. Ignorar estas evidências pode ter consequências sérias – a ansiedade pode evoluir para ataques de pânico, depressão, problemas cardíacos, entre outras complicações.

Mas para interrompermos esse círculo vicioso, é preciso desmistificar a ideia de que procurar ajuda é sinónimo de fraqueza e reconhecer que a necessidade de apoio profissional, como a psicoterapia, demonstra coragem e responsabilidade pelo próprio bem-estar e dos que estão à nossa volta.

É tempo de agir, quebrando o silêncio, combatendo o estigma e garantindo que todos tenham acesso ao tratamento e apoio necessários para viverem uma vida mais saudável. Cabe a cada um de nós assumir o controlo da nossa saúde mental e construir um futuro mais equilibrado. Afinal, como escreveu o poeta Fernando Pessoa, “a nossa alma também precisa de higiene; a poeira do mundo também suja a alma”.