Portugal é um país de empreendedores. Ainda não se sabia dizer “startup” e já existiam milhares de Pequenas e Médias Empresas (PMEs) em Portugal. A qualidade de vida, o acesso a infraestruturas, a força de trabalho qualificada e o próprio posicionamento das diferentes cidades tem vindo a incentivar os locais e atraído os investidores internacionais. Não é de agora, uma vez que este espírito irreverente se revelou ainda na primeira década do milénio, mas especialmente a partir da crise de 2008. A tendência tem-se intensificado, com o talento a reunir-se cada vez mais neste ‘canto’ da Europa.

Mas, se o ecossistema nacional de empreendedorismo está em construção há mais de 15 anos, criando um cenário fértil para o surgimento de serviços e produtos dedicados a este segmento do tecido empresarial nacional, porque é que tantos anos depois ainda não vemos esta oferta?

A jornada de quem decide criar o seu próprio negócio – seja uma empresa ou em regime freelancer – é muito desafiante: a pressão psicológica de estar dependente de si mesmo para obter os rendimentos e de começar a ficar responsável por pagar o salário de terceiros; a exigência de deter o conhecimento necessário para cumprir todos os requisitos legais e burocráticos associados à atividade; a capacidade de gerir fornecedores, clientes e equipa, entre muitos outros. Até nos esquecemos destes desafios quando olhamos para o número: já são mais 2 milhões de PMEs e freelancers em Portugal que superaram e continuam a superar diariamente as barreiras administrativas e burocráticas.

É, por isso, essencial e cada vez mais urgente que os atuais e os futuros corajosos que decidam dar este passo sejam acompanhados durante todo o seu percurso: os mais novos para que não tenham de passar pelos mesmos e já reconhecidos desafios do processo; e os mais experientes para que tenham finalmente o apoio administrativo e financeiro que necessitam para se focarem exclusivamente na sua atividade e prosperarem.

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A barreira começa logo no momento de abertura de uma conta empresarial. Não há oferta no mercado de uma experiência 100% digital e rápida. O processo acaba por demorar, habitualmente, entre uma a quatro semanas, sendo necessário recorrer a locais físicos, o que é moroso e desconfortável – na verdade, 73% dos empreendedores diz que não é fácil abrir uma conta na Europa. Se mencionarmos o acesso a crédito ou a invoice factoring, o cenário torna-se ainda mais negro.

Em simultâneo, não há soluções de gestão financeira para este segmento de empresas. Os sistemas utilizados para faturação, gestão e acesso à conta empresarial estão dispersos, sem integração, e necessitam de configurações manuais. Há ainda a complexa camada legal que, quando se incorre em incumprimento, pode ser altamente danosa para a empresa, em especial financeiramente. Com a simplificação dos processos burocráticos, os empresários terão mais tempo e poder de raciocínio para procurar oportunidades de benefícios e financiamento que estão previstas e nas quais estas organizações se podem enquadrar.

Ironicamente, num país de empreendedores, ser-se um não é uma missão facilmente acessível a todos. Para se ser dono do seu próprio negócio é preciso mais do que vontade, é necessária uma grande resiliência e inteligência. A inovação deve estar ao seu serviço, destruindo todas estas barreiras e abrindo caminho para negócios mais prósperos e sustentáveis. Só assim se pode desbloquear o verdadeiro potencial de Portugal.