Esta quinta-feira, 19 de dezembro, celebram-se os 250 anos da descoberta do cloro. Há mais de dois séculos que este elemento descoberto em 1774 pelo químico sueco Carl Wilhelm Scheele moldou decisivamente a história da humanidade.
O cloro desempenha desde logo um papel fundamental na proteção da saúde pública, nomeadamente no tratamento da água. A sua descoberta moldou de tal forma o modo como vivemos o nosso quotidiano, que é extremamente oportuno aproveitar esta efeméride para reconhecer a sua importância vital em tantas facetas da vida contemporânea.
Sem o cloro, provavelmente não teríamos acesso a água potável para consumo humano – mais de 90% da água potável na Europa depende do cloro-álcalis. É o cloro que garante que todos os dias podemos abrir a torneira e beber água minimizando o risco de contrair doenças como a febre tifoide, dengue ou ébola. Ao longo dos anos, o cloro ajudou a salvar milhões de vidas.
Ainda na proteção da saúde pública, muito dependente da higiene, o cloro é amplamente usado para desinfetar. Recorrendo a um exemplo recente que seguramente todos se lembrarão, foi essencial para desinfetar espaços públicos durante a pandemia de Covid-19. Os compostos do cloro são ainda usados na produção de lixivia, de sabão e de outros produtos de higiene.
Através do cloro, são produzidos mais de três dezenas de compostos que têm as mais variadas aplicações em diversos setores de atividade, como a indústria farmacêutica ou alimentar, o desporto, os transportes, ou a energia, só para referir alguns exemplos. Estima-se que a produção de cerca de 88% dos medicamentos dependem da química do cloro-álcalis. Falo de medicamentos para a asma, a diabetes, a tensão arterial elevada, o colesterol e até mesmo o cancro.
Entre aquelas aplicações, há casos menos talvez totalmente desconhecidos do público em geral. Por exemplo, o cloreto de neodímio é usado para não apenas para amplificar os sinais nos cabos de comunicação transatlânticos, mas também nos lasers que são usados nas cirurgias oculares ou na medicina dentária. O cloro gasoso ajuda a purificar o dióxido de titânio que é usado para fabricar as proteções contra as radiações dos astronautas na Estação Espacial Internacional.
A química do cloro é e será indispensável para a sustentabilidade. Pense-se, por exemplo, no hidrogénio que tem estado na ordem do dia. Acredito que muitos saibam que o hidrogénio pode desempenhar um papel importante para cumprir os objetivos da transição energética quando produzido por fontes de energia renovável. Mas talvez poucos saberão que o hidrogénio é um coproduto da produção de cloro.
Na mobilidade elétrica, o hidróxido de potássio é muito importante porque ajuda a conduzir a eletricidade para as baterias. Na iluminação pública das cidades, têm sido instaladas LEDs, mais amigas do ambiente por serem energicamente mais eficientes, cujos metais são tratados por soda cáustica. Na Europa, cerca de 40% da energia é canalizada para aquecer e arrefecer casas e edifícios. Esta percentagem pode ser reduzida graças ao poliuretano e ao PVC que utilizamos para isolar edifícios e habitações, representando a principal aplicação mundial do cloro, tornando-os mais eficientes termicamente e, consequentemente, mais amigos do ambiente.
O cloro e todos os seus compostos têm sido indispensáveis para a vida tal como a conhecemos. Enumerar todas as suas aplicações seria um exercício exaustivo e porventura fastidioso. Elenquei apenas alguns casos que considero importantes e interessantes. Importantes porque demonstram como o cloro e os seus compostos contribuem decisivamente para o bem-estar da humanidade – e interessantes porque evidenciam a sua aplicabilidade versátil, incluindo em ferramentas que são o reflexo do mais avançado progresso tecnológico.
No futuro, o cloro e os seus compostos vão seguramente continuar a desempenhar uma função importante no cumprimento dos objetivos da transição energética. Mais do que qualquer outro elemento natural, a história do cloro lembra-nos que a ciência é uma ferramenta poderosa ao serviço da humanidade.