As arritmias são um problema cada vez maior, com destaque para a fibrilhação auricular, que é a mais comum, podendo atingir um em cada três adultos acima dos 55 anos e estando presente em mais de 10% da população com mais de 70 anos.
Este aumento poderá ser atribuído, por um lado, ao envelhecimento gradual das populações, que vão acumulando ao longo dos anos fatores de risco, como a hipertensão arterial, a diabetes, a obesidade e outras doenças que favorecem o aparecimento das diversas arritmias. Por outro lado, a maior capacidade de precisão faz com que os diagnósticos aumentem.
Progressivamente a comunidade médica tem vindo a reconhecer a gravidade das arritmias e procura activamente o seu diagnóstico através de vários exames de fácil acesso como electrocardiogramas, Holters e registadores de eventos. Ao mesmo tempo os próprios doentes estão mais atentos à saúde cardiovascular e dispõem de vários dispositivos de monitorização cardíaca, como os smartwatches, que têm a capacidade de identificar e registar essas mesmas arritmias.
É cada vez mais frequente os doentes recorrerem à consulta do cardiologista com o diagnóstico de uma arritmia realizado pelo seu relógio, que nem sempre corresponde à realidade. É por isso importante consultar um especialista para uma avaliação detalhada.
O diagnóstico da fibrilhação auricular é muito importante porque tem um grande impacto clínico nos doentes com esta patologia. Está associada à ocorrência de acidentes vasculares cerebrais – AVC, a vulgar “Trombose” que continua a ser a principal causa de morte em Portugal – assim como a hospitalizações por insuficiência cardíaca ou palpitações e também a uma maior mortalidade.
Esta arritmia caracteriza-se por uma ativação anormal e “caótica” do coração, que se sobrepõe ao ritmo cardíaco normal, condicionando batimentos cardíacos irregulares, habitualmente rápidos, e uma contração das aurículas do coração ineficaz – e daí o nome de fibrilhação auricular. Há uma maior probabilidade de se acumularem no coração pequenos coágulos ou “trombos” que depois podem migrar para a circulação sanguínea e originar os referidos AVC ou até os enfartes do miocárdio.
Deste modo, uma das principais prioridades do tratamento é calcular o risco de cada indivíduo e, caso seja elevado, iniciar o tratamento com medicamentos hipocoagulantes. É igualmente importante o tratamento dos fatores de risco e algumas das doenças associadas de que já falámos, como a hipertensão arterial, a obesidade, os diabetes, a insuficiência cardíaca e a apneia do sono, entre outras.
Para além destes tratamentos, devem instituir-se as terapêuticas para “controlar” a arritmia, idealmente para manter o ritmo cardíaco normal, que podem incluir a utilização de vários fármacos e a ablação da arritmia por cateter. É neste caso em particular que têm surgido as grandes inovações da terapia da fibrilhação auricular nos últimos anos, permitindo realizar procedimentos de uma forma mais rápida, fácil e segura.
Com os progressos tecnológicos verificados nesta técnica de ablação, esta tem demonstrado melhores resultados que os fármacos antiarrítmicos na redução de crises e da “carga” de arritmias dos doentes, melhorando significativamente a qualidade de vida.
Para um doente portador de uma arritmia é uma mais-valia um acompanhamento diferenciado, através de uma consulta especializada, onde se inclui uma equipa multidisciplinar.
Este tipo de acompanhamento engloba uma equipa com experiência na realização de Estudos Eletrofisiológicos e Ablação assim como na implantação e seguimento de dispositivos cardíacos implantados – pacemakers, cardiodesfibrilhadores – e que simultaneamente identifica e coordena o tratamento de todas as patologias associadas, fazendo a ponte com outras especialidades como a Medicina Interna, a Pneumologia, a Endocrinologia e a Nutrição, entre outras. Procurar uma consulta especializada com profissionais diferenciados nesta patologia, pode fazer a diferença para o seu coração.