A ciência e as instituições de Ensino Superior são motores de inovação e progresso económico e social para o nosso país, e como tal é necessário cuidar do seu âmago — as pessoas — que são o seu bem mais precioso. Por isso, quando falamos de ciência e Ensino Superior falamos antes de mais de estudantes, investigadores, docentes e pessoal técnico, administrativo e de gestão.

O professor Veiga Simão acreditava que “uma pessoa mais culta é uma pessoa mais livre”. Por isso, os mais de quatrocentos mil estudantes inscritos nas instituições de Ensino Superior em Portugal orgulham-nos a todos e garantem-nos que Portugal está no caminho certo para uma sociedade justa e uma democracia consolidada.

Contudo, é necessário olhar para o que não está bem e/ou falta fazer. O acesso a habitação condigna é um problema geral de toda a população portuguesa, mas tem especial relevo nos estudantes universitários, com os insustentáveis aumentos do custo de vida, em particular dos preços do alojamento estudantil, com implicações no desempenho académico e bem-estar dos estudantes. Com o Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior é esperado duplicar a oferta de camas em residências universitárias até 2030 e esta meta terá obrigatoriamente de ser cumprida. Apoiar, através do acesso a mais bolsas e do alargamento da oferta pública de camas em residências universitárias, é fundamental para o sucesso e satisfação da comunidade estudantil.

Também os nossos investigadores estão sujeitos a grande pressão e instabilidade, com níveis inaceitáveis de precariedade, i.e., mais de oitenta por cento têm bolsa ou um contrato de trabalho a termo. De forma a projetarmos o futuro e garantirmos que os investigadores portugueses têm estabilidade para trabalhar e dar respostas aos grandes desafios que o planeta enfrenta, é preciso rejuvenescer os quadros (docentes e investigadores) dos centros de investigação e das instituições de Ensino Superior. Isto é feito através do aumento do orçamento para a ciência e Ensino Superior para 3% do Produto Interno Bruto (PIB) seguindo as recomendações internacionais, mas também solidificando a ligação da Ciência às empresas de base científica e tecnológica, através da criação de emprego qualificado e formação superior dos quadros.

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Um olhar para o futuro nas instituições de Ensino Superior implica modernização das infraestruturas e equipamentos de forma a garantir competitividade internacional. Mas implica também formação para a transição digital e implementação de boas práticas da igualdade de género. Áreas como Engenharia, Inteligência Artificial e Computação continuam a ser dominadas por homens, de acordo com o relatório de 2021 do World Economic Forum. Uma vez que mais de metade da população portuguesa doutorada é do sexo feminino, é crucial garantir práticas imparciais de contratação e promoção.

Numa competitiva e exigente economia internacional, todos estes pontos apenas são possíveis com um diálogo ativo entre instituições de Ensino Superior, poder político, sociedade civil e empresas. Urge cumprir promessas passadas e presentes na área da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, mas, acima de tudo, urge fazer acontecer o futuro de Portugal.

Almada Negreiros escreveu: “Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa – salvar a humanidade”. Por isso é tempo de passar das palavras à ação.

Zita Martins é astrobióloga e professora associada no Instituto Superior Técnico (onde é também vice-presidente para os Assuntos Internacionais). Foi investigadora da Royal Society University, no Imperial College London, e é atualmente coinvestigadora de duas missões da Agência Espacial Europeia que serão instaladas na Estação Espacial Internacional. Presidente do grupo de trabalho sobre exploração do Sistema Solar da Agência Espacial Europeia e consultora da Casa Civil do Presidente da República para as áreas do Ensino Superior, Ciência, Inovação e Transição Digital, é membro do Clube dos 52, uma iniciativa no âmbito do décimo aniversário do Observador, na qual desafiamos 52 personalidades da sociedade portuguesa a refletir sobre o futuro de Portugal e o país que podemos ambicionar na próxima década.