A TAP acaba de publicar o relatório de 2023, onde são apresentados os lucros do ano no valor de 177 milhões de euros. Perante estes resultados, são muitos os portugueses que questionam se não valerá a pena manter a empresa nacionalizada.

Qualquer análise de investimento obriga à comparação entre o valor investido e os resultados gerados pelo projecto e a calcular alguns indicadores, entre os quais o número de anos para recuperar o capital aplicado.  Ora, tomando como valor de investimento exclusivamente o montante de 3.236 milhões de euros injectados, ou a injectar, pelo Estado entre 2020 e 2025, precisaríamos de 18 anos para recuperar o valor investido, sendo que estes cálculos não consideram qualquer remuneração. Se incorporarmos uma taxa de retorno de 4% precisaríamos de 33 anos. Acresce a esta análise uma limitação importante: a mesma é realizada no pressuposto de que os resultados se irão manter nos próximos 18 anos.

Será razoável considerar este cenário? Temos de ter presente que a TAP tem uma forte exposição a uma diversidade de riscos, todos eles com potencial para impactar negativamente os resultados. O relatório explana, e em alguns casos, quantifica estes riscos. Destacam-se a instabilidade nas economias provocada pela guerra, o risco cambial, a crise energética, a pressão cada vez maior da sustentabilidade, nomeadamente, o compromisso ambiental da indústria relativamente à neutralidade carbónica, os riscos de subida de taxa de juro, o aumento salarial na sequência da reposição dos cortes sobre as remunerações realizados durante o período de Covid.

Analisando exclusivamente dois destes riscos, destacaria a questão cambial e a questão salarial. O relatório agora publicado refere “uma variação (positiva ou negativa) de 10%, de todas as taxas de câmbio com referência ao Euro, resultaria num impacto nos capitais próprios de, aproximadamente, 106,9 milhões de Euros”. Ora isto, é risco! Relativamente às alterações salariais esperadas em 2024, o impacto nos resultados da reintrodução das remunerações pré-covid, já reflectidas no último trimestre de 2023, é significativo. Efectivamente, os resultados do último trimestre foram já negativos. Como vão ser os próximos anos? Tudo indica que será de esperar valores com grande volatilidade e imprevisibilidade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A esta situação económica, acresce, e apesar de todo o esforço que o contribuinte fez, uma enorme debilidade financeira da TAP. A empresa não tem uma estrutura de capitais forte para aguentar perdas significativas e os valores em causa poderão ser muito elevados.

Por tudo isto, manter a TAP na esfera do Estado não é um investimento com retorno interessante e é financeiramente muito arriscado. A teoria diz-nos que o investidor deve ter consciência de que “maior risco deve ser compensado por maior retorno”. Neste caso, teremos muito risco e retorno baixo, provavelmente nulo ou mesmo negativo. Por outro lado, a indústria de aviação exige dimensão, que permita economias de escala e redução de preço nas aquisições de aeronaves, combustíveis e outros bens e serviços, o que a TAP dificilmente consegue obter sozinha. Alienar é um cenário que faz sentido, particularmente num momento em que a indústria está em alta, a empresa apresenta resultados e os potenciais compradores têm disponibilidade financeira para o fazer. Haverá, no entanto, que seleccionar um comprador que garanta o desenvolvimento do Hub de Lisboa e haverá que garantir o interesse público (como insularidade, fomento do turismo, apoio à diáspora) o que poderá ser eficazmente exercido por via de contratações de empresas privadas, suportando o Estado parte do custo das rotas que, a demonstrarem-se inviáveis, correriam o risco de vir a ser canceladas.

O futuro da TAP não será uma viagem tranquila!

Nota: A autora não utiliza o novo Acordo Ortográfico