De acordo com um ditado japonês “o que deves ao teu pai é maior do que a montanha e o que deves à tua mãe é mais profundo que o oceano”.
O relógio não para e eventualmente temos de encarar o facto que os nossos pais não são “super-humanos” mas meros humanos e adjacentemente, mortais. Irão envelhecer e nada nos prepara para vermos o seu corpo sucumbir à idade, as doenças inerentes à velhice a apoderarem-se e muitas vezes, a sua mente a perder a batalha. Quem cuidou de nós, aquele porto seguro, que tantas vezes levamos como garantido, precisa agora de nós. Os papéis invertem-se e, todas as tarefas e acções por eles praticadas durante a nossa infância são repetidas por nós, na sua velhice.
Muitos acabam em lares, por diversos motivos; outros não têm a quem recorrer e vivem sozinhos, lidando com as suas debilidades na sua solidão. Para outros, os filhos assumem a tarefa de cuidador e todos os desafios que acarreta.
Para mim, cuidar da minha mãe, devolver um pouco do tanto que me deu, não é apenas algo natural e expectável, mas sim uma honra. Há pessoas que são insubstituíveis e os nossos pais estão nesta categoria.
Ser cuidador requer colocar a nossa vida em segundo plano, lidar com situações para as quais não estamos preparados, ser humilde para reconhecer que não temos todas as respostas e adaptar as nossas acções a uma nova realidade, aprendendo durante o processo.
É um caminho um pouco solitário, com tantas emoções díspares misturadas, mas cuidar da pessoa que cuidou de mim, dar-lhe a mão nesta fase de necessidade como ela me deu a mim, apesar de todos os desafios, é absolutamente uma benção.
A parte psicológica é pesada, não só porque somos impotentes para apaziguar as dores que sentem ou a tristeza por não serem o que eram. Tantas vezes se tem-se como um estorvo e embora lhe digamos que não o são, os seus olhos enchem-se de lágrimas.
O facto de sabermos que o relógio não pára e eventualmente chegará o dia em que tudo mudará, deixa um nó na garganta e sabermos que provavelmente seremos nós a constatar tal facto, deixa-nos petrificados. Quantas vezes vamos, tal como eles fizeram connosco, ao seu quarto para ver se estão bem, se estão a respirar?
A sua perda causará um vazio que nunca poderá ser preenchido. Há momentos em que, por meros segundos, o meu pai ainda cá está mas a realidade rapidamente toma posse e recordo-me que já partiu. É algo que ainda acontece, mesmo anos depois.
Portanto, para todos que ainda têm os vossos pais, liguem-lhes, visitem-nos, criem memórias com eles. Na sua velhice os nossos pais precisam de nós, de serem relembrados do seu valor e de sentirem que são importantes. E cabe-nos agora a nós sermos o seu porto seguro.