Trabalhei durante uma grande parte da minha vida profissional dependente do sector automóvel, quer na exportação de ferramentas, moldes, quer na produção e exportação de componentes, em que aproveitamos a oportunidade criada com a fundação da AutoEuropa para investir no sector. Oportunidade feliz para o conjunto da economia portuguesa, cujas exportações de componentes cresceram de cerca de 300 milhões de euros para 13.000 milhões anualmente.

Desde o início que fiquei surpreendido com o conservadorismo existente nas grandes empresas europeias do sector e como o nosso primeiro produto foi o desenho e a produção de ventiladores, propusemos acabar com os ventiladores a atirarem ar fresco para os braços e para a cara do condutor, propondo a ventilação a ser feita a partir das zonas inferiores dos carros. Nada feito e ainda hoje a empresa produz os mesmos ventiladores.

Presentemente, com a motorização eléctrica dos automóveis, em que a tecnologia das baterias é dominada em grande parte pelos fabricantes orientais, os Estados Unidos e a União Europeia estão a optar pelo crescimento do protecionismo através do aumento dos impostos, o que a prazo não resolverá o problema e tem o potencial para o agravar. Ou seja, na Europa fala-se muito de inovação, mas com pouca energia para a utilizar e sustentar.

A minha visão é diferente e baseia-se na sugestão da União Europeia optar pela obrigação de todos os fabricantes que pretendam vender carros eléctricos nos países europeus, possuírem na Europa fábricas fomentadoras da economia circular, onde as marcas desmontem os seus carros em fim de vida para reaproveitar os materiais e evitar a poluição resultante dos lixos industriais. Ou seja, a concorrência não se resolve com políticas defensivas de aumento dos impostos, mas com a criatividade capaz de provocar novos avanços e novas tecnologias através da inovação.

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Igualmente, o automóvel será cada vez mais um simples electro doméstico, mais fácil e mais barato de produzir e essa será uma outra via para a integração industrial de redução do número de componentes necessários e a robotização da montagem, com óbvias vantagens nos custos. Claro que haverá sempre compradores dispostos a pagar milhões pelas famosas máquinas que existem e continuarão a existir, mas isso não é a única via para a manutenção de uma indústria automóvel europeia competitiva internacionalmente.

A norte americana Tesla deu um forte abanão na indústria automóvel mundial com a inovação do carro movido a electricidade. Mas não só, fiquei surpreendido a primeira vez que vi em Lisboa, no Corte Inglês, um espaço destinado à apresentação e venda dos automóveis da empresa. A ideia pareceu-me óbvia, mostrar e vender um novo carro expondo-o aos olhos de milhares de pessoas em cada dia que por ali passam, em vez de umas dezenas ou centenas de visitantes nos standes tradicionais. A surpresa foi ainda maior por não ver que as marcas europeias tivessem aprendido com a inovação e não fizessem o mesmo, limitando-se a tentar vender automóveis através da via digital em vez de preferirem sentar os clientes no interior dos carros.

Nos últimos dias soube-se que os carros híbridos, (PHEV), são muito mais poluentes do que os fabricantes anunciam. Não foi uma surpresa, porque sempre me pareceu óbvia a superioridade dos carros totalmente elétricos, nomeadamente dos fabricantes que optem por maior autonomia. Dado que a esmagadora maioria dos utilizadores dos carros híbridos não possuem uma fonte de carregamento em casa, para ligarem o carro à corrente todas as noites, sempre me pareceu claro que as pessoas não se dariam ao incómodo de o fazer diariamente na rua e optariam pelo uso diário do motor de combustão.  Ou seja, autonomias de 40 ou 50 quilómetros não servem para grande coisa.

Como escrevi acima, não acredito que a protecção da indústria automóvel europeia possa ser feita através de uma guerra comercial com a China, ou com a ida das marcas europeias a produzirem na China. Por outro lado, os carros eléctricos têm enormes vantagens sobre os carros movidos a gasolina ou a diesel, mas não são o fim da história e outras tecnologias surgirão no futuro, nomeadamente no campo da armazenagem da electricidade. Não acredito na solução do hidrogénio para mover automóveis, mas outras soluções aparecerão e a inovação é a única via para as empresas europeias se defenderem da concorrência.