A 12 de junho de 2009, Valença deixou oficialmente de ser uma vila para se tornar uma cidade, uma mudança que, na altura, foi vista por muitos como um marco de progresso. A elevação a cidade trouxe a promessa de maior visibilidade, novos investimentos e, sobretudo, novas oportunidades para a população local. No entanto, passados mais de 15 anos, a realidade apresenta-se diferente da esperada. Muitos valencianos questionam-se sobre os reais benefícios — e quem realmente beneficiou — desta transição. A elevação a cidade trouxe algo de verdadeiramente significativo para Valença ou acabou por ser mais simbólica do que prática?
O Potencial Não Concretizado
Quando Valença foi elevada a cidade, acreditava-se que a sua localização estratégica — entre centros urbanos como Porto e Braga, em Portugal, e Vigo, em Espanha — poderia facilitar o crescimento económico, particularmente em áreas como o turismo, o comércio e a indústria. A Fortaleza de Valença, um património histórico de grande valor internacional, também parecia ser um trunfo a ser ainda mais explorado para atrair turistas. A cidade tinha, de facto, muitos pontos a seu favor.
No entanto, a realidade acabou por ser diferente. Valença não conseguiu aproveitar essa localização privilegiada como um motor de crescimento. Em vez de se transformar num polo dinâmico de desenvolvimento, a cidade ficou estagnada, frequentemente descrita como uma “cidade fantasma”. O que contrasta fortemente com vilas vizinhas, como Ponte de Lima e Monção, que, sem alterar o seu estatuto de vila, conseguiram modernizar-se e evoluir de forma mais equilibrada. Isso levanta questões sobre as decisões estratégicas, sobretudo aquelas tomadas pela atual Autarquia Valenciana.
O Papel da Autarquia: Apostas Ganhas e Soluções em Falta
Embora Valença enfrente muitos desafios, não se pode ignorar que a anterior autarquia teve êxitos notáveis, especialmente no setor da educação. Durante o seu mandato, houve um investimento claro e eficaz na modernização das infraestruturas escolares e universitárias. As novas instalações escolares, tornaram-se num ponto de atração para muitos jovens estudantes que hoje veem Valença como um destino de qualidade para os seus estudos. Este investimento, fruto do esforço da anterior liderança autárquica, revela uma aposta bem-sucedida, demonstrando visão estratégica numa área fundamental para o desenvolvimento da cidade.
No entanto, em áreas mais ligadas à economia e à criação de emprego, as políticas da atual autarquia têm-se mostrado insuficientes, sendo que iniciaram funções com um bom folgo económico. Em vez de um foco claro no desenvolvimento de políticas públicas que possam atrair empresas e gerar empregos, assistimos a uma dependência excessiva de festas e eventos temporários. Embora estes eventos possam reforçar o espírito comunitário, não oferecem as soluções duradouras de que Valença tanto necessita e que estavam a ser implementadas. É urgente uma abordagem mais robusta, que vá além das iniciativas pontuais e que se concentre na criação de uma base económica estável e sustentável.
Ligação com Espanha: Oportunidades por Explorar
Um dos maiores trunfos de Valença é a sua posição fronteiriça com Espanha, e a cooperação transfronteiriça com Tui, oficializada em 2012, foi um passo importante para fortalecer essa relação. O Protocolo de Cooperação, assinado em Valença por Jorge Mendes, então Presidente do Município, e Moisés Rodríguez, Alcalde de Tui, representou uma oportunidade valiosa para o desenvolvimento conjunto de ambas as cidades. No entanto, não temos visto devidamente explorado o grande potencial desta Eurocidade.
Valença não deve ser apenas um ponto de passagem na fronteira, mas sim um eixo central para a cooperação económica e empresarial entre Portugal e Espanha. A criação de um centro empresarial transfronteiriço, com incentivos fiscais e infraestruturas de apoio, poderia atrair empresas de setores estratégicos como a tecnologia, logística e turismo sustentável. A proximidade com Porriño, um importante centro industrial espanhol, é um recurso que Valença poderia aproveitar melhor para promover o desenvolvimento empresarial.
Valença vs. Ponte de Lima e Monção: Comparações e Realidades
É comum fazer-se a comparação entre Valença e vilas vizinhas como Ponte de Lima e Monção, que mantiveram o seu estatuto de vila. No entanto, a realidade demográfica e económica é mais complexa do que aparenta. Apesar do maior número absoluto de habitantes em Ponte de Lima e Monção, Valença tem conseguido manter melhores taxas de retenção populacional nos últimos anos. Valença perdeu -1,1% da sua população nos últimos 10 anos, enquanto Monção e Ponte de Lima perderam -6,52% e -5,23%, respetivamente. Entre os jovens, Valença destaca-se positivamente, com uma perda de -6,98%, contrastando com os -8,57% de Monção e os -21,19% de Ponte de Lima.
Além disso, Valença apresenta uma densidade populacional de 117,8 habitantes por km², bastante próxima da de Ponte de Lima (128,5) e significativamente superior à de Monção (84,5). Estes números demonstram que, ao contrário do que algumas críticas sugerem, Valença tem conseguido manter-se numa trajetória equilibrada em termos de retenção populacional, algo que não pode ser negligenciado nos planos para o futuro.
O Que Falta para Valença Despertar?
A principal questão para Valença já não é ser vila ou cidade, mas sim como poderá aproveitar o seu potencial. Para isso, são necessárias soluções concretas e não apenas diretrizes genéricas.
Assim sendo, apresento algumas propostas:
Atração de investimentos – A criação de um centro empresarial transfronteiriço, com incentivos fiscais, para atrair empresas nos setores de tecnologia, logística e turismo sustentável.
Melhora das infraestruturas – Melhorar os transportes públicos e criar novas ligações com Espanha, aproveitando a localização estratégica para facilitar o comércio e a mobilidade.
Inovação no turismo – Diversificar a oferta turística além da Fortaleza, com experiências culturais e desportivas que atraiam diferentes públicos ao longo de todo o ano.
Retenção dos jovens – Criar incentivos ao empreendedorismo juvenil, facilitar o acesso à habitação e desenvolver um ecossistema inovador para que os jovens possam prosperar sem precisar de sair da cidade.
Em suma, a elevação de Valença a cidade, em 2009, representou uma oportunidade de progresso, mas grande parte do seu potencial ainda está por concretizar. A anterior autarquia mostrou uma visão clara ao investir na educação e infraestruturas, mas a atual gestão não tem conseguido dar continuidade a essa estratégia com políticas eficazes para o desenvolvimento económico. Valença tem todas as condições para prosperar, mas só o conseguirá com uma liderança que coloque o futuro da cidade acima das preocupações imediatistas e eleitorais. O seu futuro promissor depende de uma mudança urgente.”