Considero-me um dos brigantinos que mais promove e divulga, positivamente, a Cidade e o Nordeste, nos mais variados aspetos. Quem me conhece sabe que esta filosofia de defesa da nossa região está em mim, faz parte de mim, corre nas minhas veias, reside no pensamento, emergindo a cada momento. Assim, com a inerente identidade e decorrente naturalidade, não me cansarei de escrever ou falar do que é nosso, esteja onde, como e com quem estiver, sem subserviências, nem constrangimentos.

Por isso, não escondo a minha insatisfação, o meu profundo desagrado, quando deparo com alguém, ou com situações, que contrariam, insustentavelmente, a minha postura de entrega no amor à terra. Assim sendo, obviamente que, na minha presença, não admito que possa ser denegrida a imagem deste recanto do país, onde o encanto é uma verdade, numa multiplicidade de realidades, que vai desde a beleza natural, à gastronomia ou à vida com qualidade.

Indignam-me, com efeito, manifestações de desconhecimento deste “Reino Maravilhoso”, nomeadamente quando pessoas eruditas bem (?) formadas, quanto à nossa região se revelam negligentemente, para não dizer displicentemente, desinformadas. Sendo certo que há Nordestinos que viajam para terras distantes, de férias, sem conhecerem, devidamente, a geografia do seu território, não será menos verdade que muita gente do litoral, sobretudo da centralista Capital, divaga pelo mundo a conhecer outras terras, outras gentes, sem nunca terem viajado pelo “nosso Portugal”, mesmo sendo um País pequeno, afinal.

A ideia de que Bragança fica longe de Lisboa, sem a devida e justa inversão, não é aceitável, nos tempos modernos. Jamais esquecerei uma intervenção do antigo presidente da Câmara Municipal de Bragança, José Luís Pinheiro, quando, no âmbito de uma entrevista radiofónica, o jornalista, com algum desdém, o interpelou referindo que Bragança ficava longe de Lisboa. Na resposta, o irreverente autarca, respondeu de forma categórica: “Bragança fica longe de Lisboa, é certo, mas também Lisboa de Bragança. Porém, estamos mais perto de Madrid, Paris, Salamanca, Barcelona e do resto da Europa”.

Recordo, também, há uns anos atrás, uma conferência, em Bragança, na qual, Marcelo Rebelo de Sousa, agora Presidente da República, salientava o facto de uma boa parte dos lisboetas só conhecerem do país, pouco mais do que 20 km à volta da Capital. Na verdade, a ideia de que Lisboa é o centro do País e tudo resto é “paisagem”, parece ser, mesmo na atualidade, uma triste realidade.

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Quem se lembra, por exemplo, da deslocação do Belenenses a Bragança, então orientado por Jorge Jesus, certamente não esquece a ousadia, por este verbalizada, de que necessitaria de um GPS, para conseguir saber o itinerário para a capital nordestina e onde ficava, esquecendo, até, aquele técnico, que o presidente, do emblemático clube lisboeta, que lhe dava trabalho, na altura, infelizmente já falecido, era nordestino, de Freixo de Espada à Cinta.

Vem o atrás descrito a propósito de uma intervenção a que assisti, no âmbito do penúltimo Festival Literário de Bragança. Um dos ilustres escritores presentes, quando foi convidado para o evento, teria ficado preocupado com a deslocação, questionando a organização, como viria para Bragança. Todavia, não se coibiu de referir que conhecia muitos lugares do Mundo e sabia como viajar e se deslocar no interior de vários Países. E quem já se esqueceu das referências de José Cid, sobre os Transmontanos, ainda não há muito tempo?

Pois eu digo e direi: Bragança fica aqui, ao lado de Espanha, servida por uma boa autoestrada, que une o Litoral Português ao resto da Europa e por uma carreira aérea, que faz a ligação ao Algarve, com escala em Vila Real, Viseu e Tires, duas vezes por dia — transporte que a grande maioria das cidades portuguesas não tem.

Mas também não há dúvidas que o Nordeste Transmontano tem escritores/as, homens e mulheres de letras, de reconhecido valor, com identidade, que bem poderiam fazer parte do Cartaz do Festival Literário deste ano – 2019.

Mais palavras para quê?