Numa manhã tórrida de praia em Julho, abro o Instagram e entre stories descubro que, após 8 anos encerrado ao público, o Museu do Design e da Moda (MUDE) vai reabrir com uma obra de requalificação estrutural, uma vez que num quarteirão pombalino, as preocupações sísmicas nunca são demais. Naturalmente, a expectativa e o suspense foram crescendo, nomeadamente no meu caso que, além de ser designer, tive em 2013 a oportunidade de fazer lá voluntariado como guia aquando da Trienal de Arquitectura de Lisboa, por isso de certa forma o dejavú dos cantos à casa era inevitável.

Quando finalmente tenho oportunidade de visitar o museu, deparo-me com a iniciativa de inauguração O EDIFÍCIO EM EXPOSIÇÃO, que pretendia dar a conhecer as diferentes transformações arquitectónicas ocorridas. O edifício exposto era frio, despido e parado no tempo.

Num museu que se diz do Design e da Moda, decidem que na sua reinauguração se deve dar primazia à disciplina da Arquitectura em detrimento das suas áreas principais. Primeiro, ao revelar apenas a sua nova carapaça e agora, dois meses passados, ao escolher como exposição inaugural — MAIS DO QUE CASAS: COMO VAMOS HABITAR EM ABRIL 2074? -, onde mais uma vez o Design permanece na sombra dos imóveis. Todos sabemos que o Design e a Arquitectura caminham lado a lado mas será que não haverá espaço para independência neste casal? Em especial, quando já existem espaços em Lisboa dedicados à exposição exclusiva de Arquitectura como Centro de Arquitectura / Garagem Sul no CCB ou o MAAT, em cuja sigla o segundo “A” representa “Arquitectura”. Claro que esta disciplina tem também um espaço próprio e seu lugar natural no MUDE,  mas quando se pretende dar uma casa própria para o Design e a Moda, dar primazia à Arquitectura nestas primeiras intervenções desfocam o seu propósito.

Existe um caminho longo a percorrer para trabalhar na valorização do Design enquanto métier em Portugal e o MUDE deve desempenhar o papel de agente de mudança, usando o seu espólio de Francisco Campelo (Design e Moda) para virar esta página. A esperança reside na programação futura, onde PARA QUE SERVEM AS COISAS? dará o mote à exposição de Outubro. Não querendo ser injusta com a equipa que planeou este novo arranque aos soluços, espero que estes primeiros meses de abertura, sejam apenas uma exposição temporária ao virar da esquina de uma nova era.

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No extremo oposto comparamos o incomparável: a reabertura do Centro de Arte Moderna Gulbenkian com um edifício redesenhado pelo arquitecto japonês Kengo Kuma numa reinterpretação de um projecto de 1983 do arquitecto britânico Leslie Martin. Um projecto que pretende unir este edifício contemporâneo aos demais espaços da Fundação, de forma a integrar e potenciar a sua abertura à comunidade.

Entre 2014 e 2017, tive o privilégio de, como descrevia um antigo professor, ter o “Melhor trabalho do mundo” e ser assistente de sala na Gulbenkian, o cargo vulgarmente apelidado de “Lanterninha”. Respirando a cultura do agora ampliado jardim, aos edifícios que acolhem. Aplaudo o Centro de Arte Moderna Gulbenkian  por criar e dar um lugar à mesa criando o Conselho Consultivo Jovem, um grupo que me parece diverso e plural nas suas visões e backgrounds. Uma lufada de ar fresco para impulsionar e renovar as vozes que habitualmente populam estes meios curatoriais.

Destaco a programação delineada que dá ao visitante não só um vislumbre da cultura japonesa que inspirou o desenho do novo edifício assente no conceito do Engawa (considerado um prolongamento do espaço para um ambiente informal), como também a apresentação da coleção com possibilidade de visitar parte das suas enigmáticas obras em reserva.

Para terminar e em contraponto aos espaços museológicos que elenquei nesta breve visita virtual, gostaria de vos convidar a fazer o SAVE THE DATE de 7 a 10 de Novembro para o Lisbon Art Weekend, um fim de semana prolongado onde à semelhança das galerias que populam as ruas do bairro de Chelsea em Nova Iorque, os visitantes poderão explorar o panorama galerístico lisboeta em modo vibrante.

Num país em que o investimento na cultura é sempre feito com recurso a um conta gotas, Lisboa está na crista da onda multicultural com mestres raposas e sangue novo em potência mas por vezes faltam horizontes largos. A cultura parece estar num constante estado de espasmo hípnico, sem nunca acordar como um todo. É crucial que a cultura work in progress da nossa cidade continue a evoluir porque os museus devem ser símbolos do equilíbrio ténue entre memória e progresso, abrindo espaço para educar e servir o público, englobando novas vozes: elas batem leve, levemente, mas a cultura precisa de ti.

Observador associa-se ao Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.  O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.