De acordo com dados da APAV, houve um aumento de 181% de casos de bullying reportados desde 2020 a 2022 e, um estudo europeu determinou que em Portugal, em pleno 2024, os casos de bullying contra estudantes LGBTQ aumentou 75%.

O bullying é uma manifestação cobarde, de indivíduos que têm a necessidade de maltratar, humilhar, rebaixar outros para alimentar o seu pequeno ego, para sentirem poder. Esta necessidade de humilhar, dominar e intimidação está intimamente relacionada com a sua pobreza de carácter e com o seu fraco autoestima. Ou, pura e simplesmente, não têm empatia para com os outros, como é habitual no narcisismo ou sociopatia.

O bullying não está meramente presente nas escolas e entre os mais novos. Está presente na sociedade, nas famílias, no espaço laboral e no próprio parlamento. Indivíduos que usam a sua posição social e hierarquia para menosprezar, difamar, excluir, maltratar e traumatizar outros.

Uma violência verbal, física, emocional e psicológica contínua e intencional, com alvos escolhidos devido a raça, religião, género, aparência, orientação sexual, classe social, entre tantas outras desculpas. Mas, na verdade, o bullying é apenas e somente ódio e para odiar, não há razão necessária; o ódio é a sua própria razão.

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O bullying é meramente um sintoma, não a doença, essa está dentro de nós, seres humanos. Mas também está a cura.

Há uma lenda nativo-americana Cherokee que afirma a existência de dois lobos dentro de todos os seres humanos. O lobo bom, a luz, o amor, o perdão, a positividade; e o lobo mau, o rancor, o ódio, a vingança, a negatividade. Todos os dias esses dois lobos lutam até a morte. Não é o mais inteligente, nem o mais forte, nem o mais astuto que vence. É aquele que alimentamos mais. Todos, sem excepção, temos sempre a opção de curar traumas, modificar comportamentos, analisar formas de pensar, rejeitar ideias tatuadas no nosso subconsciente, de fazer diferente, ser melhor.

Não é necessário insultar, ameaçar, plantar rumores ou usar a chacota ou humilhação para nos sentirmos especiais. Somos todos uma tela pintada de características próprias, qualidades, defeitos, passado e tons tão únicos que criam uma obra de arte inigualável. E é isso que torna todos nós imprescindíveis e únicos, com tanto para oferecer ao todo, à sociedade, ao mundo. Se colocarmos o ego de parte, eliminamos a necessidade de superioridade para o alimentar.

Pessoas felizes, com uma forte autoestima e confiança nas suas capacidades e características não sentem a necessidade de magoar, provocar e destruir para ter poder e para dominar (ou ter a sensação de) terceiros.

Em 2021/2022, a PSP registou 2.847 ocorrências de bullying nas escolas. Algo está muito errado sobre o que estamos a ensinar às novas gerações.

Bruce Dickinson afirmou que “o bullying acontece porque pessoas fracas precisam de sustentar o seu ego, espancando e humilhando os outros”. Isto cria na vítima de bullying, feridas que nunca serão saradas, medos que permanecerão, insegurança que irá ditar a forma como irá escrever a sua história e danos físicos, mentais e psicológicos que a irão acompanhar, lado a lado, durante toda a vida. As consequências do bullying é como branding, uma imagem queimada no corpo, na alma e na mente impossível de remover.

Em 2006, uma jovem de 13 anos chamada Megan Meier suicidou-se depois de sofrer de cyberbullying por parte de um perfil falso criado e usado pela sua vizinha e mãe de uma colega de escola. Uma vida perdida, sonhos despedaçados, um futuro cruelmente destruído. Onde estaria Megan hoje, que vidas teria tocado, que futuro teria tido? Nunca saberemos, pois a sua vida foi-lhe negada, e nem consigo imaginar a dor que sentiu ao ler:  “o mundo seria melhor se não existisses”.

O cyberbullying é apenas uma adaptação a evolução tecnológica e, através da desumanização e facilidade, o sentimento de inconsequência, está a ameaçar o local que deveria ser um porto seguro, o nosso lar. É imprescindível voltar a conectar com o que nos torna humanos e melhorar as nossas fraquezas, para assim, através de exemplo, inspiramos outros a fazerem o mesmo.

“O ser transcende a aparência assim que começas a descobrir o ser que há por trás de uma cara bonita ou feia, de acordo com os teus conceitos e preconceitos; as aparências superficiais desaparecem, até deixarem simplesmente de importar”, citação de A Cabana, de William P. Young. Somos tão mais do que é visível, do que determinada característica e temos a capacidade imensa de agir positiva e correctamente para com o nosso semelhante, a sociedade e o mundo em geral.

Já é tempo de reconhecermos a diferença como algo positivo e razão de celebração, pois são as nossas diferenças que nos tornam únicos e é através da combinação de todas essas diferenças que será possível criar um mundo melhor.

Mas, como afirmou Martin Luther King, “ou aprendemos a viver como irmãos ou iremos morrer juntos, como idiotas”.