A corrupção tem vastas e dolorosas consequências não só no progresso económico do país, mas também no bem-estar dos cidadãos e na justiça social. Com corrupção, os recursos económicos são desviados do fim a que se destinam para os bolsos dos corruptos, ficando bens e serviços – hospitais, escolas, pontes, estradas, etc. – mais caros do que deveriam ser ou até por construir. Por outro lado, os negócios em ambiente de corrupção requerem um maior esforço de investimento ao obrigar a mais recursos para “olear” o processo, ou não se chegam mesmo a realizar porque há investidores que não estão disponíveis para se comportarem dessa forma, e, portanto, não investem. Os países percecionados como altamente corruptos têm maior probabilidade de ver reduzido o seu espaço cívico e democrático, bem como os direitos das suas populações.

Vale a pena reler o estudo The Costs of Corruption Across the EU, realizado pelo The greens/efa in the European Parliament, em 2018, o qual revela que o custo estimado para a corrupção, em Portugal, atinge anualmente o equivalente a 7.9% do PIB, isto é, cerca de 18,2 mil milhões de euros.

Este trabalho apresenta conclusões, económicas e sociais, muito significativas. De destacar:

Os 18,2 mil milhões de euros anuais perdidos na corrupção em Portugal são suficientes para dar o salário médio anual português a cerca de 1,5 milhões de pessoas no país (mais de 14% da população).

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Os 18,2 mil milhões de euros anuais perdidos para a corrupção em Portugal são 10 vezes superiores ao orçamento para o apoio aos desempregados (cerca de 1,8 mil milhões de euros).

Este valor é ainda superior a todo o orçamento anual da saúde do país (16.1 mil milhões de euros).

Os 18,2 mil milhões de euros anuais perdidos para a corrupção em Portugal são 314 vezes superiores ao orçamento do Governo para a habitação (58 milhões de euros).

O dinheiro perdido para a corrupção em Portugal todos os anos é 9 vezes superior ao orçamento para o policiamento (quase 1,9 mil milhões de euros); ou mais de 72 vezes o orçamento para o combate aos incêndios (251 milhões de euros).

Se o dinheiro perdido para a corrupção fosse distribuído entre todos, cada pessoa receberia 1.763€ por ano.

A estas conclusões, acrescentaria ainda uma última comparação: se o dinheiro perdido para a corrupção fosse aplicado integralmente na redução de IRS, assunto tão falado neste momento, os portugueses não pagariam IRS, pois a verba total estimada ronda os 14 mil milhões de euros.

O estudo acima referido data de 2018. O que aconteceu, entretanto? Será que conseguimos melhorar? Infelizmente, não. De facto, o Índice de Perceção da Corrupção (IPC), publicado anualmente pela Transparência Internacional releva que, no caso de Portugal, o índice não apresenta qualquer melhoria desde 2012.

O combate à corrupção é um longo caminho que passa por todos nós!

Mas efetivamente, o que podemos fazer? Para além do estudo e formação para a compreensão do fenómeno, podemos dar força a organizações, associações, partidárias ou não, que desenvolvem estratégias e programas para o combate à corrupção. Saliento a All4Integrity e a Transparência Internacional, ambas associações apartidárias.

De destacar, neste momento, o Prémio Tágides, atribuído anualmente pela All4Integrity a projetos, trabalhos e/ou iniciativas de pessoas que se distinguem na promoção de uma cultura de integridade e prevenção e luta contra a corrupção em Portugal, em várias áreas da sociedade. Qualquer um de nós pode nomear alguém permitindo assim identificar, reconhecer, celebrar e premiar os indivíduos envolvidos neste combate.

As guerras não se ganham sós, mas com a luta e cooperação de muitos. Precisamos de seriedade nas lideranças (políticas e privadas) precisamos de uma Justiça capaz e célere na resolução dos casos. Mas precisamos também dos cidadãos. Cada um pode dar o seu contributo, ser parte da solução, participando com o exemplo e o trabalho, cooperando em estudos e debates, apoiando financeiramente estas associações … para um futuro melhor e mais justo no nosso País!