“Estou ausente da atividade a que dediquei toda a minha vida e tinha – apesar de muitas vezes os jornalistas se lembrarem de me pedir opinião sobre algumas matérias – jurado a mim mesmo manter esta tranquilidade sem entrar em posições públicas. No entanto, e perante o que está acontecer por estes dias na área da cultura neste país, e sobretudo perante a hipocrisia e a injustiça do que vi escrito nos media mas sobretudo nesse lugar onde sem qualquer pudor se dizem as maiores disparates mas que se tornam verdades absolutas – o facebook – desde que sejam ditas com firmeza e violência, assim escrevo.
O Miguel Honrado [secretário de Estado da Cultura] é, seguramente, a pessoa no sítio certo. Digo-o com a experiência de trabalho que juntos construímos, mas di-lo-ia também pelo modo como tem gerido este processo de redefinição dos apoios às artes. Tem a capacidade, a honestidade e o profissionalismo que a lealdade ao meio profissional pede, sem estar a mando de lobbies políticos ou quaisquer outros.
DGArtes. Que polémica é esta que uniu as companhias de teatro contra o Ministério da Cultura?
Quando falo de hipocrisia, refiro-me precisamente ao ataque pessoal que, da forma mais ofensiva e demagógica que alguma vez vi e que tem sido usado para criticar a sua ação e as políticas do Ministério da Cultura. Sim falo de encenadores – que se acham acima de tudo e de todos – que nos anos em que estive no Teatro São Luiz só os via nos momentos das suas próprias produções e que sempre se mostraram muito pouco interessados pelos seus colegas! Esses mesmos que agora estão a atear o facebook com belas frases de solidariedade para com os colegas cujo trabalho nunca lhes interessou bem como companhias ou espectáculos a que nunca assistiram!
Ao longo dos anos todos reclamaram para que no Ministério da Cultura se sentasse quem soubesse o que são as dificuldades do setor das artes, que compreendesse os detalhes desse setor, e que pudesse traduzir em política as suas aspirações. Chegada a hora – e essa hora começou logo com a sua chegada, através de um processo longo de discussão com todos os agentes, ou aqueles que assim o quiseram fazer – todos aqueles a quem a mudança faz tremer porque não querem ser questionados.
Os caminhos são, muitas vezes, processos difíceis na sua construção mas há que ter coragem muitas vezes – e ele tem-na, como demonstrou na conferência de imprensa na qual lembrou o processo de auscultação de um setor que durante anos reclamou, precisamente, aquilo que agora este modelo de financiamento vem assegurar. Ao propor mudar rumos, sabendo não estar em linha com valores instalados, fá-lo escutando sempre os que estão à sua volta. E repito: o Miguel Honrado é, seguramente, a pessoa no sítio certo.”
Jorge Salavisa
Lisboa, 4 de Março de 2018
“Arrogância” de Miguel Honrado “não é bem recebida” por agentes culturais