No rescaldo do Dia da Terra, exploramos o conceito de BioDesign e as inovações no campo dos biomateriais.

Mas o que são biomateriais e como os podemos obter? Estes recursos podem surgir do reaproveitamento de: estruturas orgânicas como polímeros de ácido láctico (PLA) ou o micélio (a “raíz” dos cogumelos), resíduos agrícolas como a casca de arroz, proteínas, resíduos industriais e resíduos marinhos como algas ou esqueletos de corais. Estes bioprodutos têm aplicações em diversas indústrias, desde Arquitectura, Moda ou Packaging.

Um pouco por todo o mundo começam a surgir casos de estudo como a KEEL LABS, SWAY, NOTPLA, MYLO ou a incubadora portuguesa Blue Bio Value, que transformam e reinventam objectos que usamos todos os dias, desde sacos de plástico, a roupa e talheres, usando alternativas sustentáveis que substituem as matérias primas convencionais como o plástico ou o cabedal. A criação deste tipo de soluções permite não só regenerar a natureza como contribuir ativamente para a redução do desperdício e para o equilíbrio dos recursos finitos do nosso planeta. Os biomateriais abrem caminho para o florescimento de uma economia sustentável e circular, que nos ajuda a repensar a cadeia e os sistemas de produção.

A Simbiose entre o meio ambiente e a criatividade está enraizada em disciplinas como o Design Biomimético que consiste numa forma de pensamento que imita as estratégias encontradas na natureza para resolver desafios humanos. Para ajudar a compreender as possibilidades deste conceito, convido-vos a explorarem as páginas asknature.org ou biomimicry.org, um ótimo ponto de partida para navegar este método. Um exemplo que espelha esta busca de padrões na natureza é o Velcro, um material cujo design foi influenciado pelas sementes da planta bardana (Arctium minus) e a sua funcionalidade.

Os Biomateriais são uma área fértil onde especialistas em design, biologia e engenharia se encontram em terreno comum, sendo que esta colaboração entre profissionais de diferentes áreas do saber é naturalmente mais propícia em ambientes e com formas de pensamento multidisciplinares. No entanto, no contexto da educação em Portugal somos limitados desde cedo a escolher uma área de foco em detrimento de outras, seja o caminho pelas Ciências, Humanidades, Artes ou Economia. Sistemas de ensino secundário como o americano ou o alemão, potenciam um maior leque de opções que permitem decidir e combinar disciplinas do conhecimento que melhor caracterizam os nossos interesses, competências e aptidões. Enquanto estudante, tive o privilégio de no Mestrado em Design para Inovação Distribuída no IAAC (Instituto para Arquitetura Avançada da Catalunha) aceder a um currículo interdisciplinar que envolveu a capacitação e a prototipagem de sistemas sustentáveis. A oportunidade de aprender com este programa possibilitou-me alargar horizontes e abordar temas com uma perspectiva mais global. Um ambiente que cruza áreas do conhecimento das ciências às artes e humanidades torna-nos profissionais mais completos, o que não invalida a relevância de ter foco na especialidade que escolhemos enquanto carreira.

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Hoje na minha função de designer colaboro ativamente na comunicação de organizações como a Fundação Grace Farms localizada no Connecticut nos Estados Unidos da América com o projeto Design For Freedom (Design para a Liberdade) que apoia projectos piloto para desenvolver biomateriais e garantir a recolha de matérias primas tradicionais (madeira, metal, tecidos, etc) eticamente responsáveis para serem utilizadas em materiais de construção para arquitectura. Esta iniciativa é um exemplo claro de um ambiente multidisciplinar onde a troca de ideias com especialistas de várias áreas enriquece o resultado final e acrescenta uma camada importante ao processo de decisão.

É urgente continuar a desenvolver biomateriais com um cariz mais sustentável e consciente, para podermos ter um papel determinante e contribuir para mitigar o flagelo das alterações climáticas e a perda de biodiversidade. O desenho de alternativas sustentáveis para atenuar estes problemas está ao nosso alcance, quer seja através de pontes que estabelecemos entre disciplinas para construir grupos de trabalho mais diversos ou usando a criatividade e conceitos como a biomimética como chama que nos inspira a criar além fronteiras.

Observadorassocia-se ao Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.  O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.