O capitalismo é um sistema selvagem. É um regime brutal e desumano que permite que leopardos manhosos cacem e comam gazelas distraídas. Qual a solução para evitar esta crueldade, e exploração, dos animais pelos animais? É acabar com a selva[1] e por todos os animais num jardim zoológico a comer ração. Há vários tipos de grades no jardim zoológico que o socialismo está a construir. Uma delas é a regulação[2] económica: o seu objetivo é não deixar que leopardos sem escrúpulos abocanhem, vivas, gazelas desatentas.
Um exemplo de selva brutal é o setor pasteleiro, onde cada pastelaria faz pasteis de nata como quer e pratica os preços que lhe apetece. Atendendo à importância das pastelarias de bairro para a economia nacional e para o bem-estar das populações, impõe-se a introdução de um sistema regulatório que assegure o bom funcionamento da atividade, proteja os consumidores da concorrência desenfreada entre pastelarias e assegure a manutenção da confiança pelo público nas empresas do setor de modo a evitar riscos sistémicos nesta área fundamental do tecido económico.
E onde procurar um modelo regulatório mais adequado para a prossecução destes objetivos do que aquele que existe no setor bancário? É, pois, necessária a urgente introdução não só de um Fundo de Garantia Pasteleira, com o fim de assegurar a saúde digestiva aos clientes distraídos que comeram um pastel de nata saboroso mas afitoso[3], mas também de um Fundo de Resolução Pasteleira com o objetivo de garantir a saúde financeira a pastelarias que perderam a sua clientela devido às qualidades ou gustativas, ou diarréticas, dos seus produtos, para que possam continuar a servir a população, mesmo que seja com as mesmas receitas, com a mesma má fama e com os mesmos prejuízos.
Assim, com um esquema regulatório destes, qualquer pastelaria de bairro irá poder anunciar a venda de pasteis de nata delicatessen, inovadores e de baixo preço, feitos com ovos de qualidade vindos da China, e publicitados através de spots com jogadores de futebol famosos. Se tudo correr bem, os lucros ficam para os donos e o cachê para os jogadores de futebol. Mas, mesmo que corra mal, e que os pasteis de nata delicatessen inovadores se provem tóxicos e a pastelaria perca clientes e fique insolvente, o Fundo de Garantia Pasteleira assegurará que nenhum cliente intoxicado ficará sem tratamento de modo a poder vir repetir a experiência gastronómica na mesma loja; e o Fundo de Resolução Pasteleira permitirá que a empresa continue a funcionar, com uma nova gerência, uma nova firma e uma nova ganância, o que assegurará que pasteis de nata extra-delicatessen e ultra-inovadores poderão continuar a ser vendidos, com campanhas comerciais agressivas, assegurando assim uma continuada sã concorrência no mercado.
“E de onde virá o dinheiro para os dois fundos?” — poderá perguntar quem nunca teve o privilégio de ter sido educado para o socialismo. Virá, primeiro, das outras pastelarias. Daquelas que são sérias e responsáveis e que fazem pasteis com o sabor tradicional e com produtos frescos. E que sofrem da concorrência, digamos que inovadora, das outras. Virá, depois, quando o dinheiro nos fundos não chegar, dos nossos impostos.
O fim último da regulação é este: não permitir, através de um justo sistema de redistribuição[4], que cada agente económico sinta na pele, isto é, na sua carteira, os efeitos das suas decisões e ações. Este objetivo tem duas facetas. A primeira é não consentir que a concorrência desenfreada e selvática ponha fora de jogo os patifes[5]. A segunda é não deixar que as pessoas aprendam a ter cuidado na vida e que se habituem a ter cautela com potenciais patifes. E o que poderá ser mais justo que pôr os competentes e sérios a pagar os prejuízos dos aldrabões e prevaricadores? E os cautelosos e circunspetos a pagar os danos sofridos pelos distraídos e incautos? Assim se assegura que aldrabões e prevaricadores continuarão a fazer concorrência aos primeiros com produtos de qualidade duvidosa. Deste modo se garante que distraídos e incautos poderão continuar… distraídos e incautos. Mas qual é o problema de uma gazela ser distraída e incauta num jardim zoológico?
O contrário, permitir que os aldrabões caiam na bancarrota e que os irresponsáveis sejam responsabilizados, seria uma selva. Não é o objetivo do ecosocialismo[6] do psan terminar com a seleção natural e interromper a evolução das espécies?
Us avtores não segvem a graphya do nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nem a do antygo. Escreuem como qverem & lhes apetece.
[1] Selva: local de infindável tormento para os animais, especialmente os mais fracos, a que se contrapõe o estado social do jardim zoológico ou de uma sala num andar urbano; matagal de leis e regulamentos onde só advogados vivem em segurança.
[2] Regulação: o ato de regular e o estado de ser regulado; o seu objetivo é evitar o caos i impor ordem; o conceito foi introduzido no mundo da finança pelo Governador de Nova Iorque, DeWitt Clinton (1769—1828), ao afirmar perante uma assembleia legislativa, na sequência do pânico bancário de 1826, que “regulations are indispensably necessary” para evitar a repetição de crises no setor bancário; que a regulação impede crises é algo que tem sido amplamente confirmado pela experiência histórica desde então, especialmente em Nova Iorque.
[3] Afitoso: o que causa afito; aquilo que é bom para a saúde e proliferação do norovírus e promove a saudável escoação gástrica.
[4] Redistribuição: segundo Sofocleto Lactantius (fl. séc. 3 a.C.) são atividades redistributivas as seguintes: assalto, arrombamento, burla, confisco, concessão danosa de crédito, depredação, desfalque, desvio, esbulho, expropriação, extorsão & fiscalidade, fraude, furto & impostos, latrocínio & nacionalização, peculato, pilhagem, rapina, roubo, taxas municipais & audiovisuais, tarifas i tributação. Que esta última pertence legitimamente à categoria é-nos assegurado por François-Marie Arouet (1694—1778), um dos filósofos patronos de todos os warxistas deste mundo, venerado sob o nome de Voltaire. Relata-se que 1 dia, viajando com 1 grupo de amigos por uma floresta especialmente densa e tenebrosa, entraram n1a estalagem à beira do caminho. Para dissipar medos, à ceia combinaram contarem, 1 de cada vez, 1a história de salteadores. Quando chegou à sua vez Arouet começou: “Era uma vez um Diretor Geral das Contribuições e Impostos.” Tendo parado aqui os amigos instaram-no a prosseguir, ao que ele respondeu: “Esta é a história de salteadores que vos tinha para contar.” O Pe. Mário Centavo, no vol. 49 da sua Opera Omnia, distingue com a sua conhecida casuística, entre redistribuição voluntária, onde inclui o comércio, o mecenato e, imagine-se!, a esmola, e a redistribuição involuntária, ou imposta, em que nos remete para Sofocleto.
[5] Patife: um simpático homem de negócios; aquele que através de fraude tira a outrem o que este obteve por roubo.
[6] Ecosocialismo: o fruto do coito ideológico entre o socialismo e o ecologismo, entre o ps e (p)an[7].
[7] (p)an: o partido que põe as pessoas entre parêntesis; os parêntesis estão lá, mesmo quando não são visíveis.