O Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar, assinalado a 29 de setembro, coloca anualmente na agenda o desperdício alimentar, dando ênfase à quantidade de alimentos que todos os anos são desperdiçados pelos portugueses. Reduzir este desperdício exige uma ação coletiva para a qual estão convocados todos os elos da cadeia de abastecimento alimentar e que tem na sensibilização do consumidor um aspeto determinante.

O desperdício alimentar suscita sempre um debate mais ou menos vivo em torno das causas para esta realidade. Olhar para os dados reunidos por entidades independentes constitui o ponto de partida adequado para traçar um retrato desta realidade. De acordo com os dados do Eurostat, referentes à realidade da União Europeia em 2022, foram desperdiçados mais de 130 kg de alimentos por habitante, dos quais 54% acontecem nos agregados familiares, 11% no setor da restauração e serviços e 8% no setor do Retalho e Distribuição.

Embora o Retalho e Distribuição represente apenas 8% dos resíduos alimentares gerados a nível da UE e 11% a nível nacional, este setor, à semelhança de outros desígnios que tem assumido no plano da sustentabilidade, quer proactivamente acelerar no sentido de reduzir ainda mais o desperdício gerado nas suas operações e, dentro do seu alcance, influenciar positivamente fornecedores e clientes com a partilha de boas práticas a adotar na produção e na casa dos consumidores, respetivamente.

A jornada da Distribuição Alimentar no combate ao desperdício não começou agora. É um caminho que tem vindo a ser trilhado ao longo de anos. Diariamente as empresas associadas da APED procuram tornar a sua logística ainda mais eficiente, apostam na formação dos colaboradores e sensibilizam o consumidor, com mensagens, etiquetas ou “selos” que ajudam a interpretar e distinguir as diferentes indicações de durabilidade dos produtos, bem como conselhos para otimizar o consumo e reaproveitar alimentos e evitar desperdício em suas casas.

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A doação diária de excedentes alimentares a instituições sociais, que apoiam a população mais carenciada, é uma das faces visíveis do compromisso da Distribuição com a redução do desperdício alimentar. Em 2023, os associados da APED da Distribuição Alimentar contribuíram com a doação de mais de 24 mil toneladas de produtos alimentares de diferentes categorias. Esta conquista reflete o compromisso do setor em combater o desperdício alimentar, servindo, em paralelo, de exemplo de como é possível fazer a diferença no apoio às comunidades mais necessitadas.

De acordo com estimativas, em 2023 evitou-se o desperdício de mais de 26 mil toneladas de produtos alimentares que estavam prestes a atingir a data de validade, através de um circuito para facilitar o seu consumo em condições de segurança alimentar (por exemplo, através da identificação com etiqueta específica e depreciação do preço). Este valor corresponde a um total de 2.676 lojas abrangidas com esta medida.

Estes dados concretizam o contributo da Distribuição para o combate ao desperdício alimentar, mas queremos fazer ainda mais. Para isso, é essencial que os decisores nacionais participem neste esforço coletivo, com passos simples, mas decisivos.

É necessário descomplicar processos, flexibilizar restrições fiscais, fornecer orientações claras sobre a elegibilidade dos produtos alimentares e promover a capacitação das entidades recetoras. A concessão de apoios pelo Estado para o financiamento de equipamentos ou infraestruturas necessários ao acondicionamento e transporte dos produtos e a construção de um sistema de vantagens fiscais para voluntários e para empresas/organizações que queiram fazer as recolhas e a sua redistribuição pelas instituições beneficiárias são outras propostas que deveriam ser ponderadas.

Sensibilizar, simplificar e colaborar são verbos fundamentais para acelerar processos e ultrapassar constrangimentos rumo à maximização da doação de excedentes alimentares. É tempo de juntar esforços e vontades para continuar a fazer a diferença neste desígnio coletivo. No fundo, trata-se, como reconheceu muito recentemente o atual Ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, de valorizar a generosidade e não de a penalizar.